Estamos no momento de deixar de olhar para a automação apenas como ferramenta de produtividade e passar a vê-la como plataforma de inteligência e inovação
Autora: Naiara Neves
A transformação digital no setor financeiro avança em ritmo acelerado. Mas o que diferencia líderes extraordinários de meros executores é a capacidade de enxergar a tecnologia não apenas como ferramenta, mas como estratégia de inovação. É nesse contexto que a convergência entre Inteligência Artificial (IA) e RPA (Automação Robótica de Processos) surge como uma oportunidade única de ampliar eficiência, gerar inteligência de dados e sustentar um futuro digital robusto.
Com mais de 10 anos de experiência em processos e quase 4 anos de atuação no setor bancário, construí uma visão prática de como unir governança, eficiência e tecnologia. Quando aplicamos IA em automações bancárias, ampliamos a capacidade de interpretação, de estruturação de dados e de tomada de decisão. Em uma pesquisa aplicada que realizei, desenvolvi um pipeline que conecta IA, Python e RPA para transformar dados não estruturados em informações claras, em formato JSON estruturado, prontas para alimentar processos de negócio. Isso significa que a automação deixa de ser apenas execução repetitiva e passa a operar como inteligência aplicada, capaz de acelerar decisões, reduzir riscos e abrir espaço para novos modelos de negócio.
Aplicar IA de forma estratégica exige mais do que boas ideias — exige engenharia de IA sólida, capaz de transformar dados em valor de negócio. Isso envolve a modelagem e a escolha de algoritmos adequados, a governança e a qualidade dos dados, a realização de testes e o monitoramento contínuo para evitar falhas, além da integração fluida com processos já existentes. Nesse cenário, o papel da liderança se torna decisivo. Líderes extraordinários não apenas adotam a tecnologia: eles sabem traduzir desafios de negócio em problemas que a IA pode resolver, articulando times multidisciplinares e garantindo que inovação e governança caminhem juntas.
O momento atual do mercado
Dados recentes reforçam essa tendência: uma pesquisa da Febraban mostra que 80% dos bancos brasileiros já incorporam IA generativa em suas operações, colhendo ganhos tangíveis. O Índice de Transformação Digital Brasil 2024 (PwC) aponta a IA como a tecnologia de fronteira mais adotada, liderando com 20% de adesão entre grandes empresas. Projeções indicam que até 2027, 80% das interações bancárias ocorrerão sem intervenção humana direta, com IA assumindo protagonismo. No Brasil, 69% das organizações já utilizam IA em algum nível, segundo levantamento da Data-Makers. Esses números mostram que a IA deixou de ser uma promessa futura para se tornar realidade presente e diferencial competitivo. Quem não avançar corre o risco de ficar para trás.
No setor financeiro, a aplicação da IA em automações já oferece ganhos claros. Ela amplia a eficiência, tornando os processos mais rápidos e inteligentes; possibilita a geração de dados estruturados em tempo real, prontos para alimentar análises e gerar insights de negócio; reforça a governança e a rastreabilidade, assegurando confiabilidade em um ambiente regulado; e garante escalabilidade, com pipelines replicáveis que aceleram a expansão digital.
Estamos vivendo um momento decisivo na transformação digital: deixar de olhar para a automação apenas como ferramenta de produtividade e passar a vê-la como plataforma de inteligência e inovação. Ao convergir IA e RPA com uma abordagem de engenharia sólida, líderes podem transformar a forma como bancos e fintechs operam, criando bases para um futuro de inovação contínua. Sigo convicta de que a verdadeira liderança extraordinária nasce quando transformamos tecnologia em valor humano e estratégico para o futuro.
Naiara Neves Pereira é especialista em processos. Trabalhou no Deal Group, prestando serviço em um cliente do setor bancário. Possui mais de 10 anos de experiência em processos e é aluna do MBA em Inteligência Artificial & Big Data na USP – ICMC, Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação, São Carlos).