Segundo estudo da Neogrid, indisponibilidade de produtos no varejo alimentar atingiu patamar médio de 14,1%, enquanto a ruptura no ambiente on-line chegou a 36,41%
Os brasileiros gastaram 19,7% a mais nas compras em supermercados em 2023, na comparação com o ano anterior, segundo estudo divulgado pela Neogrid, ecossistema de tecnologia e inteligência de dados que desenvolve soluções para a gestão da cadeia de consumo. A constatação faz parte do “Panorama de Bens de Consumo 2023” da área Neogrid Insights, análise de mais de 90 milhões de notas fiscais e 2 milhões de produtos monitorados. O material é composto também por análises das marcas Horus e Smarket.
De acordo com levantamento da Horus, que oferece soluções de inteligência de mercado, o tíquete médio das compras no ano passado atingiu R$ 125,34, uma alta de 19,7% ante os R$ 104,69 contabilizados em 2022. “A inflação, que fechou o ano 4,62%, deu a sua contribuição para esse cenário, mas o aumento do volume de produtos colocados no carrinho de compras a cada ida do consumidor ao ponto de venda exerceu importante influência para esse salto. No período comparado, a média de itens por compra cresceu 20,7%, passando de 14,5 para 17,5 itens, considerando a cesta de alto giro (FMCG)”, explicou Robson Munhoz, diretor de customer success da Neogrid.
Menos legumes e frutas e mais carnes
Analisando individualmente cada cesta, os dados que mais chamaram a atenção foram os dos produtos perecíveis. Do lado do hortifruti, houve queda importante na média de itens (-13,7%) e aumento no tíquete médio (+4,3%), o que ilustra o quanto essa seção sofreu com alta de preços no decorrer de 2023 em função da grande sensibilidade relacionada às questões climáticas, que afetaram muitas culturas da cesta de frutas, legumes e verduras. Já nas carnes e aves, foi observado um movimento inverso, de elevação na média de itens (+10%) e de redução no tíquete médio da cesta (-5,7%).
O “Panorama de Bens de Consumo 2023” também lançou um olhar sobre a indisponibilidade de produtos no varejo alimentar, que atingiu níveis elevados ao longo do último ano. De acordo com o Índice de Ruptura da Neogrid, a média consolidada entre os meses de janeiro e dezembro foi de 14,14% — resultado 2,59 pontos percentuais acima do registrado em 2022, quando esse indicador ficou em 11,55%.
“O brasileiro começou o ano com o seu poder de compra bastante pressionado e isso se refletiu nas estratégias de abastecimento do varejo, que adotou uma postura mais cautelosa com a reposição. Também foi possível observar a tendência de o varejo dar preferência a produtos de alto giro com tíquete médio menor”, complementou Robson.
Indisponibilidade de produtos
De acordo com o executivo, diversos são os fatores por trás da indisponibilidade de produtos nas gôndolas, como problemas logísticos, campanhas promocionais sem planejamento, falhas nas previsões de vendas, cenário econômico, dentre outros. Mas, em 2023, considerando apenas o item mais impactado pela ruptura em cada mês, o fator preço foi o destaque. Esse quesito apareceu como causa na maior parte do ano — tanto reduzindo ofertas por causa do aumento dos custos de produção, como também no fomento do consumo por conta da sua redução.
Essa dinâmica ficou muito clara em relação ao leite, que enfrentou oferta limitada no campo, sobretudo no primeiro semestre, em razão do clima. Isso elevou os preços das bebidas lácteas, levando-as ao topo do ranking da ruptura em março, com indisponibilidade de 19,10%. O ovo, por outro lado, foi destaque em ruptura pelo motivo oposto, por conta da redução dos preços, ocupando a liderança dessa lista nos meses de agosto (16,20%), setembro (16,40%), outubro (17,80%) e novembro (18,40%).
Ruptura on-line supera a do varejo físico
De acordo com o indicador monitorado pela Lett, especializada em soluções de Trade Marketing Digital, a indisponibilidade de produtos no ambiente on-line entre os meses de janeiro e novembro de 2023 cresceu 3,21 pontos percentuais, na comparação com o mesmo período do ano anterior, chegando ao patamar de 36,41%. As seções mais afetadas pela ruptura on-line foram aquelas dedicadas aos produtos perecíveis, como peixes (59,55%), carnes e aves (50,79%) e o hortifruti (48,61%).
Os dados de ruptura on-line monitorados pela Lett mostram que os estados que mais sofreram com a indisponibilidade de produtos estão localizados, majoritariamente, nas regiões Norte e Nordeste. Lideram esse ranking o Pará (63,05%), Bahia (56,80%), Pernambuco (49,17%), Amazonas (46,96%) e Goiás (46,35%). Já os cinco estados mais bem posicionados quando o assunto é ruptura on-line são: Acre (28,30%), Rio Grande do Norte (29,23%), Espírito Santo (29,61%), Brasília (30,35%) e Rio de Janeiro (32,52%).
Café, o item mais promocionado
A Smarket, com soluções para gestão de ofertas, analisou as promoções feitas por quase 150 redes em 2023, essencialmente médios e grandes varejistas, e constatou que a mercearia foi a cesta mais contemplada pelas promoções. Entre os cinco itens mais promocionados, não houve alterações de posições entre os quatro primeiros colocados, na comparação com 2022: café em pó 500 g, óleo de soja 900 ml, margarina 500 g e leite condensado. Em quinto lugar aparece o creme de leite, que subiu três posições. Milho verde 170 g, leite em pó 380 g e creme de avelã 140 g entraram na lista dos top 15 mais ofertados.
Quanto às carnes, em um ano em que as proteínas mais acessíveis foram priorizadas pelos consumidores, o filé de peito de frango (1kg) foi a opção mais ofertada pela base da Smarket. Já nas bebidas, refrigerantes e energéticos foram priorizados entre os top 5. Destaque para o achocolatado pronto para beber (180 ml), que saiu da oitava posição para a segunda.
Entre as bebidas alcoólicas, lideraram essa cesta a cerveja 350 ml e a cerveja long neck 330 ml. Completando o pódio, está a cerveja 473 ml, que desbancou a cachaça dessa posição. Saíram do topo o gin e a vodka e entraram algumas opções de vinhos (meio seco e suave).