Século XXI: inovações transformacionais será o normal!

O século XXI é o século das inovações transformacionais, em
contraponto ao século XX, das inovações incrementais. O que isso significa? Que
as inovações disruptivas serão constantes. A transformação contínua dos
processos e modelos de negócio serão nosso dia a dia. E já começa a aparecer a
função BTO – Business Transformation Officer em algumas empresas. No Linkedin,
por exemplo, já vemos vários perfis com este título. Pode ser visto em
https://www.linkedin.com/title/business+transformation+officer.

Mas, o que é inovação disruptiva? São inovações que
introduzem novos benefícios ao mercado, como maior simplicidade e conveniência
no uso, muitas vezes também ao menor custo. Estas inovações batem de frente com
os produtos e serviços existentes, pois a maioria das empresas não está
preparada para enfrentar modelos de negócio diferentes dos que consolidou ao
longo de décadas de sucesso. Além disso, por estarem engessadas em seus modelos
mentais e presas a processos que a levaram a posições sólidas, custam a
perceber as mudanças no mercado, subestimando as inovações disruptivas.
Mudanças bruscas não são facilmente aceitas por empresas solidificadas em seus
setores de negócio e muitas vezes, por reagirem lentamente, tentam se proteger
escudando-se na legislação. As inovações disruptivas não são ilegais,
simplesmente não estão reguladas, exatamente por serem disruptivas. O modelo
atual de legislação simplesmente é lento demais para acompanhar um cenário de
mudanças frequentes. Creio que precisamos também de rupturas no próprio modelo
de criação de legislações.

Venho estudando o assunto e creio que será interessante
analisar as mudanças disruptivas que já estão desafiando dois setores de
negócio extremamente sólidos, que se encastelam em seus segmentos e cujos
executivos (e incluo alguns dos seus CIOs) tendem a frequentarem apenas eventos
específicos do setor, passando ao largo das mudanças que já estão acontecendo
em outros. A desculpa é: ” meu setor é único e estou solidamente consolidado”.
Falo de bancos e telecomunicações.  Será
que estão tão protegidos assim? Um estudo recente da escola de negócios IMD, na
Suíça, produziu um relatório muito interessante chamado “Digital Vortex”, em
que coloca os setores de bancos e telecomunicações bem próximos do centro do
vórtex. Que isso significa? Quanto mais próximo do epicentro das mudanças, mais
suscetíveis os setores estarão da disruptura digital. Os bancos e empresas de
telecomunicações estão lá, bem próximos ao epicentro! Recomendo a leitura
em  
http://www.imd.org/uupload/IMD.WebSite/DBT/Digital_Vortex_06182015.pdf.

Vamos primeiro abordar os bancos. Apesar dos altos
investimentos em tecnologia, os bancos brasileiros vem investindo bem menos em
tecnologia que seus pares nos EUA e Reino Unido, para citar um exemplo de
mercados competitivos. Em 2014 investiram cerca de apenas 1/5 do investimento
por cliente do efetuado pelos bancos americanos e ingleses. Claro que os
mercados são diferentes e o aparato regulatório é mais rígido aqui que lá fora.
Mas se percebermos que as mudanças acabam chegando a todos os lugares, quem
garante que no futuro o cenário aqui também não será diverso do atual? Nos EUA
já vemos inúmeras startups criando um movimento chamado de “desagregação dos
bancos”. Parece heresia, mas sugiro ler o paper “Soon, You Won´t Need A Bank –
Just The Services Provided By These Startups” em
http://www.businessinsider.com/these-startups-are-replacing-banks-2014-2. Outra
leitura recomendada é “The Fintech 2.0 Paper: rebooting financial services”
em 
http://finextra.com/finextra-downloads/newsdocs/The%20Fintech%202%200%20Paper.PDF.

