Os momentos de crise como os que estamos vivenciando na Parmalat e na Garoto são verdadeiros xeque-mates aos funcionários das corporações envolvidas. Cercados de incertezas, esses profissionais são postos à prova sobre sua fidelidade em permanecer na empresa até que a crise seja resolvida. Mas será que vale a pena esperar para ver o que vai acontecer?
As pessoas são resistentes e capazes de lidar com as dificuldades e os desafios das novas realidades. O ponto principal é que elas estejam informadas sobre tudo o que envolve a crise pela qual a empresa está passando, sendo atualizada de cada passo para que possam se adaptar. Este é justamente o fator que não acontece dentro das corporações.
Geralmente a empresa só revela uma parcial do fato, com medo do abandono proveniente do desespero de seus funcionários. Porém, se os acontecimentos não forem revelados naturalmente, serão feitos de outra forma, assim como no caso Parmalat em que os funcionários ficaram sabendo do afastamento do presidente da empresa, Ricardo Gonçalves, pelos noticiários da televisão. A conseqüência disso é a desconfiança que é gerada entre os funcionários e os diretores e presidentes das empresas, firmando ainda mais o sentimento de incertezas nos profissionais, prejudicando, conseqüentemente, o andamento da empresa durante o período de crise.
Dr. Stephen Covey, autor do best-seller internacional Vivendo os 7 Hábitos, conta em sua publicação a história de uma empresa que estava prestes a encerrar suas atividades e que conseguiu permanecer em harmonia com seus funcionários adotando a ética de esclarecer os acontecimentos passo a passo, conforme fossem acontecendo. Um exemplo que deve ser seguido pelas corporações para que, enquanto a empresa estiver funcionando, os empregados continuem empenhados em realizar seu trabalho, sabendo das incertezas de seu futuro, porém respeitando a organização que um dia os acolheu e que pode se reerguer no futuro, mantendo a confiança ao recontratá-los.
Trata-se de uma empresa que fechou suas portas em uma cidade pequena. Diante da situação, pessoas não apenas perderam seus empregos, mas tiveram de realocar seus lares e suas famílias. O pessoal da imprensa ficou sabendo que haveria uma espécie de encontro de despedida entre eles. Achando que o caso atrairia a atenção pública e causaria polêmica, e achando que seria um furo nacional, uma porção de repórteres apareceu no encontro. Porém, tudo o que encontraram foi um grupo de amigos reunidos em uma festa de despedida sem nenhum tipo de protesto. Apesar da tristeza, todos estavam esperançosos. O nível de confiança era alto e todos sabiam que a solução sinérgica fora apropriada. Os princípios corretos haviam sido seguidos desde o início. As alternativas haviam sido estudadas, até mesmo uma troca de empregador, mas, por fim, concluíram que toda a empresa estava obsoleta e que não haveria como ela se recuperar. Grandes esforços foram empregados para ajudar as pessoas a lidar com suas preocupações a respeito do emprego, da família e da mudança de escola dos filhos. Foram dados aconselhamentos, providenciados novos empregos e, a despeito das dificuldades e do deslocamento, o espírito de confiança prevaleceu.
Paulo Kretly é consultor e presidente da FranklinCovey Brasil, empresa especializada em Motivação, Liderança e Gerenciamento de Tempo.