Você já teve aquela sensação, ao ser atendido por um operador de serviços, de que o prometido não vai se realizar tão rapidamente? Provavelmente deve ter escutado: “Eu vou estar enviando um boleto”, “Vou tentar estar pesquisando em nosso cadastro”, “A senhora pode estar ligando no telefone…”. Nestas frases, o tempo verbal no gerúndio foi utilizado de modo errado, provavelmente na tentativa de passar mais cortesia e elegância na fala. Mas o mau uso do tempo verbal gera apenas a sensação de que ainda demora para a solução do problema ou de que falta assertividade.
O uso excessivo ou errado do tempo verbal no gerúndio, denominado popularmente “gerundismo”, foi disseminado em nossa cultura pela má tradução dos scripts de telesserviços, vindos dos Estados Unidos. Ao traduzir para o português frases como “I am going to sending…”, corretas na língua inglesa e apenas nela, foram literalmente transcritas para “eu vou estar enviando…”. Em inglês, essa é uma conjugação comum para o tempo futuro, mas não existe tradução literal para a língua portuguesa, já que tal estrutura não existe em nosso idioma. No entanto, achando que seria uma forma mais educada de tratar o cliente – o que é falso – passou a ser uso corrente em nossa sociedade, no início restrito aos atendimentos por telefone.
Hoje é frequente escutarmos o uso do “gerundismo” até mesmo na mídia escrita ou falada. Há alguns dias ouvi uma repórter dizer: “O boletim sobre o estado de saúde da Ministra Dilma vai estar sendo divulgado hoje às x horas”. Outro repórter comunicava: “O governo vai estar comunicando hoje as novas regras para a poupança.”
Vale lembrar que esse tempo verbal não é sempre inadequado. Existem momentos em que podemos utilizá-lo para transmitir um processo verbal em curso, ou seja, algo contínuo, em ação, em continuidade, ainda não terminado, ou uma ação simultânea a outra, tanto no passado como no futuro.
É correto usá-lo no passado se quiser dar a sensação de ação contínua, como nas frases: “Eu fui me apaixonando aos poucos” ou “Eu fui aprendendo a cada dia com os atendimentos aos clientes”. Você também pode descrever uma ação futura concomitante à outra. Imagine que precisa recusar um convite por já ter outro compromisso no mesmo momento. Você pode dizer: “Eu não posso ir ao cinema, pois vou estar jantando com amigos nesse horário” – está correto.
Se você ainda não se convenceu do quanto o “gerundismo” passa uma sensação negativa na comunicação, proponho um exercício. Repita em voz alta o trecho abaixo e observe se ele dá a sensação de maior educação ou, pelo contrário, se a sensação de demora para solucionar seu problema é maior:
“A senhora pode estar passando os seus dados para que eu possa estar verificando em nosso sistema o valor do bônus. Assim, eu vou poder estar analisando a possibilidade de nós podermos estar oferecendo um desconto.”
Agora, vamos refazer o mesmo trecho retirando os gerúndios. Releia o trecho e veja como soa mais educado:
“A senhora pode passar seus dados para que eu verifique em nosso sistema o valor do bônus. Assim, analisarei a possibilidade de oferecer um desconto.”
A frase ficou mais educada, assertiva e transmitiu mais segurança. Além disso, por se tornar mais objetiva, reduz o tempo da ligação, importante na relação com o cliente e nas metas dos call centers.
Independentemente de estarmos na função de operadores de telesserviços ou qualquer outra ocupação e, até mesmo em processos seletivos, devemos sempre tomar cuidado com as regras de nossa Língua Portuguesa. O “gerundismo” incomoda a todos, não importa a função. Evite-o para sempre transmitir uma comunicação correta.