Que as empresas estão sendo ou serão afetadas pela
transformação digital não se discute mais. O debate agora é qual a magnitude
deste impacto. Os CEOs e obviamente os CIOs, pois a tecnologia está no cerne
das mudanças, devem questionar se o atual modelo de negócios continuará válido
no mundo digital ou se será necessária uma mudança significativa na natureza de
como a empresa faz negócios. Devem também questionar se a atual estrutura
organizacional estará adequada ao mundo digital e qual a velocidade com que
estas mudanças deverão ser implementadas. Este questionamento é o mesmo para a
empresa e para o setor de TI. O atual modelo de operação e a estrutura
organizacional de TI estarão adequadas para o mundo digital?
Nas conversas com muitos executivos fica claro que a maioria
está consciente da necessidade de mudanças, mas não está claro como começar.
Uma mudança desta magnitude e complexidade, envolve toda a organização e a
liderança deve estar com o CEO. Sem comprometimento da liderança pouca coisa
será realmente mudada. Por sua vez, o CIO pode e deve assumir uma posição de
liderança tecnológica, apoiando (como advisor) a transformação digital,
conquistando um espaço que em muitas empresas hoje ele não tem.
O que a liderança precisa fazer? A primeira ação é incluir a estratégia
digital nas estratégias de negócio. Em todos os aspectos do negócio, dos canais
e processos, ao modelo de operação e cultura. Portanto, não é possível
dissociar uma de outra. Não existe tal coisa de estratégia digital dissociada
da estratégia de negócio, como se fosse uma ação isolada, de alguma área
especifica da empresa. Esta ação significa envolver diretamente o CIO nas
estratégias de negócio. O desafio é que muitos CIOs não estão preparados para
assumir este papel. Este ano participei de vários eventos com CIOs e tive
contato com algumas centenas de executivos e observei que existe uma parcela
bastante grande de CIOs muito direcionados para infraestrutura. Para o momento
atual este perfil é adequado, mas tenho dúvidas se todos realmente conseguirão
cruzar a ponte para exercer um papel mais estratégico e voltado a negócios. Em
um evento, conversando com alguns CIOs lembrei que o perfil do CIO de uma
empresa digital é diferente do atual e que o fato deles estarem ocupando esta
cadeira não é garantia de permanecer nela no futuro.
Muitos CIOs reclamam que seus CEOs e demais executivos olham
TI como operacional. E muitos deles quase não têm contato com os seus CEOs.
Entretanto, as empresas, qualquer que seja seu setor de indústria sentirá em
maior ou menor grau, os efeitos da digitalização. Os CIOs, sabendo disso, tem
obrigação de alertar os demais executivos e principalmente seu CEO de que
distância sua empresa está do epicentro desta transformação. Uma sugestão é
pró-ativamente iniciar o debate com os executivos sobre este assunto
recomendando a eles lerem o estudo “Digital Vortex” (http://www.imd.org/uupload/IMD.WebSite/DBT/Digital_Vortex_06182015.pdf),
o artigo “Why Software Is Eating The World” em http://www.wsj.com/articles/SB10001424053111903480904576512250915629460
e comprando e entregando a cada um deles
um exemplar do livro “Leading Digital” (https://hbr.org/product/leading-digital-turning-technology-into-business-transformation/an/17039-HBK-ENG).
Depois promova debates e sessões de inspiração de como a sua empresa será
afetada e qual a magnitude desta mudança.
TI não vai passar incólume pela transformação digital. Seus
processos e modelos de governança serão afetados. Sua maneira de desenvolver e
entregar sistemas também. O conceito de DevOps vai se tornar o novo modelo
mental de operar TI. TI deve assumir um “espírito digital”, ou seja, pensar e
agir como uma empresa digital e não como um departamento burocrático mais
preocupado com aderência às regras de compliance que à inovações. Além disso, o
CIO deve a considerar como seu cliente, o cliente da empresa, aquele lá fora, que compra seus produtos e
serviços. O CIO que olha os demais setores da empresa como seus clientes é
aquele que se posiciona como operacional, subordinado as estratégias dos demais
setores. Este CIO deve mudar seu mindset e se posicionar como executivo
estratégico.
A organização da empresa e de TI também deverão mudar. Uma organização
digital deve responder com rapidez às mudanças. Uma estrutura hierarquizada e
rígida não sobrevive ao dinamismo da digitalização. Recomendo a leitura do
paper “Algorithms Can Make Your Organization Self-Tuning” em https://hbr.org/2015/05/algorithms-can-make-your-organization-self-tuning.
Dá para ver que as mudanças demandam velocidades que os atuais modelos
organizacionais não conseguem atender.
A mudança em TI será significativa. Um dos aspectos que o
CIO deverá estar atento é que o próprio ecossistema de fornecedores está em
transformação. Os principais fornecedores de serviços e produtos de hoje não
serão necessariamente os mesmos daqui a alguns anos. A maioria das inovações
surge de startups e, portanto, o CIO terá que lidar com um ecossistema muito
mais fragmentado que o atual. Pode não parecer, mas é uma mudança significativa
de mindset: demanda pensar diferente do paradigma de TI atual, de não falhar. O
novo mindset necessita muito mais tolerância à riscos e adoção de conceitos
como “fail fast”, hoje uma heresia no pensamento de TI. É um pensamento mais
próximo de um executivo de marketing, que já está acostumado as incertezas dos
resultados das suas campanhas.
O CIO da empresa digital será avaliado não apenas pelo
básico, de manter a “casa das máquinas”, mas pela sua habilidade em aconselhar
e conduzir a empresa na sua
transformação. E TI não será um centro de custos a ser podado, mas um parceiro
estratégico, ajudando a desenhar e entregar soluções que gerem novas receitas.
Dentro de 10 a 15 anos praticamente todas as empresas serão
transformadas pelo avanço exponencial da tecnologia, muitas delas consideradas
ficção científicas até a poucos anos. Fazer parte desta jornada e melhor,
fazendo ela acontecer na empresa, é uma oportunidade única na vida profissional
de um CIO. Porque desperdiça-la?