Chefes promovidos e demitidos

Autor: Edilson Menezes
Acredite, ainda observamos nas empresas de todos os portes e principalmente nas maiores, contratação a partir de network, sendo a confiança pessoal fator-chave. Também podemos ver a promoção de líderes somente com base nas funções anteriormente bem exercidas.
Confira este exemplo:
Durante 15 anos, P. foi o melhor vendedor de uma multinacional do ramo farmacêutico. Com o crescimento dos negócios, a empresa precisou formar mais uma célula de vendas e se reuniram para definir quem seria o líder desta célula. O diretor de recursos humanos sugeriu que contratassem um profissional de fora. O diretor nacional de vendas sugeriu que promovessem P., alegando que era o melhor vendedor da empresa e certamente inspiraria sua equipe.
O diretor de RH insistiu que não o fizesse, argumentando que P. era excelente vendedor, mas não tinha perfil de líder. Já o diretor de vendas alegou que isso era conversa de psicólogo. Concretizou, dizendo:
– Podemos formar bons líderes. A gente vai lapidando… Ninguém nasce sabendo como liderar!
Os demais diretores presentes na reunião apoiaram a fala do diretor de vendas. Naquele dia, P. voltou para casa feliz e levou a família para jantar fora. Tornara-se gerente nacional de vendas, com direito à promoção, aumento substancial de salário e generosos prêmios, caso atingisse as metas que seriam exigidas.
O gerente de recursos humanos estava certo. P. não estava pronto para liderar. Foi seduzido pelo poder. Não raro, distribuía broncas injustas e deixava as pessoas constrangidas, pois o fazia sempre na frente de todos.
Quando os componentes da equipe iam tomar água ou café e segundo seu entendimento, demoravam demais, P. passava em frente e dizia para quem quisesse ouvir:
– Por isso não bate meta, fica o dia inteiro tomando café e batendo papo!
Seis meses se passaram e nenhuma meta foi batida. Após receber diversos e-mails da equipe de P., reclamando de sua postura ditatorial, o diretor de recursos humanos pediu uma reunião.
O próprio diretor de vendas, antes simpático à promoção de P., tomou a palavra:
– Cometi um erro. Agora que o seu salário dobrou, ele não pode mais voltar a ser vendedor. O jeito é demitir P.!
Apenas alguns minutos foram suficientes para que a decisão fosse declarada unânime.
A empresa perdeu um líder pouquíssimo qualificado, mas ainda pior que isso foi ter perdido o seu melhor vendedor por conta do velho hábito brasileiro… Oferecer cargo de liderança somente porque a pessoa vai bem em determinada função.
O ex-gerente P., 35 anos, está agora desempregado e com um grande dilema em mãos. Tem 15 anos de experiência como vendedor e apenas 6 meses como gerente de vendas. Ele deixa a empresa e por seis meses ininterruptos, procura, sem êxito, uma nova colocação como gerente. Preocupado, já que o dinheiro está minguando e sentindo-se incapaz, P. acaba desenvolvendo um quadro depressivo. Sua esposa sugere que ele procure emprego como vendedor, ao invés de gerente. P. recusa:
– Lutei 15 anos para chegar ao cargo de gerência. Não é justo procurar emprego como vendedor novamente!
Um ano depois, ainda desempregado e sustentado pela esposa, a depressão avançou para síndrome do pânico.
P. engordou 20 quilos e foi submetido ao tratamento de antidepressivos tão fortes que o deixavam com aquele ar vago de quem não sabe porque está vivo. Sua esposa, sem dinheiro para comprar tanto medicamento, entrou com um processo para aposentar P. e acabou conseguindo.
Quando seu advogado apertou-lhe a mão, comemorando a vitória, ela disse:
– Desculpe, Dr., mas não tenho nada para comemorar. Só entrei com este processo por necessidade. Estou aposentando meu marido, um grande vendedor que ainda nem chegou aos 40 anos, mas é depressivo e dependente de medicamento!
O advogado assentiu, algo envergonhado e despediram-se.
Enquanto isso, na multinacional que empregou e desempregou P., sua vaga foi preenchida por um líder indicado pelo diretor de RH. A pessoa não tinha lá muita experiência neste setor e tampouco conhecia sobre os produtos, mas tinha uma “qualidade”: era de confiança.
Três meses adiante, sem sucesso, esta pessoa também foi demitida. Finalmente, a empresa aprendeu: era preciso contratar um (a) líder que reunisse as competências necessárias e preferencialmente conhecesse seu mercado.
O vice-presidente da empresa tomou a decisão certa: demitiu os diretores de vendas e recursos humanos. Investiu e colocou em seus lugares profissionais caros, porém altamente credenciados para ocupar os cargos. Estes formaram uma grande equipe de vendas e um ano depois, a empresa saltou de quinto para segundo lugar, entre seus concorrentes.
O relato sobre a vida de P. é uma ficção. Mas, você ousaria duvidar que as escolhas equivocadas de contratação e promoção podem desencadear uma péssima sucessão de eventos para a empresa e a pessoa-alvo?
Quando a iniciativa privada treina e investe em pessoas capazes de identificar quem pode verdadeiramente ser líder, a relação de ganho passa pelos seguintes setores:
– ganha a empresa, pois se está contratando e promovendo muito bem, reduz rotatividade;
–  ganha o país, que se torna mais forte e competitivo, já que as empresas estão produzindo a todo vapor;
– ganha você, que precisa de uma oportunidade justa.
Podemos contratar e promover com excelência, usando o conceito de justa meritocracia. Ou fazê-lo usando critério pessoal de escolha, mas neste caso, cabe lembrar: o Brasil pode ser muito maior que as nossas escolhas protecionistas.
Já a escolha, como sempre, é apenas sua!
Edilson Menezes é treinador comportamental e consultor literário. Atua nas áreas de vendas, motivação, liderança e coesão de equipes.

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