Muitas vezes somos
flagradas pela culpa. Acho que este é um dos sentimentos que mais rondam a vida
de uma mulher que tem uma carreira, que deseja ter uma carreira ou é
empreendedora. As empresas exigem muito e quanto mais alto seu cargo maior é a
exigência, não tendo muito horários e isto ainda se agrava quando você trabalha
em uma multinacional e seu chefe mora em outro país. Reuniões via internet na
madrugada, aos finais de semana ou ainda naquele feriado que você tinha
planejado passear com a família. Estes são dilemas que rondam a vida de uma
mulher que é mãe e resolve ter uma carreira.
Junto com isto, vêm os olhares das
pessoas que não entendem seu desejo de ter um lugar no mundo, de pessoas que
não entendem o prazer de se ter uma carreira executiva, de ter sucesso
profissional por pensarem diferente e terem feito escolhas diferentes que você.
Muitas vezes estes olhares vêm de
pessoas que não tiveram a sua coragem. A coragem de enfrentar os padrões
sociais de uma cultura que ainda tem influência do machismo, onde mulher tem
que ficar em casa cuidando da família.
Acredito
que todos podem ser o que desejam, uma mulher pode sustentar o lar e um homem
pode cuidar da casa. Já ouvi pessoas dizendo que são papéis invertidos e eu
descordo, acho que são apenas papéis e cada um está contribuindo com o que
pode. Um casal por exemplo, pode ter uma parceria, onde o homem quando cuida
dos filhos não faz favor algum, os filhos também são deles, mas muitos pensam
assim, que ao lavar uma louça estão fazendo favor. Ora, todos comem e sujam a
louça, assim, nada mais coerente que ajudar a limpar a sujeira. É um trabalho
de parceria e não um trabalho de homem ou mulher.
Ser mulher, ter uma carreira e ter
filhos é ainda sentir que você deve todos os dias e para todos os lados. Este é
o fantasma que junto com a culpa, nos assombra com o sentimento que devemos
para todos os lados. Um sentimento equivocado que faz parte da nossa cultura. É
viver como equilibrista em função da pressão social. Ao longo de décadas as
mulheres dedicaram suas vidas a cuidar da casa e da família e agora temos a primeira
geração de mulheres executivas se aposentando. Estas mulheres tiveram como
exemplo de liderança os homens e muitas atuaram como tal, cobrando de suas
equipes mulheres o mesmo padrão de comportamento.
Há 15 anos, fiz uma pesquisa para um
grupo de diversidade com foco em mulheres e li um trecho de uma tese defendida
por uma fonoaudióloga na USP em que as mulheres estavam empostando a voz como
homem no mercado profissional, seguindo o padrão de sucesso que elas conheciam.
Não creio que o cenário tenha mudado radicalmente, mas vejo que tem melhorado.
Embora tenhamos avançado, muitas crenças precisam ser quebradas dentro de nós.
Que cada um pode liderar no seu estilo, valorizando o que justamente nos faz
mulher.
Para ser mulher e ter uma carreira é
importante saber negociar, com família, com os filhos, com o chefe, com sua
equipe, com o cliente ou com fornecedores. É ter clareza de nossas prioridades
e que em alguns momentos da vida elas irão mudar, mas o jogo de cintura que
desenvolvemos ajuda a organizar a vida e encontrar o trilho para cada coisa. É
acertar mesmo achando que estamos erradas.
Ser mãe, mulher e executiva ou
empresária é quebrar o paradigma de 50% para cada lado, pois os 50% de cada
pessoa varia. O desafio é aceitar que não seremos 100% em tudo e o tempo todo,
somos mulheres e seres humanos e não super-heroínas mesmo que nossos pequenos
muitas vezes nos vejam assim.
Tem dias que iremos doar 100% para a
carreira e terão dias que precisaremos dedicar 100% aos filhos. Ser mãe, mulher
e ter uma carreira não tem uma conta exata, mas as partes podem somar muito
mais que 100%. A maestria é ter muita consciência das atitudes, dos porquês e
desenvolver o autoconhecimento para saber onde apertar e que horas soltar.
Ter uma carreira e uma família com filhos, muitas
vezes cansa, desgasta, enlouquece mesmo, tem dias que dá até vontade de sentar
no chão e chorar como criança, mas não fazemos isto, devemos nesta hora,
canalizar esta energia e aprimorar habilidades em planejamento, disciplina,
foco e liderança. Ser mulher e ter uma carreira é importante para termos senso
de propósito e não sentirmos a dor do ninho vazio quando nossos filhos
começarem a voar.