ARTIGO: O Valor do Amanhã (Eduardo Giannetti)



O Valor do Amanhã  (Eduardo Giannetti)


 


“O desejo incita à ação”: assim começa o prefácio do livro, e assim começo meu texto porque, neste momento, a ação de escrever sobre a ótima “primeira impressão que já ficou” sobrepõe o desejo de reler e debulhar cuidadosamente cada parágrafo de um dos livros mais bem elaborados que já tive a satisfação de ler.


 


Não é uma leitura simples e superficial, é verdade. O Valor do Amanhã requer, sim, muita atenção e paciência, pede um um leitor atento e sem pressa, segundo uma suposta utopia dos autores. O resultado de muita pesquisa foi cuidadosamente estruturado de forma clara, didática e convincente, mas também com uma linguagem muito elegante, um vocabulário rico e refinado, porém sem confundir o leitor e, principalmente, sem deixar de aprofundar temas não tão óbvios, mas que ao final de cada capítulo fazem todo o sentido do mundo.


 


O livro trata das trocas intertemporais, ou seja, juros… Simples? Claro que não. Pelo menos no início da leitura… A proposta do professor Eduardo Giannetti pode parecer estranha ou, pelo menos, digamos, um tanto “diferente”. Até porque a nossa visão parcial sobre os juros é desmistificada em mais de 300 páginas, principalmente pela maneira quase leviana em que a utlizamos, em uma linguagem puramente financeira, e que não representa a totalidade do verdadeiro sentido das trocas no tempo.


 


Organizado em quatro partes “quase independentes” entre si, com cinco capítulos cada, o livro aborda a questão das trocas intertemporais em ângulos distintos e complementares. A primeira parte trata das raízes biológicas dos juros, desde a “culpada” pela finitude biológica – a reprodução sexuada, o conceito da senescência, até a evolução da paciência. Na segunda parte, entedemos melhor a origem do imediatismo dentro do ciclo de vida humano, da infância à velhice, e o horizonte temporal relevante que faz da vida uma “carniça”. Já na terceira parte, entramos no que o professor bem define como “anomalias intertemporais”, cujo processo de agir no presente pensando no futuro, implica em distorções comportamentais como a miopia ou a hipermetropia temporal, e coloca em questão uma “inverdade absoluta”: tempo é dinheiro? Certamete que que não! A quarta e última parte, o assunto fica mais conhecido e a discussão gira em torno de juros, poupança e crescimento, desde o nascimento do ser social até a orientação de futuro.


 


Além disso, é quase um presente o “segundo livro” com mais de 40 páginas de “Notas”, por onde o professor passeia durante o livro, de forma leve e pertinente, em citações de Platão, Caetano Veloso, Freud, Dorival Caymmi, Goethe, Cecília Meireles, Marx e outras quase 200 referências da história da sociedade humana. Uma verdadeira aula de cultura geral e de filosofia aplicada.


 


Assim como a citação do professor, de que “palavras não pagam dívidas”, me permito completar com um simples “eis a questão” pois, após uma leitura como O Valor do Amanhã, fico com a nítida sensação de que ficarei devendo (e muito!), “ao mestre, com carinho”. Mas como aprendi no próprio livro, neste caso abro uma exceção: melhor pagar agora, investindo nesta leitura, e desfrutar o aprendizado depois. Credor sim, mas feliz de vida. Vale o investimento!!!

0 comentário em “ARTIGO: O Valor do Amanhã (Eduardo Giannetti)”

  1. Parabéns pelos comentários elegantes quanto ao mestre Gianetti. Devo a ele, entre outros, o encontro com David Hume. Preciso ainda contrair esta dívida benéfica da compra do livro… Sds.

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