O desafio da Transformação Digital: nenhuma empresa está a salvo!

Um tema
recorrente na midia de negócios e tecnologia é a transformação digital e seus impactos, que já
estamos vivenciando, na sociedade, empresas e na TI. Cada vez mais os mundos virtuais e físicos se interligam.
Vemos evoluções significativas nas plataformas de cloud, nos conceitos que
permeiam a ciência de dados e o uso de big data analytics, a mobilidade se
tornando ubíqua e as redes sociais já sendo encarada de forma muito mais ampla
que uma simples presença no Facebook. Aliás recomendo estudar este último
assunto pela ótica da “social physics”, que integra o estudo da engenharia das
redes sociais motorizadas pelo Big Data ( 
http://socialphysics.media.mit.edu/ ). Os negócios caminham,
indubitavelmente, para serem digitais, quaisquer que sejam seus setores de
indústria, do entretenimento ao agronegócio, da mídia à mineração. A Internet
das Coisas vai acelerar este processo. Sensores, robótica, machine learning,
impressoras 3D, Big data analytics, cloud, tudo isso junto potencializa
movimentos de transformação de impacto similar ao deslocamento de placas
tectônicas.

A
transformação digital é muito mais que uma simples e tradicional automatização.
Os sistemas básicos, que suportam o back office já deveriam ter sido
implementados e quem ainda não o fez está correndo contra o tempo, não para
inovar, mas para se manter um pouco menos atrás. Entender o fenômeno da
digitalização e fazer os primeiros movimentos pode trazer como prêmio a
liderança em um novo cenário de negócios que já está delineado: a economia
digital. A complexidade do cenário de negócios cresce exponencialmente. Já em
2010, estudo da IBM com CEOs, “Capitalizing on Complexity” já mostrava isso
claramente. Vejam em
http://www-935.ibm.com/services/us/ceo/ceostudy2010/ . A competição também subiu de
patamar. O competidor de daqui a alguns dias pode estar fora de seu radar hoje.
No cenário que nos acostumamos a gerenciar, a competição é como uma disputada
corrida de F1. Temos o grid de largada, sabemos quem são os competidores e
passamos a corrida buscando arduamente subir de posição, lutando para não
sermos ultrapassados. Mas hoje, o competidor que pode ser o vencedor entra
inesperadamente pela lateral da pista e simplesmente joga você para fora da
corrida. O resultado? As fronteiras que demarcam industrias estão simplesmente
se apagando.

A economia
digital abre oportunidades e riscos para os C-level e principalmente para os CIOs. Demanda um pensamento
criativo e inovador. Demanda pensar digital. Um exemplo, as empresas que
nasceram no mundo da Internet, como Amazon, Facebook, Google, PayPal, eBay,
AliBaba, AirBnB, Uber, Linkedin, Tesla, e inúmeras outras, já nasceram com DNA
de cloud, big data e outras tecnologias embutidas em seus modelos de negócio. Parecem
bem diferentes…não usam mainframes e muitas delas estão deixando de comprar
servidores dos fabricantes tradicionais. Mas serão, realmente, tão diferentes?
Enquanto isso, nas empresas pré-Internet ainda se discute se irão operar em
cloud ou se Big data tem valor para o negócio…

Claro que a
velocidade das respostas das empresas a este processo varia de setor para
setor. Alguns são afetados mais rapidamente e outros levarão algum tempo antes
de serem afetados. Mas, mais cedo ou mais tarde, todos os negócios serão
information-driven e nenhuma empresa passará ilesa pela transformação digital.

As mudanças
podem ser de processos de negócio. Um exemplo é o SenseAware da Fedex que
utiliza sensores para garantir que pacotes com conteúdo sensível seja
monitorado quanto a temperatura, exposição à luz e condições de armazenamento.
Serviço criado para atender por exemplo ao transporte de órgãos humanos. Aliás,
importância de ser uma empresa information-driven está nas palavras de seu
fundador há mais de 35 anos atrás: “The information about the package is as
important as the package itself”.

A
transformação também pode ser no modelo de negócios. A indústria automotiva
passa a ter novos concorrentes como Apple e Google, e com o conceito de “shared
economy” decolando, começa a trilhar o caminho de ser uma empresa de
serviços.  O CEO da Ford no keynote do
CES 2015 disse que a empresa está se transformando em empresa de tecnologia,
deixando de ser exclusivamente fabricante de veículos para ser uma empresa de
serviços de mobilidade. Vai continuar fabricando carros, óbvio, mas a receita
tenderá a crescer em torno dos seus serviços e não da venda em si. A sua
palestra pode ser vista (50 minutos) em
http://www.cesweb.org/News/CES-TV/Video-Detail?vID=UTlmIgRwbxXH&dID=DliGIusJiD1C&sID=OhYr3WpdgEMj. Mas outros setores tradicionais
começam a ver sinais de mudanças a frente, como o financeiro: Kickstarter
(crowdfunding), Bitcoin (moeda virtual), Square (pagamento móvel) e LendingClub
para empréstimos peer-to-peer (
http://www.forbes.com/sites/stevenbertoni/2014/08/27/the-unstoppable-share-economy-lendingclub-files-for-500-million-ipo/).

