Estamos em 2016. Você já começou suas iniciativas de Analytics?

Terminamos 2015, adicionando mais um ano de experiências e
prática em Big Data. Que vale a pena compartilhar deste aprendizado? Primeiro
que o termo Big Data não é apropriado, pois passa a impressão de uma enorme e
estática massa de dados. O termo “advanced analytics” ou analítica avançada me
parece mais apropriado. Dados, em qualquer quantidade, não tem muito valor se
não analisado por técnicas analíticas. “Advanced analytics” é a aplicação das
tecnologias digitais a modelos matemáticos para nos ajudar a resolver problemas
de negócio. Que é o que interessa às organizações. Elas não querem projetos de
Big Data, mas projetos que resolvam questões de negócio, onde dados e analítica
são o meio para se chegar a solução.

Em 2015 ficou bem patente que iniciativas de analítica
avançada (ex-projetos de Big Data…) precisam do suporte e comprometimento
executivo. Mas, antes dos CIOs levarem aos seus colegas C-level a idéia de
projetos que envolvam analítica de dados, é importante ter conhecimento mais
aprofundado do conceito e principalmente do que chamamos de “Data Science”, que
engloba as tecnologias e conceitos que transformam dados em ações e, portanto,
em resultados tangíveis para o negócio.  Recomendo
a leitura da excelente publicação “2015 The Field Guide to Data Science”, da
Booz Allen, que pode ser acessado em http://www.boozallen.com/content/dam/boozallen/documents/2015/12/2015-FIeld-Guide-To-Data-Science.pdf.
Ele define claramente: “Data Science is the art of turning data into
actions.It´s all about the tradecraft. Tradecraft is the process, tools
andtechnologies for humans and computers to work together totransform data into
insights.” Dos insights geramos as ações que trazem retorno ao negócio. Big
Data não interessa. Ações que tragam resultados tangíveis, sim.

Quando falamos em analítica, automaticamente pensamos em
algoritmos. Já estão em toda a parte: recomendação na Amazon, detecção de
fraudes por operadoras de cartões de crédito, etc. Inclusive existe um
marketplace para algoritmos, a Algorithmia (https://algorithmia.com/).
É uma espécie a App Store para algoritmos, onde você pode acessar via APIs
algoritmos prontos. Ou então criar um novo algoritmo e como um app, conseguir
monetização por ele. Como vemos, uso de algoritmos não é uma ciência espacial,
já começa a se popularizar. 

Aliás, uso de analítica e algoritmos deve ser considerado
aplicação de missão crítica nas empresas e não uma iniciativa periférica.
Estamos imersos em um oceano de dados, e pouco uso fazemos deles. Estimativas
apontam que em 2020 estaremos criando 73,5 zettabytes de dados ou 73 seguido de
21 zeros! Os resultados da aplicação de algoritmos mostram que se conseguem
bons resultados em praticamente qualquer situação. Por exemplo, um estudo
efetuado nos EUA da American Psychological Association, analisando 17 casos de
estudo de práticas de contratação por grandes empresas, mostrou que o uso de
algoritmos vencia as melhores práticas (geralmente baseadas na intuição) por
25%, quando considerando o sucesso da contratação, ou seja, o acerto da
contratação do novo funcionário na empresa. Vale a pena dar uma olhada em “In
Hiring, Algorithms Beat Instinct”, no link https://hbr.org/2014/05/in-hiring-algorithms-beat-instinct.

Mas, voltando à necessidade de mobilizar os executivos da
organização para projetos de analítica, ficou claro na minha experiência em
2015, que as iniciativas deste tipo conduzidas e alavancadas por TI, salvo
raras exceções, não foram muito à frente. Após gerar valiosos insights, é
necessária uma ação, e muitas vezes isso demanda modificações nos processos
atuais. TI, sozinha, geralmente não tem o poder de realizar estas mudanças. O
CEO deve estar comprometido com a iniciativa e deve ver Data Science como
essencial ao seu negócio e não como um projeto periférico de TI, para atender a
uma ou outra demanda do marketing ou de outra área de negócio. Como despertar
nele a percepção de urgência para o assunto? Pode começar com uma palestra para
o board de executivos explicando os conceitos e mostrar casos reais de
resultados (e existe já extensa bibliografia que mostra diversos casos) que apresentam
saltos quânticos em benefícios. Depois levá-los a visitar empresas que já
estejam fazendo uso de analítica com sucesso.

