No ano que vem, o consumidor buscará autonomia, privacidade e soluções que respeitem seu orçamento real
Autor: Eric Garmes
O mercado de recuperação de crédito chega a 2026 carregando uma combinação rara de oportunidade e urgência. De um lado, o país avança para um cenário de reorganização do crédito, com políticas mais assertivas de renegociação e um consumidor mais disposto a regularizar sua vida financeira. De outro, há uma mudança estrutural em como as empresas se relacionam com esse consumidor. Não é mais sobre cobrar, é sobre entender, prever e personalizar e, para isso, o digital não é apenas um canal, mas o novo eixo estratégico do setor.
Nos últimos dois anos, o Brasil consolidou um movimento importante: o consumidor inadimplente está cada vez mais ativo no processo de renegociação. Esse movimento ganha força quando observado à luz do cenário macroeconômico.
Segundo o Banco Central, o comprometimento de renda das famílias brasileiras com dívidas atingiu 49% em 2025, demonstrando que o orçamento doméstico opera no limite e que o espaço para acordos só existe quando as ofertas são compatíveis com a realidade financeira de curto prazo. Não se trata apenas de vontade de pagar, mas de viabilidade de pagamento e essa é a fronteira crítica que o setor precisa respeitar.
Com essa nova lógica, o papel das plataformas digitais se torna ainda mais decisivo e importante. Em 2026, o consumidor buscará autonomia, privacidade e soluções que respeitem seu orçamento real. Muitas das vezes ele prefere resolver sozinho, em poucos cliques, com facilidade em qualquer lugar e propostas viáveis. Soluções baseadas em inteligência de dados, capazes de cruzar contexto, comportamento, limite de comprometimento de renda e probabilidade real de pagamento, tornam-se aliados e redefinem o ecossistema da recuperação de crédito.
IA generativa, dados fidedignos e atualizados: o tripé que vai definir quem lidera o setor
Uma das coisas que mudam de decisiva em 2026 é a maturidade das tecnologias que impulsionam a recuperação de crédito. A IA generativa, antes vista como apoio, torna-se um dos motores na criação de jornadas mais eficazes, entendendo intenção, ajustando tom, personalizando ofertas, reduzindo atritos, integrando bases, canais e contextos. O resultado é mais eficiência para as empresas e mais clareza para os consumidores.
O foco precisa deixar de ser o valor total da dívida e passar a ser o bolso do consumidor. É essa lógica que define o futuro da recuperação: evoluir do modelo de cobrança para entrar no modelo de facilitação, ofertas calibradas e respeito às limitações financeiras de cada perfil.
2026 exige outra mentalidade: a cobrança deixa de ser fim e passa a ser relação
Se existe uma tese que resume o que vem pela frente, é esta: cobrar não é mais um ato isolado, é parte da jornada financeira do consumidor, uma extensão da experiência do cliente.
A cobrança deixa de ser a etapa dura, fria e tardia, e se transforma em um ponto de reconexão. Um momento em que a empresa oferece clareza, maturidade e caminhos reais de reorganização financeira, especialmente quando o consumidor quer pagar, mas não consegue criar espaço no mês.
O digital será aliado no processo junto ao humano, devolvendo ao consumidor algo que ele perdeu e tenta recuperar, que é o controle financeiro.
As empresas que fizerem a leitura desse novo momento,mais transparente, mais inteligente, mais humano, estarão na dianteira do mercado. E não apenas cobrando melhor, mas construindo relações sustentáveis em um ambiente financeiro que muda em velocidade de código.
Eric Garmes é CEO da Paschoalotto.





















