Será que a Lei pega?



Não acredito em legislação como algo capaz de modificar, significativamente, a forma de pensar o atendimento ao cliente, se as empresas e empresários não considerarem esta uma prioridade. Pessoalmente, acho que se esse serviço continua sofrível não é por falta de regulamento, Lei ou Código de Ética, mas simplesmente porque não é considerado, de fato, importante. Ou, pelo menos, tão importante quanto a venda. Esta sim, importantíssima. Pedindo licença ao poeta Fernando Pessoa e parafraseando seus versos, concluo que vender é preciso, entregar e atender não é preciso. Poderão existir muitas razões para esta priorização. Uma delas vem de nós mesmos, clientes. Não damos a importância devida. Se déssemos, não compraríamos até que os fornecedores nos garantissem um atendimento, no mínimo, condizente com a confiança que depositamos neles quando compramos algo. Mas o que nós, clientes contumazes, fazemos? Compramos mesmo assim. Trocamos de celulares, adquirimos mais serviços de TV por assinatura, sofremos com o atendimento – até tiramos sarro dele, de tão ruim. Mas não fazemos nada. Quero dizer, fazemos sim. Continuamos a comprar.

O regulamento dos SACs pode até funcionar como um contrato, no qual as regras estão definidas e, caso não sejam cumpridas, exista uma pena. Contudo, uma Lei ou um regulamento, por si só, não faz com que ninguém siga determinados critérios, seja ético ou siga práticas saudáveis de relacionamento com os clientes. Tanto é verdade que, aqui pelas nossas terras, tem Lei que cola e que não cola.

Fico impressionado como o País é bom nesse negócio de fazer Lei. Se fôssemos tão diligentes em cumprir as Leis que existem, quanto o Congresso é capaz de criar novas sobre os mesmos assuntos, acho que viveríamos em um País muito melhor. No caso da Lei dos callcenters, se o Código de Defesa do Consumidor, os princípios éticos e a real vontade, ou mesmo necessidade, de atender o cliente com dignidade fossem respeitados, para que gastar tempo fazendo um regulamento em cima de outro?

Os gurus do atendimento falam que os custos gerados pelo cumprimento da Lei terão de ser repassados e os clientes irão pagar a conta. Empresas ameaçam não cumprir ou cobrar por isso. Tudo em tom de ameaça velada e intimidação à sociedade. A choradeira já começou.

“Nada vai mudar!”, exclama Tarso Genro, ministro da Justiça. “Não tem recuo. As novas regras foram discutidas por um ano e meio e foi dado prazo de adaptação. É uma conquista do cidadão”, complementa. O que deveria ser ética vira Lei. Daí começa a choradeira, a Lei não pega e o ministro fica gastando o seu precioso tempo para dizer que não vai mudar. É uma discussão, no mínimo, insólita. Uma Lei que demorou mais de ano em discussão, foi aprovada pelo Congresso, sancionada pelo Presidente da República e com tempo de adaptação. Cumpra-se e ponto! Mas não é isso que acontece. Os callcenters continuam como antes, com alguma cosmética, é verdade, mas ainda estão longe de atingir o respeito necessário. Testados pela imprensa, pelos órgãos de defesa do consumidor e até por mim, a constatação é uma só: a Lei não é cumprida. No caso do serviço ao cliente, alguns vão encontrar as tais brechas e continuarão fazendo exatamente o que fazem hoje. Atendendo mal! Mesmo fingindo que atendem bem.

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Enio Klein é diretor da K&G e professor nas áreas de marketing e vendas da Business School São Paulo, a BSP.

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Será que a lei pega?



Como todos sabem, entrou em vigor na última segunda-feira a tal da lei nova, para regulamentar o atendimento ao cliente nos call centers. Fico impressionado como o país é bom nesse negócio de fazer lei. Se a gente fosse tão diligente em cumprir as leis que existem quanto o congresso é capaz de “parir” novas leis sobre o mesmo assunto, acho que viveríamos em um país muito melhor.

 

Um exemplo recente é o caso da “lei seca”. Há muito tempo que existe. Tá bem, a quantidade de alcool permitida era maior. Mas vamos e venhamos, se a antiga fosse cumprida e fiscalizada com o estardalhaço de agora, a atual não teria nem sido pensada. Assim é com a nova lei dos “call centers“. Se o código de defesa do consumidor, se o princípios éticos (como estabelecido no Probare) e se a real vontade de atender ao cliente com dignidade fossem respeitados, esta lei não seria nem cogitada. Pra quê?

 

Os gurus do atendimento já falam que os custos gerados pelo cumprimento da lei terão que ser repassados e quem vai pagar por isso é o próprio Cliente. Já ameaçam  não cumprir ou “cobrar”  por isto. Tudo  em tom de ameaça velada e intimidação à sociedade.

 

Tanto parece ser verdade, que testados pela imprensa e pelos orgãos de defesa do consumidor e até pelo blogueiro que vos escreve, a constatação é uma só: a lei não é cumprida. E tiveram tempo para se preparar, mas agora estão testando, se não colar, não fazem nada, se colar  pedem mais tempo, dizem que precisam dele para se regularizarem e provavelmente mandarão a conta para o próprio Cliente.  

 

Foi assim com o “Cidade Limpa”, lembram. No início ningém ( ou quase) cumpriu. Só que neste caso tinha uma fiscalização forte. O suficiente para mostrar que ninguém ali estava de brincadeira. Assim funciona.

 

Sinceramente, não acredito em legislação como algo capaz de modificar de forma significativa a forma de pensar o atendimento ao Cliente. Neste caso, embora possa funcionar como um contrato onde as regras estão definidas para que, se ao acaso não forem cumpridas, exista uma forma de penalidade, uma lei por si não faz com que ninguém siga determinados critérios. Tanto é verdade que aqui pelas nossas terras, tem lei que “cola” tem lei que “não cola”.

 


Usando um exemplo extremo, as pessoas não deixam de roubar porque o artigo 157 do código penal determina que “subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência” e coloca uma pena de reclusão, de quatro a dez anos, além de multa. Em uma sociedade sadia as pessoas não roubam porque não é ético, não é digno nem decente. A pena existe para que os membros desta sociedade que não são dignos, éticos ou decentes sejam punidos por praticarem atos nocivos a esta sociedade.


 


No caso do serviço ao cliente, quem achar que não deve ou que deve, vai encontrar as tais “brechas” e vai continuar fazendo exatamente o que faz hoje. Atendendo mal!  Mesmo fingindo que atendem bem.

 

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