Transforme aprendizado em performance

Autor: Luiz Alexandre Castanha
De nada adianta um ensinamento se ele não for colocado em prática. Visto assim, a colocação pode parecer um pouco cruel, mas é a mais pura verdade. Infelizmente é comum participarmos de cursos ou palestras, ter contato com novos conhecimentos mas, em pouco tempo, esquecer boa parte do que foi discutido. Como podemos cobrar então dos nossos funcionários que memorizem todo o importante conteúdo que passamos durante workshops, palestras ou treinamentos corporativos? Para que esse conhecimento não se perca e passe a fazer parte da rotina do profissional, é preciso investir nas estratégias para o durante e o pós-treinamento.
O esquecimento não é preguiça ou falta de empenho. Na verdade nosso cérebro foi formatado para ter esta capacidade. Biologicamente, seria inviável lembrar de tudo o que aprendemos por toda vida, então o cérebro vai apagando boa parte dos estímulos que recebe. De acordo com o neurocientista cognitivo Art Kohn, 70% do que é aprendido em um dia de treinamento desaparece da nossa cabeça em 24 horas. Já o neurocientista Ivan Izquierdo afirma que 99% das informações que vão para a memória acabam sumindo alguns segundos ou minutos depois. Sem esta função, seríamos incapazes de ter foco nas atividades do nosso dia-a-dia. No nosso trabalho, acontece o mesmo: somos diariamente bombardeados com informações novas e, a maioria, será esquecida para que consigamos focar na realização correta do nosso trabalho.
O ponto chave aqui é como fazer com que o aprendizado não seja esquecido e, uma vez dentro da nossa cabeça, passe a melhorar a performance do profissional. Essa é uma preocupação dos desenvolvedores de talento do mundo todo. Uma recente pesquisa realizada pela ATD Research, em parceria com a plataforma de conhecimentos Lynda.com, perguntou para representantes de 1.373 organizações no mundo quais são os principais tópicos do seu trabalho no próximo ano. Dois terços dos entrevistados respondeu que “linkar o aprendizado à performance do profissional” é sua principal meta a ser atingida. Profissionais de todos os países entrevistados colocaram este objetivo em primeiro lugar.
Existem técnicas que podem ser utilizadas para conseguir aumentar o real aproveitamento dos momentos de aprendizagem nas organizações. Uma regra de ouro é não considerar o treinamento como um processo simples de acréscimos, ignorando o conhecimento que os colaboradores já possuem. Construa links entre o novo conhecimento e aquilo que já acontece na rotina da empresa. Entenda o que seus colaboradores sabem sobre o assunto e utilize o conhecimento que eles já têm para aprender, memorizar e conseguir colocar em prática o que é novo. Um conhecimento totalmente novo, disassociado do que ele já possui, fatalmente fará parte dos 70% que esquecemos em um dia.
É preciso criar experiências, pedir feedbacks e atrair o colaborador com conteúdos apresentados de modo interessante. Para isso, a tecnologia é uma grande aliada. Utilizando técnicas como mobile learning, realidade virtual ou realidade aumentada podemos criar estímulos empolgantes para o profissional, mas sem tirá-lo completamente do seu ambiente de trabalho. Dessa forma unimos o novo com o que ele já conhece, facilitando a transformação de conhecimento em experiência. Uma sugestão seria utilizar a realidade virtual para criar simulações de situações críticas dentro do ambiente de trabalho, usar a realidade aumentada para reforçar pontos já explicados no virtual, mas mantendo o colaborador no ambiente real, e pedir um feedback sobre como estão esses conhecimentos e como ele avalia o treinamento através do mobile learning, que consiste no uso dos smartphones para o aprendizado.
Apensar dos bons resultados, não podemos considerar a adoção da tecnologia como única “salvação” para o desenvolvimento de talentos. É preciso integrá-la com um ambiente empresarial que incentiva o aprendizado e uma estrutura de trabalho que permita e estimule a utilização do novo dentro da rotina já estabelecida.
Não existe um resultado real se não houver uma mensuração. Determinadas áreas tem seus KPI’s facilmente determinados, como a quantidade de vendas ou economia de algum recurso. Para os treinamentos corporativos é necessário que haja uma avaliação constante do quanto o funcionário aprendeu, de como ele está aplicando isso no seu desempenho profissional e qual avaliação ele dá para o treinamento em si. São processos complexos, mas que garantem que o aprendizado esteja se transformando em performance e lucratividade para a empresa. O sucesso dos seus treinamentos será traduzido em profissionais mais experientes, motivados e engajados com sua empresa.
Luiz Alexandre Castanha é administrador de empresas, pós-graduado em marketing com especialização em gestão de conhecimento e storytelling aplicado a educação.

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