João Lúcio de Azevedo Filho

É preciso entender de pessoas

Autor: João Lúcio de Azevedo Filho

Muito se fala das novas tecnologias digitais e de como elas vão impactar a sociedade e o mercado de trabalho. Aumento do uso da inteligência artificial, robotização para automatização de processos, chatbots que conversam com clientes como se fossem atendentes humanos, drones que entregam produtos diretamente em sua casa, o avanço tecnológico parece não ter limite. No livro What To Do When Machines Do Everything, lançado em janeiro de 2017 pelo Centro do Futuro do Trabalho da Cognizant, é possível destacar que, apesar dos avanços tecnológicos da 4.ª revolução industrial, o grande pivô de todas essas evoluções sempre será o ser humano. Grande parte do sucesso das empresas é e continuará sendo resultado do comportamento humano, reflexo dos perfis de liderança e de como as pessoas reagem às mudanças.

A hierarquia presente no modelo de gestão vertical perde cada vez mais espaço nas organizações mais modernas. No mundo digital, considerando a velocidade com que evolui, essa abordagem se mostra até obsoleta. Modelos colaborativos de gestão, com ambientes que permitem autonomia de decisão, mas com um objetivo claro e comum, fazem muito mais sentido. O manifesto “Ágil” publicado em 2001 já antecipava essa importante mudança cultural no que tangia ao desenvolvimento de software. Lá se pregava:

– Indivíduos e interações mais que processos e ferramentas;

– Software em funcionamento mais que documentação abrangente;

– Colaboração com o cliente mais que negociação de contratos;

– Responder a mudanças mais que seguir um plano.

O que talvez não se antecipava naquela época é que tecnologia e negócios um dia estariam tão amarrados que os modelos organizacionais das empresas também poderiam se beneficiar das abordagens “ágeis”.

Vejo claramente que perfis de liderança distintos influenciam diretamente no resultados dos negócios. Um líder de sucesso não é apenas um profissional com grande conhecimento técnico, mas aquele capaz de liderar pessoas, organizar projetos e, acima de tudo, inspirar seus colaboradores. O chefe não motiva e ainda não se entende com as novas gerações. O líder inspira confiança da geração X aos millenials.

Líderes conciliadores, colaborativos e que lideram pelo exemplo tendem a ser muito mais efetivos no longo prazo. Se você quer fazer com que uma equipe atinja algo, e as pessoas atuem de forma espontânea em direção a um objetivo comum, elas precisam estar tranquilas de que seguem alguém em quem confiam. Durante minha carreira, tive a oportunidade de trabalhar com gestores que atuavam de forma autoritária, e outros que agiam de forma conciliadora e ensinavam por meio das ações. Os únicos que me inspiraram, e dos quais lembro ainda hoje, foram os que lideravam pelo exemplo.

Conheci também profissionais brilhantes intelectualmente, mas que nunca despontaram como líderes ou gestores. Trabalhei com pessoas que eram dedicadas, responsáveis, com características pessoais marcantes, mas de alguma forma não tinham o apetite para o risco e se esquivavam de assumir novas responsabilidades ou áreas e atividades em que não tinham pleno conforto para trabalhar. São excelentes pessoas e profissionais, mas não tinham perfil para liderar naquele momento. Devo destacar que alguns líderes são natos, mas faz parte também de um movimento inteligente, que as empresas sejam capazes de identificar pessoas com perfil de liderança e as treinem para exercer esse papel.

Para atingir um cargo estratégico em qualquer grande corporação, é preciso sim entender do seu negócio, mas é preciso muito mais entender de pessoas e de liderança.

João Lúcio de Azevedo Filho é presidente da Cognizant no Brasil.

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