Vemos mudanças em diversos conceitos, como empréstimos em
formato de crowdfunding, que dispensam bancos, com startups como Lending Club,
Prosper Marketplace e Funding Circle nos EUA. Em tempo, entre 2009 e 2014 as
startups de crowdfunding levantaram mais de 715 milhões de dólares em
investimentos. Lending Club tem valor de mercado de quase sete bilhões de
dólares
(http://www.forbes.com/sites/dividendchannel/2015/04/09/lendingclub-moves-up-in-market-cap-rank-passing-pepco-holdings/).
O espaço de startups de Bitcoin, apesar de algumas incertezas, conseguiu
investimentos de mais de 400 milhões de dólares somente em 2014. Estes números
mostram que alguma coisa importante está acontecendo e no mínimo não podemos
ignorar o contexto.

E o setor de telecomunicações? Disrupções como Skype e WhatsApp
surgiram de fora do setor. Tentar se apegar a legislações obsoletas não vai
impedir a sociedade de usar estes serviços. A legislação não pode considerar
que os cidadãos são de baixo nível de inteligência e sem tutela do governo,
tendem a usar serviços de baixa qualidade e, portanto, precisam ser protegidos
pela fiscalização. Os usuários usam WhatsApp porque ele oferece uma série de
vantagens em relação ao velho SMS. Aliás, o Whats App pertence ao Facebook  e sozinho pode valer mais de 100 bilhões de
dólares
(http://www.forbes.com/sites/ericjackson/2014/02/24/whatsapp-could-be-worth-100-billion-once-it-monetizes-like-its-asian-peers/).
Por curiosidade, o Facebook, agora em 1 de setembro de 2015, tem um valor de
mercado de 245 bilhões de dólares, que é mais que a soma do valor de mercado da
Telefonica (63 bilhões), Vodafone (91 bilhões) e América Móvil (62 bilhões),
para citar alguns exemplos.

Os apps são uma preocupação para as operadoras, mas é
inevitável que façam parte do dia a dia da população. Aqui no Brasil os
smartphones saltaram de 10 milhões em 2010 para 93 milhões agora em meados de
2015. No mundo, no final de 2014 já se estimava que eram enviados diariamente
cerca de 50 bilhões de mensagens via apps contra 20 bilhões de SMS. Mas os apps
ainda tem algumas desvantagens. Os dois lados precisam ter o mesmo app, pois um
usuário de WhatsApp não pode enviar uma mensagem diretamente para um que tenha
WeChat. Embora existam 2,3 bilhões de smartphones com capacidade de funcionar
com apps, existem bilhões de celulares funcionais que só operam SMS. Também, em
viagens internacionais é mais barato usar SMS que comprar pacotes de dados.
Assim, nestes casos, apps como WhatsApp são usados apenas nos locais com WiFi
disponíveis.

O que as operadoras deveriam fazer? Pensar fora do modelo
mental e em vez de lutar contra, incentivar seu uso. Porque não expor sua rede
e dados disponíveis sobre assinantes às apps, via APIs? Porque não capturar
parte do valor que circula nestes apps? Criar um serviço que permita um usuário
de app enviar para um aparelho funcional um SMS, atuando como intermediário do
processo. Outro exemplo é incentivar o uso do pacote de dados, utilizando mais
fotos e vídeos. Uma mensagem de texto de cerca de 150 caracteres demanda uns 10
Kb. Uma foto, 100 Kb e um minuto de vídeo 12 Mb.  É uma mudança do modelo de negócios de voz
para dados.

Os negócios mais ameaçados serão aqueles que tentarem se
proteger ignorando o poder de decisão dos clientes. É essencial ficar antenado
com as mudanças, analisando continuamente as startups do setor ou de fora do
setor. Os executivos do setor de telecomunicações entrevistados na pesquisa que
gerou o relatório “Digital Vortex” disseram que sua ameaça maior, mais de 50%,
vem de startups e não de empresas do setor ou de outro setor. Aliás, as ameaças
disruptivas vindas de empresas do mesmo setor foram consideradas as menores.
Qual a lição? Sair do casulo, de olhar apenas eventos específicos do setor e
ficar de olho ao mundo à sua volta. Dali é que virão as disrupções!

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