Acredito que a inclusão digital deve ser vista como uma máquina do tempo para nosso país. Explico: estamos há 20/30 anos atrasados em Educação nesse país, se considerarmos o resto do mundo desenvolvido. E sabemos todos que sem educação não há desenvolvimento; sem educação não há igualdade social. Educação é competitividade – individual, empresarial e nacional.
A Tecnologia é, por definição e por constatação, um meio; não é fim. Como meio, pode e deve ser usada para promover a evolução das estruturas de suporte e operações do país. E aí entra a Educação. Usar tecnologia (a Internet, por exemplo) para incluir brasileiros como cidadãos no mundo da informação, na Era do Conhecimento, vai nos economizar pelo menos 10 anos em nosso gap educacional em relação ao resto do mundo. Isso quer dizer economia de tempo, dinheiro… quer dizer auto-estima, consumo, desenvolvimento, melhores índices sociais.
Não se pode pensar em um país forte sem Conhecimento de valor e sem Tecnologia como ativo estratégico. O Brasil precisa de ambos. Onde estão nossos planos de médio-longo prazo, considerando Competição por Conhecimento (exportação, inclusive) e investimentos em Tecnologia? Sem estes dois pontos não chegaremos a lugar algum.
O primeiro passo para a inclusão digital deveria ser a formulação de uma política real e mensurável – qualitativa e quantitativamente – de inclusão empresarial (micro, pequenas e médias empresas, que juntas concentram mais de 80% de nossa força de trabalho). Só aí teríamos quase 60 milhões de brasileiros incluídos por efeito dominó (3,5 vezes mais do que temos hoje). Mas falta visão, financiamento, senso de urgência e parceria entre os setores privado, público e ONGs no que tange à essa questão.
Entendo que inclusão digital é um esforço tripartite, do Governo, das empresas (via inclusão empresarial) e do indivíduo (que precisa querer ser incluído). E esses vértices não funcionam independentemente.
Acredito que, per si, o Governo não pode fazer muito. Ser agente patrocinador da inclusão digital do indivíduo é sua tarefa sim, até porque ela facilita, e muito, o processo educacional e desenvolvimentista do país. Mas não unicamente dele, Governo.
Cabe às empresas se responsabilizarem pela inclusão individual de seus colaboradores, o que, no limite máximo, representaria a inclusão da população economicamente ativa (registrada) do país.
Mas, para isso, a empresa brasileira (principalmente as pequenas e médias) precisa se incluir, ou seja: para haver a inclusão individual, é preciso que antes ocorra a inclusão empresarial. O que é premissa para que as empresas se incluam digitalmente na economia é mais do que óbvio… são os mesmos fatores de sempre: cultura, acesso, crédito, conhecimento etc.
Com isso, o Governo, em conjunto com as ONGs, poderia se concentrar na sua parte, ou seja, se ater em patrocinar a inclusão digital individual dos excluídos do mercado de trabalho – uma exclusão, na verdade, mais do que digital; uma exclusão social.
Por fim, entendo que inclusão empresarial é, no mínimo, condição sine qua non para a sobrevivência de uma empresa na era da informação.
Parece-me positivo perceber que a sobrevivência das empresas no mercado competitivo e globalizado depende de seu nível de digitalização e que a empregabilidade dos indivíduos também. Essa poderosa e feliz convergência deverá ser responsável pela maturação da internet no Brasil, uma vez que força ambas as partes a buscarem a Internet.
No mais, é necessário entender investimentos em inclusão digital como investimentos em educação, nas três esferas de Governo, independente do perfil ou partido… porque essa questão, como algumas outras, é de interesse do país e não pode ficar nas mãos de políticas passageiras.
Daniel Domeneghetti é sócio-fundador e diretor de Estratégia e Conhecimento da E-Consulting Corp. e vice-presidente de Conhecimento e Métricas da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (Camara-e.net)