Tendo como berço as preocupações ambientais e questões sociais que começaram a ocupar espaços nas empresas décadas atrás, o mundo dos negócios começa a ver consumidores e demais stakeholders cada vez mais atentos a esse e outros aspectos de alta relevância para a sociedade como um todo. Movimento que desembocou na consolidação do ESG – Environmental,Social and Governance, a equalização de critérios que passaram a orientar, de um lado, as inclinações dos investidores e, de outro, as decisões de consumo em todos os mercados. Debatendo essa nova realidade, Nelmara Arbex, sócia-líder da prática de ESG da KPMG no Brasil, Marcio Couto Lino, diretor de ESG da Tim, e Pedro Scorza, comandante e assessor de projetos ambientais da Gol, estiveram presentes na 260ª live da série de entrevistas dos portais ClienteSA e Callcenter.inf.br. Eles concluíram que providências concretas e muita transparência quanto a esses fatores passam a ser cada vez mais determinantes, também para a rentabilidade da organização e o futuro da sociedade e dos mercados.
Ao traçar um panorama histórico que vem construindo a consolidação e influência da gestão ESG junto a empresas, mercados e consumidores, a especialista da KPMG afirmou que, trabalhando há 20 anos nessa área, tem podido avaliar cada passo da evolução dos temas envolvidos. Ela foi uma das fundadoras do Instituo Eco e participou das primeiras sistematizações do conceito de sustentabilidade desde 2005. “Jamais esperávamos chegar, já no início desta década, constatando tanto interesse pelo tema. Mas, na verdade, a conversa sobre como garantir a qualidade de vida das pessoas começou muito tempo antes, tendo como marco a Declaração Universal dos Direitos Humanos, chamando a atenção a direitos elementares da vida em sociedade, muitos dos temas que fazem parte da agenda da sociedade atual.”
Esboçando uma linha do tempo na construção dessa temática, Nelmara apontou as décadas de 1960 e 1970 como a gênese das preocupações com o meio ambiente como vitais para o desenvolvimento. Começava-se ali a encarar a questão do crescimento econômico de uma outra perspectiva, sabendo dos riscos a um planeta que é finito. Porém, complementou, somente na década seguinte é que esse debate sai do mundo dos economistas e chega aos governos, concordando com a necessidade de um modelo de desenvolvimento geral sustentável. As organizações foram chamadas a participar para garantir a produção de riquezas com a proteção do meio ambiente. Passa-se, então, a um processo de orientação dos investidores sobre a relevância desses aspectos, chegando-se finalmente à estratégia abrigada na sigla ESG, que engloba, além das preocupações ambientais e sociais, também a ética e transparência por parte dos tomadores de decisões. “Estamos enfrentando problemas muito relevantes de interesse da sociedade em geral”, acrescentou a executiva da KPMG. “Por isso, o consumidor, também enquanto cidadão, tem levado esses aspectos em consideração nas suas decisões de compra. O último estudo da KPMG sobre o assunto revela que 25% dos consumidores brasileiros já levam em conta algum desses critérios ESG nas suas decisões de consumo. O que significa 10 pontos percentuais acima dos índices detectados em países da Europa e nos Estados Unidos”.
Falando do caso da Tim Brasil, o diretor de ESG destacou que a organização tem no seu braço social o Instituto Tim. “Dentro do negócio da organização, adquirimos a visão de que o momento vai muito além da ênfase em questões ambientais, como nas décadas passadas, mas se caracteriza pelo surgimento de uma espécie de capitalismo de stakeholders. Um ambiente empresarial no qual todos importam. É preciso saber, em relação à percepção da marca, o que é relevante para nossos clientes, fornecedores, a sociedade, os concorrentes, o governo e os colaboradores em geral.” Ele entende tratar-se de um conceito que vai além da sustentabilidade, mas voltado para o dia a dia da organização. De acordo com suas informações, a Tim, dentro da jornada dos parâmetros ESG, iniciou um processo de consulta aos stakeholders em parceria com uma empresa especializada independente. Um dos resultados práticos dessa empreitada foi que, como os temas de diversidade e inclusão vieram crescendo de forma permanente nos estudos, há dois anos foi criada uma gerência para cuidar desses aspectos específicos. Além disso, são realizados fóruns internos e externos debatendo essas questões também com a sociedade. E algumas das metas mencionadas foram a de atingir, até 2023, um percentual de 40% de negros no quadro de colaboradores e mulheres em posição de liderança. Da mesma forma, diante dos problemas de falta de conectividade realçados pela pandemia, a organização pretende contribuir para que a infraestrutura de conexão com a internet chegue à totalidade dos municípios brasileiros.
Por sua vez, Pedro Scorza, da Gol, mais focado na vertente ambiental da sigla ESG, relatou que, embora essas preocupações fizessem parte de abordagens dentro da organização desde o início da década passada, não havia uma organização e coordenação a respeito. Até que, há cerca de quatro anos, a empresa realizou seu primeiro movimento para sondar a percepção do universo interno e no entorno do seu negócio para avaliar as percepções em relação a esses aspectos. “Uma análise de materialidade que, apesar de nos orientar como base até hoje, será ainda atualizada no pós-pandemia. Nessa caminhada, em 2020 foi criado o Comitê ESG, na Gol, que tem uma coordenação geral, mas funciona por núcleos que contam com grupos de trabalho, stakeholders e especialistas. Foi instituído também, segundo ele, um sistema de gestão ambiental que gera relatórios periódicos para orientar as tomadas de decisão. O executivo fez ainda um resumo da complexidade em que se constitui, por exemplo, o quadro de gerenciar a emissão, disseminação e manipulação de resíduos químicos e os cuidados sanitários dentro de uma indústria como a da aviação. E arrematou com a necessidade e as providências no sentido de levar à percepção dos consumidores tudo o que a companhia vem fazendo em prol dos cuidados sanitários e de bem-estar.
No encerramento do debate, indagados sobre uma pesquisa global realizada este ano dando conta de que mais da metade das grandes organizações já contam com o envolvimento da alta direção para uma política de ESG, eles foram unânimes em concordar com essa tendência, inclusive sobre a necessidade de transparência sobre os critérios ESG. Também levando em consideração que esses conteúdos, presentes sempre de alguma forma no dia a dia de todas as atividades empresariais, se tornaram agora críticos para a própria rentabilidade dos negócios.
O vídeo com o bate-papo na íntegra está disponível em nosso canal no Youtube, o ClienteSA Play, junto com as outras 259 lives feitas desde março de 2020. Aproveite para também se inscrever. A série de entrevistas será retomada na segunda-feira (10), com a presença de Carla Sarni, fundadora e CEO da Sorridents, que falará da franquia que virou case em Harvard; na terça, será a vez de Fabio Romano, CEO, da Gafisa Serviços; e, na quarta, Arthur Carvalho, diretor de operações e sinistros da Youse.