Segundo passo é desenhar uma estratégia de analítica de
dados. Uso de analítica e Data Science na organização não deve ser encarado
como projetos isolados, mas devem estar alinhados com uma estratégia de que
alavanque todo o potencial de dados que a empresa poderá dispor, interna ou
externamente. A estratégia deve passar por etapas e métricas de avaliação dos
resultados. Afinal, lembrem-se, o sponsor é o CEO! Nesta estratégia pode-se
definir até novas posições executivas como um CAO (Chief Analytics Officer, que
considero mais adequado que o CDO, Chief Data Officer). A estratégia deve
definir se existirá um Centro de Excelência em Analytics e sua estruturação, centralizado
ou distribuído. Aliás, existem diversas variações sobre a estruturação. Também
qual será a demanda por recursos internos e externos. Existe expertise
internamente? Estamos nos preparando para tê-los? Muitas vezes o uso de consultoria
externa acelera a curva de aprendizado, mas dificilmente, uma função de missão
crítica será inteiramente terceirizada.

O CIO tem papel fundamental neste processo. No mínimo deve
desenvolver a infraestrutura de hardware e software para suportar a estratégia.
Claramente o uso de cloud deve ser considerado, pois a demanda por análises de
dados tenderá a ser bastante dinâmica, inclusive pela tendência do self-service
de analítica por parte dos usuários. Esperar que uma cara e lenta aquisição de
hardware chegue, provavelmente vai fazer perder a janela de oportunidade. Neste
cenário o CIO deve assumir a responsabilidade de prover os dados adequados.
Esta é uma armadilha fatal: se os dados usados pelos usuários não forem
corretos, os resultados serão desastrosos. E, a experiência que venho vivendo,
mostra que na maioria das empresas, os dados estão em pior situação que muitos
imaginavam antes de começar a usá-los para projetos de analítica. Dados
incorretos, contraditórios e incompletos são um dos piores pesadelos destas
inciativas. E pasmem, mesmo em cadastros teoricamente de qualidade vemos isso
acontecer. E quando cruzamos diversas fontes de dados, o problema é potencializado!

Outro e importantíssimo papel do CIO é começar a criar o
senso de urgência entre os executivos da organização. Uma eventual estruturação
de Data Science com um CAO não necessariamente subordinado ao CIO é uma possibilidade,
mas o CIO, tem por obrigação profissional, uma vez que é o atual responsável
pela tecnologia na empresa, a despertar o senso de urgência da organização para
Data Science.  Se não o fizer, outros o
farão. Se isto acontecer, a relevância do CIO se deteriora e ele tende a ficar
confinado à casa das máquinas, dando apenas o suporte operacional aos processos
que trazem retorno ao negócio.

Data Science, analytics, deep learning, etc, já não são
curiosidade tecnológica. São realidade e os executivos C-level, com os CIOs à
frente, devem estar antenados e desenvolvendo ações para que estas tecnologias
e conceitos alavanquem suas empresas. Mesmo em tempo de crise, aliás, melhor em
tempos de crise!

Já em 2012, a HBR mostrava claramente no artigo “Making
Advanced Analytics Work for You” em https://hbr.org/2012/10/making-advanced-analytics-work-for-you
que as empresas que usavam analítica mostravam ganhos significativos na
diferenciação competitiva.

Claro, estamos ainda no início da curva de aprendizado e o
futuro, que é medido em poucos anos (a evolução é exponencial e não linear) vai
nos mostrar muitos avanços. Recomendo ler o texto e assistir ao vídeo de 20
minutos (em inglês) de Andrew Ng, cientista chefe do Baidu, abordando o tema em
“Andrew Ng shares the astonishing ways deep learning is changing the world” (http://blog.import.io/post/andrew-ng-shares-the-astonishing-ways-deep-learning-is-changing-the-world).
Impressionante! E logo tudo isso será “business as usual”. E nossas empresas?
Como estamos? Ainda pensando no assunto como algo de menor prioridade e
deixando para fazer algo quando a crise acabar? 

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