Tu te tornas eternamente responsável por aquele que cativas. Será?



Em recente entrevista a uma dessas revistas  teen, a roqueira brasileira  Pitty levantou um assunto que deveria preocupar nossa sociedade. Ela levantou a tese de que “ser responsável por si mesmo é fundamental, é um dos caminhos para a totalidade”, argumentando que é mais fácil e injusto culpar o outro, o mundo a sociedade por nossas atitudes e erros.   Independência, livre informação e do livre acesso. Felizes somos nós, de qualquer geração, que estamos ai testemunhando esta transformação. Interatividade, redes sociais, foruns, tudo vem na esteira. O livre-arbitrio implementado na prática.

 

Pois é, infelizmente, na calada da noite, com toda esta torrente de liberdade que a tecnologia da internet enseja, mas também nas suas entranhas, esta sendo gerado um monstro terrível que vai nos engolindo e nos tornando vulneráveis e sem ação. O nome dele: “transferência indevida da responsabilidade”. A internet não é responsável por isto, mas fornece os ingredientes que a torna possível na maior parte dos casos.

 

Acordei hoje de manhã com o “Bom Dia Brasil”  berrando no meu ouvido e um oficial da polícia falando em um tal de 3 A´s. Só lembro do primeiro “Atenção”. Queria dizer a sociedade de que nós cidadãos precisamos ter “atenção” se quisermos nos livrar dos efeitos da criminalidade pois o sujeito desatento é alvo fácil dos bandidos.   Meus caros, quem tem que nos livrar dos efeitos da criminalidade é a polícia e o estado. Não um estado de atenção permanente que contribui tanto ou mais do que o cigarro e bebida alcóolica para a hipertensão arterial e diabetes. O Ministério da Saúde adverte.  Amanhã vão dizer (na verdade já dizem) “você foi assaltado?, também, para andar na Av. Paulista você tem que ter mais atenção e não andar com o notebook” . A responsabilidade pela sua segurança foi transferida a você e para seu estado de atenção. E o que o bandido está fazendo na rua?  Por que não se consegue mantê-lo preso? Por que comandam o tráfico e as operações  com um celular no presídio? Estas são perguntas a serem respondidas, enquanto a população se estressa.

 

Este é um dos tentáculos do monstro que nos atinge  por todos os lados como cidadão , neste caso  não diretamente relacionado com  internet que aliás na área governamental tem nos dado ferramentas e exemplos muito bons na prestação de serviços. Mas por outro lado ilustra com cores fortes a transferência imoral da responsabilidade que fornecedores de produtos e serviços têm de nos prestar assistência para o “canto da sereia “do autosserviço, representado algumas vezes por foruns de clientes, wiki sites ou outros do gênero  onde um desesperado fica desesperadamente procurando uma outra vítima para ver se tem algum jeito de resolver o problema que é do fornecedor. A interatividade tem que ser  uma prerrogativa,  um direito um recurso e não uma condenação!

 

O fornecedor é responsável e precisa estar disponível. Não pode simplesmente dizer, que tem um fórum, ou que o site disponibiliza um autosserviço. Ou que o manual pode ser encontrado na internet. Ou ainda que tem um wiki site onde os clientes colocam suas experiências. Isto se enquadra na mesma categoria de afirmação de que a única forma de evitar um  assalto e ter atenção e manter sua bolsa perto de seu corpo, evitando carregar objetos valiosos em áreas de risco.

 

Nós podemos e temos que ser responsáveis por nossos atos. Nós temos sim que exercer o livre-arbitrio. Só que dentre os “nossos atos”  de nossos fornecedores estão o de fornecer produtos e serviços sobre os quais têm obrigação de responder quanto a qualidade, segurança e funcionamento. Não usem a Web, muito menos a 2.0, para justificar que agora você cliente pode fazer isso sozinho. Assumam e não transfiram.

 

Como na famosa frase de Saint-Exupéry, ´você é responsável por aquele que cativas´, o fornecedor é sim responsavel pelo consumidor que conquista. Senão isso, pelo menos pelo produto que anuncie e vende a ele.

 

Pensem e comentem!

 

 

0 comentário em “Tu te tornas eternamente responsável por aquele que cativas. Será?”

  1. Este processo de transferência de responsabilidade acontece faz muito tempo.
    Um exemplo que gosto de mencionar é o dos bancos que com a desculpa do “auto-serviço” coloca o cliente a seu serviço sem nenhuma contrapartida.
    Alguém pode lembrar da “comodidade”, eu digo balela. Eles se preocupam é com a redução dos custos operacionais.
    O mesmo fazem as autoridades (como bem escreveu o Enio), a culpa não é do cidadão.
    Direitos Humanos para Humanos Direitos!

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