Autora: Van Marchetti
Julgar, para alguns, é um ato difícil. Para outros tantos, pode não passar de um comportamento corriqueiro. Aqui, falo do julgamento puramente humano, baseado em crenças, convicções e emissão de opiniões pessoais.
Nestas últimas semanas, uma importante personalidade vem sendo alvo de inúmeras críticas e julgamentos – construtivos e destrutivos -, dependendo dos mais diversos pontos de vista. A personalidade em questão é o Sumo Pontífice da Igreja Católica, o papa Bento XVI, e sua renúncia ao mais alto cargo de liderança da hierarquia na Igreja.
Há opiniões divididas entre ser um ato de coragem ou de fraqueza. Não estou aqui para julgar ou especular, mas para refletir e traçar um paralelo entre comportamentos e atitudes e seus impactos no ambiente e na condução de outros comportamentos e atitudes.
Em um de seus recentes pronunciamentos, Bento XVI diz que “o verdadeiro discípulo não serve a si próprio, mas ao seu Senhor”. Isso me trouxe à tona uma metodologia de liderança de enorme sucesso, baseada no Best Seller de James Hunter – Como se tornar um Líder Servidor. Eu particularmente acredito na liderança servidora. Mas onde quero chegar com esse paralelo?
Para determinadas pessoas, o ato de servir pode parecer um ato de fraqueza. Sendo analisado por outro ângulo, o verdadeiro líder servidor é um mentor. E o que é um mentor? É um guia, um orientador que exerce influência diretamente no comportamento de seus liderados. Sob este prisma, Bento XVI com sua renúncia, talvez tenha lançado mão de humildade e desapego, qualidades indispensáveis para um líder de resultados. Mas acima disso, penso que com sua atitude tenha lançado mão de uma importante estratégia para influenciar e superar as doenças que invadiram a Igreja: o individualismo, as divergências e o mau corporativismo. Se o resultado será o esperado no cunho religioso, somente o tempo nos dirá.
Essas mesmas doenças se encontram também enraizadas nas empresas. Egos que transformam comportamentos em desejos de aparecer, que anseiam incansavelmente pelo aplauso e pseudo reconhecimentos. Então pergunto: qual o papel dos líderes nesse cenário? Quais comportamentos e atitudes esperados? Cabe aos líderes serem os intermediários nessa guerra corporativa?
Eu respondo: Sim! Isso é necessário agora e sempre. Volto a defender a figura do “Líder Servidor” pois ele não é um fraco, mas antes de tudo, um guia de conduta. Cada empresa tem sua cultura organizacional, seu conjunto de normas e valores e cabe aos líderes incutir em suas equipes esse espírito. Mas, se antes isso não fizer parte de seu quadro de princípios, essa transfusão de valores não será verdadeira. Apesar do que nos cerca, temos o livre arbítrio e com ele nossas escolhas morais.
A liderança servidora não é sinônimo de liderança “boazinha e pode tudo”, como muitos leigos julgam. Ela pode e deve ter também um braço autocrático, pois as pessoas querem uma direção a seguir e quais os passos para seguir nessa direção. O equilíbrio é justamente encontrar o caminho do meio, onde o líder oferece a direção, dita as normas mas, principalmente, faz com que as pessoas sintam que fazem parte de algo maior, onde a relação de entrega transcende a relação trabalho – remuneração.
Em um atual sistema de valores, um tanto conturbado e de difícil compreensão, o líder precisa ser um exemplo a ser seguido, e algumas vezes estar disposto a fazer sacrifícios para um bem maior, mesmo que isso não seja percebido no momento e que, talvez, seja alvo de julgamentos e críticas dolorosas.
Como disse Nietzsche, “quando conhecemos o porque, suportamos o como”. Como sabemos, Bento XVI conhece o porquê. Acredito que ele esteja suportando o como porque certamente tem as qualidades de um líder servidor, que faz do sacerdócio uma entrega não a si mesmo, mas ao próximo.
Van Marchetti é diretora da Attitude Plan – Consultoria e Treinamento Empresarial.