A proposta de DEVAGAR não é simplesmente fazer tudo de forma mais lenta. Na verdade, toda a teoria que envolve o movimento baseia-se na certeza que a desaceleração proporciona resultados melhores. Questionando a obsessão contemporânea, podemos concluir que a velocidade não é a melhor política. O movimento DEVAGAR quer ajudar a encontrar uma maneira de viver melhor através do equilíbrio.
A idéia de fazer tudo correndo já nos desperta todos os dias. Antes de espreguiçar, rolar na cama ou abrir as cortinas, nossa tendência natural é olhar que horas são. O relógio é hoje o sistema operacional do capitalismo moderno. São reuniões, prazos, contratos, processos de fabricação, transporte e turnos de trabalho. Mas ainda não é tarde para consertar as coisas. Devagar está com tudo e, por mais paradoxal que possa parecer, o movimento está crescendo rapidamente.
Uma vez por ano, a cidade de veraneio Wagrain, aninhada nos Alpes Austríacos, sai do seu ritmo lento e transforma-se na capital da filosofia Devagar. A conferência anual da Sociedade para a Desaceleração do Tempo contamina diversas cidades na Europa, como Bra, Klagenfurt, entre outras. Na Itália, já é possível saborear a arte de comer devagar – o Slow Food. O movimento DEVAGAR passa por San Francisco nos EUA, cruza o Pacífico e chega ao Clube da Preguiça, em Tóquio. A questão do controle do tempo já deu a volta ao mundo e espalha-se por todo o planeta neste início de século.
Vemos as pessoas buscando refúgio da velocidade também na espiritualidade. Basta observar o boom do budismo no ocidente. Isso sem contar com os espaços alternativos Zen e os centros de cura voltados para doutrinas ecléticas e metafísicas do New Age. E para criar um novo clima, surgem as Cidades do Bem Viver. Muito mais do que uma cidade que diminuiu o ritmo, é um ambiente em que as pessoas resistem à pressão do relógio. Mas nada de renegar o progresso. Ser devagar não quer dizer apatia, atraso ou aversão à tecnologia. O objetivo é preservar as tradições arquitetônicas, artesanais e culinárias.
O livro segue discutindo temas importantes como a medicina da saúde, mostrando que o tempo é uma excelente cura para as doenças da pressa e ansiedade. O “Slow Sex” combate os efeitos da vulgarização da sexualidade da sociedade moderna. São várias histórias, exemplos e casos envolvendo o tantra, a ioga e a combinação mística da meditação e do desejo.
Os capítulos sobre o trabalho e o lazer parecem contradizer a nossa “sabedoria corporativa”. Honoré apresenta uma forte argumentação sobre as vantagens de trabalhar menos para render mais. O ponto aqui é melhorar a produtividade e não simplesmente reduzir a carga horária para aumentar o ócio. Por isso, o autor investe um capítulo inteiro na importância de descansar.
Sob uma influência muito clara, elejo o último capítulo como um MBA na arte de ser pai. A sabedoria de criar os filhos sem pressa parece um nirvana para os pais contemporâneos. Aprofundando no tema, resistiremos aos vícios e as tentações das metrópolis em preencher a agenda dos nossos herdeiros com atividades extracurriculares. Brincar é uma dádiva, então nada de pressa para crescer. A vida passa, a idade vai chegando aos poucos, mas tudo no seu devido tempo. Para pais e filhos.
Editora Record – 2005 (350 páginas)