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Desapego x Dorapego

Autor: Edilson Menezes
Sim, eu sei. A palavra não existe. Peço licença a você que acompanha meus escritos para oferecer este neologismo inspirado na palavra desapego.
O desapego, expressão em formato original e que inspirou a produção deste artigo, representa um dos maiores desafios da humanidade, sobretudo pelos sinônimos que nosso cérebro lhe credita de maneira inconsciente. Desapegar é abnegar, é desinteressar-se. Convencer o cérebro e o coração sobre a necessidade de desapegar-se de algo ou alguém pode ser tão fácil quanto convencer o elefante a ler um livro.
Somos criaturas educadas à luz do apego desde o nascimento e tão logo adquirimos maturidade para educar, providenciamos que as próximas gerações também tenham o maior apego possível. Vale evidenciar que fazemos isso com a mais positiva intenção. Ensinamos apego aos filhos porque queremos que sejam apegados e amorosos. Ensinamos o apego à educação e cultura como ferramenta para que um dia a criança evolua. Portanto, as energias que envolvem o apego, quando positivas, são livres de dor. Repare que ninguém sofre para apegar-se ao amor, à harmonia e ao equilíbrio. Temos natural capacidade de apego ao que é prazeroso e este mesmo prazer é o motivo pelo qual não desapegamos. Mas, desafio você a refletir: e quando mantemos a cultura de dorapego?
Leia-se por dorapego dois sentidos: 1) o ato de lidar com a dor enquanto se desapega de algo ou alguém; e 2) algo ou alguém que decidimos manter em nossa vida, mesmo cientes de que só gera dor e nem de longe nos felicita.
Percebe como é no mínimo desafiador refletir? Através da dor, adquirimos hábitos, acumulamos coisas e nos permitimos acompanhar por pessoas que continuam gerando dor em nossa vida. Ainda assim, existe dificuldade para desapegar-se de coisas e hábitos nocivos ou pessoas altamente tóxicas para nossa vida e isso pode ter uma explicação simples: se o apego está enraizado em nossa alma, merecemos lidar com o desapego e o dorapego. Ou seja, na medida em que vamos abrindo espaço em nossa vida para o que não felicita, precisamos lidar com a dor gerada pelo fim do apego.
Nós, seres humanos, não temos nenhuma dificuldade para promover o desapego. O verdadeiro obstáculo é a dor temporária que se crava no cérebro e no coração quando colocamos na rua o que não faz bem. Ao invés de olhar e aprender com o dorapego, nossa tendência é temê-lo e quanto maior o medo, mais forte se torna o apego. Percebe como somos estratégicos?
Usamos o apego como blindagem para que não exista a dor de lidar com o fim daquilo ou daquele que se vai.
É chegado o momento de dorapegar-se e desapegar-se, amigos leitores. Traduzindo, aceitar e aprender com a dor, para em seguida deixar partir ou fluir aquilo ou quem deva seguir.
Sem encarar e aprender com a dor que a abnegação deixa, não haverá desapego. Ao contrário disso, a tendência é aumentar o apego até que se torne dependência. Afinal, a evolução imediata ao apego é o vício.
O cigarro começa com mero apego pelas sensações e evolui para dependência química. 
A expressão “eu não sei viver sem ele”, comum em relações desgastadas, reflete a dependência daquilo que um dia foi mero apego e hoje clama pelo dorapego. 
Um prejudicial pacote acomete a sociedade em todas as classes sociais: ansiedade, insônia, depressão, transtornos diversos, rancor e mágoa. A única estratégia para se ver livre deste pacote é alimentar a cultura do desapego e pagar o preço do dorapego.
Empresários precisam aprender que não é razoável e tampouco evolutivo manter uma cultura organizacional nociva aos colaboradores, sob o pretexto de lucrar mais.
Como seres que habitam e buscam a mesma evolução, merecemos entender que as crenças de Pedro jamais serão melhores em relação ao que Antonio acredita. Cada ser humano conduz no âmago o apego por qualidades impressionantes, mas também carrega no coração o apego por defeitos enraizados na alma desde tempos remotos, pois temos apego por crenças das quais não nos orgulhamos, mas toleramos e mantemos porque circulam em nosso sistema familiar.
Nos aspectos pessoal e profissional, dorapego traz aprendizado e desapego abre novas portas. A opção por não se desapegar é como cortar madeira sem afiar o machado: você vai seguir vivendo, mas toda ação será longa e penosa. Será por isso que as pessoas têm a sensação de que estão envelhecendo rápido demais?
E o que seria mais saudável? Lidar com a dor em parcela única, à vista, promovendo o dorapego e o desapego imediato daquilo que não faz bem ou assumir a prestação diária e pagar altos juros por conviver ao lado de quem ou daquilo que não aprovamos?
Eu sei que fiz uma pergunta difícil e para finalizar, talvez eu e você tenhamos outra reflexão a nascer nas profundezas do inconsciente:
Imagine que a sua vida seja um grande e abarrotado armário. Se você aprender a lidar com o dorapego, será mais fácil promover o desapego e como toda superação resulta em benefício, a prosperidade encontrará espaço para adentrar, sem dor, em seu novo e desapegado armário.
A escolha, como sempre, é apenas sua!
Edilson Menezes é treinador comportamental e consultor literário. Atua nas áreas de vendas, motivação, liderança e coesão de equipes. ([email protected])

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