Após analisar qualitativamente mais de 3 mil comentários, Orbit Data Science aponta que 76% dos pais não sabem do que se tratam os dix
Um novo estudo da Orbit Data Science revela que a geração Z está ressignificando a forma de se relacionar no ambiente digital. Jovens entre 12 e 27 anos vêm adotando cada vez mais o dix – termo usado para descrever contas secundárias e privadas nas redes sociais – como uma alternativa à superexposição e ao ambiente muitas vezes hostil das plataformas abertas. Foram analisadas qualitativamente 3.024 publicações feitas entre 1o de janeiro e 24 de junho deste ano.
O conceito, antes restrito a círculos de adolescentes e jovens adultos, passou a ganhar atenção de famílias, educadores e imprensa. Na prática, o dix funciona como um “refúgio digital” no qual o usuário controla exatamente quem pode ver suas postagens, criando uma espécie de área VIP para interações mais íntimas e genuínas. A popularização do formato revela um movimento mais amplo de catracalização das redes sociais, no qual o valor não está na audiência massiva, mas na proximidade real. Ou seja: perfis privados, conexões mais reais.
O debate sobre o dix é impulsionado por dois grupos principais: a própria geração Z, que vive e molda esse comportamento (62%), e os pais/tutores, que reagem ao fenômeno a partir de suas preocupações ou experiências passadas (38%). Sendo que, entre os pais, 76% não sabem o que é exatamente o dix, embora se preocupem com a questão da segurança nas redes, enquanto 24% indicam saber bem do que se trata.
A pesquisa identificou que enquanto a prioridade da geração Z é preservar a autonomia sobre o que compartilha, para os pais o foco é proteger a segurança dos filhos. “O dix é mais do que um modismo digital, e revela a necessidade dos mais jovens de criação de espaços seguros onde a interação é controlada e selecionada. É a catracalização das redes sociais como resposta à superexposição”, explicou Kaio Sobreira, head de pesquisa da Orbit Data Science.
Entre os principais motivos que os jovens justificam para a migração para perfis estão autonomia e controle do público (8,3%), destacando a possibilidade de escolher quem vê o conteúdo e criar um ambiente mais seguro. Em seguida, “comunidade restrita e pertencimento” (4,8%), valorizando vínculos mais próximos e interação apenas com amigos de confiança. Já 0,8% apontaram “reação contra a superexposição”, migrando para perfis privados como forma de evitar a pressão de exposição constante nas redes sociais.
Entre os principais motivos que ilustram as opiniões parentais, 15% deles indicam que, mesmo atentos aos riscos, incentivam espaços fechados para preservar a intimidade dos filhos. Percentual semelhante cita a falta de supervisão como principal preocupação, um risco para a segurança e o bem-estar dos filhos no ambiente digital. Já 14% dos pais também possuem contas privadas Para 9,5% dos tutores a privacidade é essencial no desenvolvimento dos mais jovens. Por fim, 7,5% dos pais manifestam se preocupar com a “fuga” dos mais jovens para ambientes mais privados, e citam a falta de aceitação como um problema geracional.
O dix também é chamado de “pvt/pdv” (de “private”, em inglês, ou “privado”), “daily”, “close friends”, “fake” ou “off”, porém a grande variação de nomes não representa mudanças de formato. “O termo ‘dix’ pode perder força entre os mais novos, mas o comportamento de criar espaços fechados e curados permanece. É a reinterpretação contemporânea de dinâmicas de grupo que sempre existiram”, complementou Sobreira.
Do ponto de vista das marcas e organizações, o estudo sugere cautela. A presença de empresas e campanhas publicitárias em ambientes como o dix pode ser percebida como invasiva e contraproducente, já que a motivação inicial desses espaços é justamente reduzir a pressão e a exposição pública. Isso impõe um desafio para o marketing voltado à geração Z: como criar conexões legítimas em um cenário que privilegia vínculos autênticos e de confiança?
Outro ponto relevante é que o dix está emergindo em um contexto de saturação das redes sociais tradicionais. A pesquisa mostra que a geração Z, exposta desde cedo à hiperconexão, já percebe sinais de fadiga digital. Ao optar por espaços mais restritos, esses jovens buscam recuperar o controle sobre a narrativa de sua própria vida online, criando um equilíbrio entre presença social e preservação da intimidade.
Finalmente, a pesquisa reforça que compreender o dix é compreender uma mudança mais ampla nas expectativas de interação on-line. Trata-se de um sintoma e, ao mesmo tempo, de uma solução encontrada pela geração Z para lidar com questões de privacidade, autenticidade e controle em um ambiente digital cada vez mais aberto e competitivo.
Para educadores, pais e empresas, acompanhar essa transformação não é apenas uma questão de curiosidade, mas uma necessidade para estabelecer diálogos e estratégias mais efetivas com esse público. Segundo o head, o fenômeno reflete mudanças mais amplas no comportamento on-line: “O dix é um sinal de que os jovens estão moldando ativamente seus próprios espaços digitais. Eles querem interações mais genuínas e privadas, e isso desafia tanto a forma como as redes funcionam quanto o modo como pais e educadores entendem a socialização on-line”.
O estudo utilizou a metodologia proprietária da Orbit, combinando análise de redes sociais, processamento de linguagem natural e grupos de discussão on-line para mapear percepções, comportamentos e motivações da geração Z em relação ao dix.