Mais do que um benefício, a mobilidade corporativa tornou-se uma ferramenta de engajamento e retenção
Autor: Antonio Carlos Gonçalves
Quando falamos em mobilidade corporativa, não estamos apenas tratando do transporte de colaboradores. Estamos falando de um componente estratégico que impacta diretamente a experiência do cliente interno, a qualidade de vida no trabalho e, em última instância, o desempenho das empresas. À medida que a tecnologia e o comportamento organizacional evoluem, a mobilidade também assume um novo papel dentro das corporações.
A transformação digital tem sido protagonista nesse cenário. Soluções baseadas em dados e inteligência artificial permitem compreender as necessidades específicas de cada colaborador, personalizando rotas, horários e tipos de serviço. Essa inteligência aplicada não apenas aprimora a jornada diária dos usuários, como também gera eficiência operacional, reduzindo custos e otimizando recursos — um ganho concreto para as áreas de RH, facilities e gestão estratégica. Para o RH, em particular, essa otimização representa um passo fundamental para um modelo de atuação mais estratégico, liberando tempo e recursos que antes eram dedicados a tarefas operacionais.
O que antes era um processo manual e sujeito a incertezas, hoje caminha para ser totalmente digitalizado, com monitoramento em tempo real e ajustes dinâmicos. Colaboradores conseguem saber onde está o transporte, eceber notificações em tempo real e confiar que o trajeto será o mais eficiente e seguro possível. Tudo isso contribui diretamente para uma jornada do colaborador mais fluida, integrada e positiva.
Outro aspecto fundamental é a sustentabilidade. Empresas que priorizam a otimização de rotas, a redução da frota e o uso de veículos mais sustentáveis estão alinhadas não apenas às melhores práticas de governança ambiental, mas também às expectativas de seus talentos — especialmente das novas gerações. Nesse sentido, práticas alinhadas a critérios ESG (Environmental, Social and Governance) vêm ganhando peso na escolha de parceiros e na construção de marcas empregadoras fortes e responsáveis.
Com o crescimento do modelo híbrido de trabalho, a mobilidade corporativa precisa ser repensada sob a ótica da flexibilidade. Já não se trata de oferecer soluções fixas, mas sim adaptáveis, com alternativas como o fretamento compartilhado e o conceito de Mobility as a Service (MaaS), que integra diferentes modais de transporte em um único sistema. Essa abordagem sob medida fortalece a percepção de cuidado por parte da empresa, ao mesmo tempo em que oferece ganhos logísticos e operacionais.
Mais do que um benefício, a mobilidade corporativa tornou-se uma ferramenta de engajamento e retenção. Um transporte eficiente, confortável e confiável reduz o estresse diário, melhora a qualidade de vida e impacta diretamente na produtividade. Colaboradores mais satisfeitos se tornam mais engajados — e, portanto, mais leais. É nesse ponto que o RH se destaca, transformando a mobilidade em um pilar para um ambiente de trabalho mais humano e produtivo.
Dados recentes mostram que o tempo médio de deslocamento dos brasileiros para o trabalho é significativo e impacta diretamente a qualidade de vida e a produtividade. Em grandes centros urbanos, 36% dos trabalhadores passam mais de uma hora por dia no trânsito, sendo que 8% gastam mais de três horas diárias nesse deslocamento. No Rio de Janeiro, por exemplo, o tempo médio por trajeto é de 58 minutos, o maior do país, e 11% dos usuários de transporte público perdem duas horas ou mais em cada viagem, totalizando até quatro horas diárias de deslocamento. Essa realidade evidencia a urgência de soluções de mobilidade corporativa que otimizem o tempo e reduzam o desgaste dos colaboradores, permitindo que o RH se posicione como um agente de transformação estratégica na vida dos funcionários.
As empresas que tratam a mobilidade como parte da estratégia de experiência do cliente interno estão um passo à frente. Elas compreendem que a excelência começa dentro de casa, e que cada interação, inclusive o deslocamento, faz parte da construção de uma cultura forte, humana e orientada à experiência. Esse olhar inovador é essencial para um RH verdadeiramente estratégico, que atua proativamente na gestão do bem-estar e da performance, distanciando-se de um papel meramente operacional.
Pensar no futuro da mobilidade corporativa é, acima de tudo, pensar em pessoas. E é nesse ponto de convergência entre tecnologia, sustentabilidade e empatia que reside a próxima grande vantagem competitiva das organizações, impulsionando um RH mais estratégico e focado na inovação.
Antonio Carlos Gonçalves é CEO e cofundador do Fretadão.