Uma notícia que causou surpresa: desde o começo do Plano Real (1994), o mercado de crédito imobiliário teve seu melhor desempenho no primeiro semestre deste ano, de acordo com último levantamento feito pela Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança, Abecip. Ao total foram desembolsados R$49,6 bilhões em empréstimos com recursos da poupança. A alta propicia um cenário otimista às companhias do setor, porém é necessário avaliar as duas facetas da questão.
De acordo com Phelipe Alvarez, diretor comercial e de marketing da Intervalor, no 1º semestre de 2013, os índices de concessão de crédito imobiliário foram muito superiores às expectativas dos bancos, algo que ele encara com otimismo. “Nos próximos meses, o cenário tende a se manter positivo, inclusive devido a taxas e prazos atrativos impulsionados inclusive pela concorrência entre as instituições financeiras”, diz. “O lançamento de uma grande quantidade de novos empreendimentos imobiliários também deve favorecer o panorama”, completa. Para o executivo, o aumento na captação da poupança, o aumento da renda e programas de incentivo como o Minha Casa Minha Vida, são os responsáveis pela alta do setor.
A expansão também se deve às políticas mais enérgicas dos bancos públicos e dos estímulos fiscais concedidos ao setor, como avalia o economista da Associação Comercial de São Paulo, Marcel Solimeo. “O crédito imobiliário vem apresentando maior taxa de crescimento do que as demais modalidades e esta deve ser a tendência para o próximo ano. Além de ser um crédito com garantia há um grande empenho do governo na expansão da habitação”, explica.
Expectativas
Prioridade para a Caixa Econômica Federal, o segmento habitacional ganhou maior fôlego neste primeiro semestre. De acordo com diretor de habitação da instituição, a expectativa, em termos de volume aplicado, é de um crescimento de 22%, indo dos R$ 106,7 bilhões aplicados em 2012 para R$ 130,2 bilhões em 2013. “Em termos gerais, acreditamos que o mercado total de crédito imobiliário deverá crescer entre 20% e 25%”, afirma.
Mitigando os riscos
Com a alta do setor de crédito imobiliário, surge o fantasma da inadimplência, como antecipa Alvarez. “Com o crescimento da concessão do crédito imobiliário, consequentemente a inadimplência tende aumentar, visto que atualmente o crédito imobiliário é um dos principais responsáveis pelo comprometimento da renda” aponta. Entretanto, como lembra o executivo, o pagamento das parcelas da casa própria é umas das prioridades das famílias, uma equação que deve ser balanceada.
Mesmo se tratando de um crédito com garantia real, como lembra Solimeo, o que pode facilitar a recuperação, como a grande expansão vem se dando nas faixas de renda mais baixas da população, “é um segmento bastante sensível na defesa do devedor, o que exige políticas de recuperação de crédito muito bem elaboradas. É um mercado em expansão, mas com características específicas que não podem ser ignoradas”, afirma.
Confira as entrevistas com os especialistas:
Com o setor aquecido, se faz necessário o balanço entre financiamento e inadimplência
A alta do segmento de crédito imobiliário evidencia o uso de políticas de recuperação de crédito mais elaboradas