A indústria
hoteleira é outra que está sendo transformada em seu modelo de negócio. Redes
tradicionais como Accor, Hyatt e Hilton que degladiavam entre si passaram a
enfrentar um novo concorrente, com outro modelo de negócios, a AirBnB. Não tem
hotéis ou quartos próprios. Usa o modelo de “shared economy! E surgiu de
repente. Aliás, é uma empresa de software que atua no setor de hospedagem.
Exemplo vivo da competição que vem de outros setores, antes jamais discutidos
nas reuniões de estratégias do board das empresas hoteleiras.

O Whatsapp
não nasceu de dentro da indústria de telecom e está comendo a receita de SMS. O
Skype, também alienígena ao setor, já devorou grande parte das receitas de
telefonia.

A Internet
das Coisas e as impressoras 3D tem o potencial de revolucionar as industrias
tradicionais. A IoT não apenas poderá criar novos produtos, mas possibilitará a
criação de novos modelos de negócio baseados em serviços, gerados pelas
informações que os próprios objetos gerarão. Mais um passo na direção de uma
empresa infomation-driven.

A
responsabilidade do CIO neste cenário aumenta significativamente. Nas dinâmicas
que venho participando com CIOs nestes últimos anos vejo claramente que alguns,
é claro, já estão inseridos no mundo digital enquanto outros ainda acreditam
que este tema não deva ser liderado por TI ou que mesmo seja de
responsabilidade da TI! O papel da TI e do CIO deve ser repensado, até por
questão de manter sua relevância no mundo digital. A TI de hoje não será em
absoluto a TI de daqui a poucos anos. O perfil essencialmente técnico perde
relevância e demanda-se perfis de executivos de negócio. Para muitos é uma
mudança de postura bastante radical. É enxergar que não é mais suficiente uma
TI que suporte o negócio, com seus PDTIs e projetos que demandam meses e anos. Planos
estratégicos de muitos anos perdem valor e a TI pode e deve criar uma
plataforma que permita a empresa aproveitar os “business moments”, aquelas
oportunidades transientes que se exploradas no tempo certo podem criar
vantagens competitivas substanciais.

TI se
transforma em um componente essencial do negócio e, portanto, neste contexto os
CIOs devem adotar postura proativa, de inovação e liderança criativa. Ir além
das discussões técnicas com os fornecedores de tecnologia, mas entender como a
tecnologia poderá impactar ou revolucionar seu setor de indústria e sua
empresa. Felizmente, hoje, para ser criativo não são necessários grandes
investimentos.  Com o uso de cloud e
ferramentas de big data analytics open source conseguimos explorar rapidamente
novas ideias, a custos bastante razoáveis.

TI passa a
ter que gerenciar também um ecossistema de fornecedores e parceiros muito mais
abrangente e complexo. Enquanto antes apenas grandes e tradicionais empresas de
TI eram consideradas, vemos nitidamente que as principais inovações surgem de
novas empresas. As tradicionais, apesar de seu tamanho, longevidade e reputação,
perdem sua relevância, e vemos exemplos claros de algumas delas tentado
desesperadamente mudar seus rumos e se adaptarem aos novos tempos. Um estudo do
Gartner “CIO Survey 2013” mostra que 32% dos principais fornecedores de TI
daqui a dez anos não existem hoje ou ainda são startups. Difícil de acreditar? Basta
lembrar que a AWS surgiu em 2006 e hoje é líder inconteste em cloud computing,
ultrapassando empresas tradicionais que se aferraram ao modelo tradicional de
outsourcing e venda de hardware. Quando Amazon surgiu em 1994 como livraria
online era inimaginável que assumiria a posição de líder em um setor de TI
então dominado por empresas como IBM e HP. Aliás, quando Google surgiu há menos
de 20 anos, ninguém imaginava que não só deslocaria lideres do setor de buscas
como AltaVista, como resistiria e derrotaria gigantes como a Microsoft e seu
Bing, além de com o Android se tornar líder de mercado de plataformas de
smartphones, contribuindo decisivamente para o declínio de poderosas empresas
como Nokia e RIM. A guerra no mundo digital é rápida e letal, e o disruptor
pode sofrer ruptura em pouco tempo. O exemplo do iTunes é emblemático. Após ter
destruído valor da indústria fonográfica tradicional, está perdendo espaço para
Spotify e seu modelo de streaming.

Diante deste
contexto, na minha opinião, a pior decisão que um CIO pode tomar diante destas
transformações que não são teorias, mas palpáveis, é simplesmente omitir-se e
continuar exclusivamente concentrado na sua árdua, sem duvida, tarefa de
gerenciar o dia a dia. É uma opção, mas o risco é manter-se ou não relevante
para sua empresa no futuro próximo. Afinal a falha em entender e agir
efetivamente para responder à nova economia digital vai tornar sua empresa
vulnerável à disrupção, com todas as suas consequências.

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