Como será sua TI daqui a cinco anos?

Recentemente li algumas previsões do Gartner para nosso
futuro digital. O foco é a mudança da relação entre o homem e a máquina, com as
máquinas cada vez mais, adquirindo características humanas para influenciarem
um relacionamento mais personalizado com as pessoas. Segundo o Gartner, em um
futuro próximo, contemplaremos um mundo em que máquinas e humanos serão colegas
de trabalho e, possivelmente, ainda mais dependentes um do outro. Vários
exemplos são citados como ” Até 2018, as empresas digitais vão demandar 50%
menos trabalhadores em processos de negócio e 500% mais funcionários nas
empresas digitais do que nos modelos tradicionais”. Para isso, as geladeiras
vão pedir gêneros alimentícios, os robôs vão registrar isso e os drones vão
entregá-los em nossas portas, eliminando a necessidade de funcionários nos
mercados e motoristas para fazer as entregas. Esse novo ambiente de empresa
digital vai mudar profundamente os processos de negócio, juntamente com a
demografia dos empregos, e a necessidade de competências mais avançadas para os
consumidores e para os provedores em todas as indústrias.

Outros exemplos: ” Até 2017, serão lançadas grandes empresas
digitais disruptivas, concebidas por um algoritmo de computador”, e “até 2018,
o custo total de propriedade das operações de negócio será reduzido em 50%, por
meio de máquinas inteligentes e serviços industrializados”. Segundo o Gartner
as máquinas inteligentes não vão substituir os humanos, pois as pessoas ainda
precisam pilotar navios e são críticas para interpretar os resultados digitais.
Portanto, as máquinas inteligentes não vão substituir o trabalho. Ao invés
disso, vão desalojar a complacência, a ineficiência e vão acrescentar uma
tremenda velocidade às operações dos negócios, melhorando a experiência dos
clientes por meio da simplificação e da automação, além minimizar as
intervenções manuais e permitir que os consumidores se sirvam sozinhos, via
self-service. Assim, robôs gerando conteúdo como planilhas e relatórios de
negócios, objetos inteligentes e conectados que nos ajudam no dia a dia, e
dispositivos vestíveis estão nos textos destas previsões.

É um cenário muito diferente do que víamos nas previsões de poucos
anos atrás. Em um relatório de tendências, de 2010,  as previsões do Gartner eram mais
conservadoras, como “até 2012, as companhias de serviços de TI centralizadas na
Índia vão representar 20% dos principais agregadores em nuvens do mercado (por
meio de ofertas de serviços em nuvem”, “até 2012, o Facebook vai se tornar o
hub para integração de redes sociais e socialização Web”, “em 2012, 60% das
emissões de gases estufa na vida total dos PCs terão ocorrido antes que o
usuário ligue a máquina pela primeira vez” e “até 2014, mais de 3 bilhões de
pessoas poderão efetuar transações eletronicamente via tecnologia de celulares
ou internet”. Nada de IoT, robôs, computação cognitiva ou da mudança da relação
homem máquina.

O que mudou? Estamos vendo um conjunto de previsões muito
mais próximas das previsões que o futurista Ray Kurzweil vem declarando há
anos. O seu livro de 2005, “Singularity is Near” (http://www.singularity.com/) já debatia
isso com profundidade. Quando o li me impressionou muito e de lá para cá venho
acompanhando bem de perto o que ele fala. Existe uma estatística interessante,
que analisou as previsões de Ray de 1990 para cá, e que chegou à conclusão que
de suas 147 previsões, 115 se mostraram corretas e 12 “essencialmente corretas”,
ou seja, acertaram o alvo, mas com erro de timing de um ou dois anos. Uma taxa
de acerto de 86%!

A dificuldade em absorvermos certas previsões futuristas, é
que, embora a tecnologia evolua de forma exponencial, nosso pensamento intuitivo
é linear. Assim, olhamos a evolução do século passado e projetamos mudanças
para os próximos 100 anos baseados na linearidade do nosso modelo mental. Mesmo
o famoso jargão “pensar fora da caixa” nos mantém presos, pois usa como
referência a própria caixa. Portanto, ao nos livrarmos do pensamento linear e
pensarmos exponencialmente veremos que os próximos 100 anos não serão 100 anos
de progresso, mas 20.000 anos de progresso à luz do atual ritmo de progresso da
tecnologia. Inimaginável!

No nosso dia a dia, intuitivamente, preservamos as memórias
recentes. E destas memórias projetamos o futuro. Por exemplo, o ano passado
provavelmente nos trouxe mais evoluções que os dez anos anteriores, mas
esquecemos destes detalhes. E projetamos os próximos anos como evoluções
lineares do nosso último ano.

Outro dia, em um exercício simples com um grupo de CIOs
apontei este desafio. “Como estará a TI dentro de uns cinco anos? ” Perguntaram.
A resposta foi que no mínimo, de forma conservadora, olhem para uns dez anos atrás
(idos de 2005) e vejam o que não existia (ou que era rudimentar) e que faz
parte dos desafios do dia a dia de hoje: Facebook, iPhone, tablet, Twitter,
YouTube, IoT, computação cognitiva, cloud computing, apps, shadow IT, BYOD, veículos
autônomos…e concorrentes com modelos de negócio inovadores como Uber, Airbnb,
Alibaba, Amazon…

Este é desafio das empresas, dos seus CIOs e profissionais
de TI: como imaginar o futuro e tomar decisões hoje? Difícil de responder e
começa pela escassez de profissionais. A própria dinâmica do mercado de TI é
tão acelerada que o meio acadêmico não consegue acompanhar as mudanças e as
demandas deste mercado. Continua formando profissionais para um mercado que já
é passado. As tentativas de modernização acadêmica são através de cursos de
especialização, mas mesmo estes perdem a corrida contra o conteúdo disponibilizado
(muitas vezes gratuitamente) na web. No setor tecnológico o conhecimento
adquirido tem prazo de validade. O que se sabe hoje perde valor ao longo do
tempo, à medida que novas e inovadoras tecnologias disruptivas vão surgindo. O
próprio conceito de carreira torna-se mais fluido…”qual é a sua profissão?”
não faz muito sentido em função das demandas plurais no mercado. O profissional
de tecnologia hoje deve ser avaliado pela sua capacidade de mudança rápida,
adaptação e versatilidade em relação a competências diversas e ao aprendizado
contínuo. E não apenas por seu conhecimento em banco de dados Oracle, sistema operacional
Linux ou se sabe escrever código em Java. Aliás, já existem novas funções, não profissões,
que ninguém sabia que poderiam existir há alguns anos atrás, como consultor de
drones, curador pessoal de conteúdo, conselheiro de privacidade, terapeuta de
desintoxicação tecnológica e profissionais de nano medicina. E quantas áreas de
TI contratavam “designers de usabilidade”?

E para uma discussão mais detalhada da questão do pensamento
linear versus a evolução exponencial de tecnologia e seus impactos, recomendo a
leitura de um paper do próprio Ray Kurzweil, de 2001, “The Law of Accelerating
Returns” em   http://www.kurzweilai.net/the-law-of-accelerating-returns.
É um assunto que não termina neste post. Vale a pena investir tempo para reflexões
mais aprofundadas.

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