Ao se desfazer dessas pendências, a empresa pode focar no seu core business, eventualmente desinvestindo na própria cobrança e na recuperação desses recursos
Autor: Marcel Souza
A sigla em inglês EBITDA já é bastante conhecida pelos investidores das bolsas de valores: Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization. Na tradução para o português, significa a análise dos lucros de uma organização antes de juros, impostos, depreciação e amortização. Trata-se de um cálculo que avalia o desempenho anual de uma empresa.
Além da comercialização de produtos ou serviços ao longo do ano, outras variáveis pesam no balanço das companhias, como a necessidade de adquirir empréstimos para obter capital de giro, o pagamento de juros, folha de pagamento, entre outras despesas que compõem o DRE e afetam seu lucro líquido. Esses índices irão tornar aquela empresa mais ou menos atrativa para possíveis investidores.
A negociação de créditos inadimplentes pode ter um impacto positivo no EBITDA das empresas, principalmente num ano de margens mais apertadas, melhorando as linhas de provisão para devedores duvidosas (PDD) ou provisão para créditos de liquidação duvidosa (PCLD) e recuperação de créditos em prejuízo. Números ruins neste conjunto podem comprometer tanto a negociação de venda de uma corporação como a oportunidade de receber novos investimentos para fomentar o negócio.
No caso das provisões para perdas, quando uma empresa possui créditos inadimplentes, paulatinamente ela começa a provisionar uma parte da perda no balanço, diminuindo o seu resultado. Para mitigar essas perdas, ela pode optar por negociar esses créditos para terceiros, ainda que com um valor abaixo do montante original, mas acima do valor já provisionado. Desta forma, a venda resultará em ganho para a empresa, pois ela recebe menos do que o valor nominal dos créditos, mas tem um saldo positivo na reversão e este efeito flui integralmente para o EBITDA.
Já no caso de créditos em prejuízo, contabilmente qualquer recebimento gerará impacto positivo no EBITDA. Se a empresa conseguir recuperar parte dos valores dos créditos inadimplentes, esses valores recuperados serão reconhecidos como receita operacional na demonstração de resultados, aumentando o lucro líquido e impactando positivamente o EBITDA.
Vale lembrar que, de acordo o último levantamento realizado pela Confederação Nacional dos Lojistas (CNDL), 66 milhões de brasileiros têm dívidas em atraso. A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) sinalizou que cerca de 44% dos consumidores estão com alguma dívida em atraso por mais de 90 dias. Isso sem contar a inadimplência entre empresas, que também estão em nível extremamente elevados. Esta combinação acaba sendo muito ruim ao longo do tempo para as empresas, a ponto de tornar as operações insustentáveis. Já temos níveis recordes de pedidos de recuperação judicial de empresas, pois as mesmas não têm caixa para honrar seus compromissos.
Vantagens na venda de créditos
A venda de uma carteira de créditos inadimplentes pode ter vantagens consideráveis para as organizações. Ao negociar os créditos inadimplentes, a empresa transfere o risco de não receber os pagamentos para o comprador. Isso permite que a empresa evite o risco de perdas adicionais associadas à inadimplência.
A venda dos créditos inadimplentes pode gerar fluxo de caixa imediato para a empresa. Em vez de esperar pelos pagamentos dos devedores, a empresa recebe um valor fixo na transação de venda, o que pode ajudar nas necessidades de capital de giro ou em investimentos futuros. E carteiras predominantemente em dia também podem ser negociadas com objetivo de antecipação de recebíveis, dando liquidez a uma ativo não líquido.
Voltando aos inadimplentes, também é possível destacar o papel de gatilho para uso de benefício fiscal decorrente das perdas, a depender do tempo de atraso para cada tipo de crédito cedido.
Ao se desfazer dos créditos inadimplentes, a empresa pode se concentrar em suas principais atividades comerciais e focar no seu core business, eventualmente desinvestindo na própria cobrança e na recuperação desses créditos. Isso permite que a empresa direcione seus recursos e esforços para áreas mais estratégicas do negócio.
É importante ressaltar que o EBITDA não é o único indicador para se avaliar o desempenho de uma empresa. Portanto, embora a negociação de créditos inadimplentes possa afetar o EBITDA, é necessário avaliar outros indicadores financeiros e contábeis para obter uma visão completa do desempenho financeiro da mesma.
Marcel Souza é diretor comercial da DebitumX.