Com a renda estagnada, 52% dos consumidores passaram a tirar itens do carrinho e 44% trocaram marcas por opções mais baratas, aponta pesquisa da Hibou
A inflação que escapa dos índices oficiais, o dinheiro que já não fecha o mês e uma rotina de renúncias: esse é o cenário econômico vivido pelos brasileiros em 2025, de acordo com a nova edição da pesquisa “O Bolso do Brasileiro”, da Hibou. O levantamento traça um retrato detalhado de como o consumo está se redesenhando em meio ao aperto financeiro — com alta no endividamento, cortes no carrinho de compras, trocas de marcas, contas em atraso e escolhas difíceis no dia a dia. Os dados revelam um consumidor pressionado que segue se adaptando para sobreviver à escalada do custo de vida.
A percepção da inflação é um dos principais destaques da pesquisa: 78% dos brasileiros acreditam que os preços subiram mais do que os índices divulgados pelo governo. Apenas 20% dizem sentir a inflação no mesmo ritmo da oficial, e apenas 2% acreditam que os preços subiram menos. Isso escancara o descompasso entre a realidade sentida na rotina e os números macroeconômicos. “A inflação real, para o consumidor, não está nos relatórios, mas no carrinho do supermercado e nos boletos acumulados. A perda de poder de compra é o que define o humor da economia popular”, afirmou Lígia Mello, CSO da Hibou.
Cartão de crédito sustenta o consumo, mas amplia o rombo
A dificuldade em manter as contas básicas tem levado muitos brasileiros ao crédito rotativo: 33% relatam que os gastos no cartão aumentaram no primeiro trimestre de 2025. Esse crescimento está diretamente ligado ao aumento do endividamento: 21% dizem estar mais endividados do que no início do ano, enquanto 35% seguem no mesmo nível. Apenas 16% conseguiram reduzir suas dívidas, e 28% afirmam não estar endividados.
Além disso, um dos dados mais alarmantes é que 49% dos lares brasileiros têm alguma conta em atraso. As mais comuns são o próprio cartão de crédito (56%), seguidas por contas de luz e água (28%), boletos em atraso (26%), empréstimos (21%), cheque especial (18%), impostos como IPTU (13%) e IPVA (11%), e até aluguel (2%).
Renda estagnada e novos bicos para compensar
O retrato de 2025 até aqui mostra que 32% dos brasileiros tiveram nova redução de renda neste ano, e 30% afirmam que tudo segue igual — sem piora, mas também sem melhora. Para 12%, alguém em casa perdeu o emprego no último ano. Outras estratégias para complementar a renda surgem: 11% dizem que alguém de casa passou a fazer bicos, 4% voltaram ao regime CLT, e apenas 7% conseguiram de fato aumentar a renda familiar. Uma minoria, 2%, diz ter mudado de casa para economizar no aluguel e 2% fechou o próprio negócio no último ano.
Frente a essa combinação de inflação percebida e renda travada, o consumidor tem feito cortes profundos no dia a dia. O estudo aponta que 52% deixaram de colocar alguns itens no carrinho, 48% diminuíram quantidades ou volumes comprados, e 44% trocaram marcas ou cortes por opções mais baratas. O impacto chega até aos serviços: 35% deixaram de ir ao salão de beleza ou manicure, 21% cancelaram assinaturas de streaming ou revistas , 11% venderam objetos usados para levantar dinheiro, e 9% reduziram a frequência de faxineira ou diarista. Em casos extremos, 1% mudou os filhos de escola por causa das finanças.
“O que mais assusta nestes números é que desde 2021 o brasileiro vem reduzindo ou mudando seu carrinho de compras para caber no dinheiro do mês, porém o movimento agora é muito maior. É um eterno ajuste, mas que está comprometendo radicalmente a qualidade de vida do brasileiro. Hoje, a população come muito menos nutrientes do que nos anos anteriores, porque tudo está mais caro, e isso é alarmante.”, destacou Lígia
Carne, combustível e remédios são os que mais pesam no bolso
A pesquisa também revelou quais itens da rotina doméstica mais pressionam o orçamento dos brasileiros. Carne lidera com 43% das menções, seguida por combustível (32%), medicamentos (30%), café e similares (27%), e plano de saúde (25%). Itens básicos como cesta básica (19%), ovos (16%), frutas (13%), legumes (10%), laticínios e grãos (8%) também estão na lista, o que reforça que o impacto atinge a base da alimentação e dos cuidados pessoais dos brasileiros.
Consumidor mais atento
Diante da necessidade, a forma de comprar também mudou. 92% dos entrevistados comparam preços antes de fechar uma compra, e 37% fracionam suas compras ao longo do mês em diferentes mercados, justamente para aproveitar as melhores ofertas. Outros 26% dividem as compras em dois supermercados diferentes, e 30% preferem um único local, mas ficam atentos às marcas com melhor custo-benefício. O hábito de fidelidade à marca ou à loja deu lugar à estratégia pura.
“O consumidor por necessidade está mais estratégico, analítico e atento, e consequentemente também mais exausto. A criatividade frente ao desafio econômico tem sido essencial para contornar os desafios econômicos, e isso reflete em todos os aspectos do consumo no país”, concluiu a executiva.