Na última semana de agosto, foi discutida no Senado a legalidade do score de crédito – sistema que funciona como uma espécie de pontuação de crédito, usada pelas financeiras para medir o risco que correm ao conceder crédito para uma determinada pessoa. Enquanto algumas pessoas acreditam que o uso da ferramenta prejudica o consumidor, tem quem defenda que essa é uma maneira de proteger o mercado financeiro, como é o caso de Tharcisio Souza Santos, diretor do MBA da Faap. “Acredito que se o STJ achar que essa é uma ferramenta ilegal será lamentável, porque mais uma vez é uma interpretação errada de um sistema que é usado mundialmente. O score de crédito é um sistema bem conhecido e tem a vantagem de identificar os fatores-chave que vão determinar a probabilidade de default (calote).”
Segundo Santos, as políticas de governo estimularam um excesso de facilidade para crédito e isso resultou na inadimplência. Para ele, é preciso enxergar o banco como um intermediário que está reduzindo os riscos e que não se trata de um constrangimento e apenas uma consulta de informações para indicar a probabilidade de default que cada consumidor apresenta. “Estamos agora, exatamente, no ‘dia da ressaca’. Quer dizer, no dia em que a inadimplência aumentou. As pessoas ficam preocupadas em achar que a culpa disso seria do sistema que foi usado, porque isso é uma restrição à liberdade do cidadão. Acredito que todo mundo que está ’emprestando’, está correndo um risco e precisa tentar minimizar esse risco”, esclarece.
O professor diz enxergar o crédito e o risco como duas coisas indissolúveis. “São duas faces da mesma moeda”, comenta. De acordo com ele, ninguém que queira pedir crédito a outro alguém pode ignorar o fato de que representa um risco para quem está concedendo crédito. “Eu nunca vi ninguém conceder crédito, sem considerar a hipótese de default. Existe alguém que imagine que uma instituição financeira seja uma instituição de caridade cujo objetivo é dar dinheiro gratuitamente para as pessoas sem receber nada em troca e arcar com o default calmamente?”, indaga.
No entanto, o professor acredita que mesmo que o uso do score de crédito seja considerado uma prática ilegal pelo Supremo Tribunal de Justiça, isso não deve ter um impacto tão negativo para o sistema financeiro, mas deve prejudicar, de certa forma, a agilidade na concessão do crédito. “Isso não será o fim do mundo. As instituições financeiras vão procurar alternativas. O que vai piorar é a qualidade da análise do primeiro momento até que você consiga aperfeiçoar os fatores”, afirma.