Os adolescentes da chamada geração Z (11 a 26 anos) evidenciam um claro paradoxo: ao mesmo tempo em que, sendo os primeiros nativos digitais, veem o celular quase como uma extensão do próprio corpo e parte inerente de seu dia a dia, em termos financeiros ainda lidam com cédulas de dinheiro vivo em suas transações. O motivo óbvio é a falta de uma conta bancária para ali também darem vazão à sua vivência digital. Foi percebendo essa lacuna, ou dor, como uma grande oportunidade de negócio que outros jovens profissionais, apenas um pouco mais velhos, se uniram para criar a fintech Z1. Oferecendo conta digital independente e cartão pós-pago, a startup só faz uma exigência: que o correntista tenha menos de 18 anos. Detalhando como nasceu e se desenvolveu a ideia que, desde o início, foi profícua em atrair investidores e demanda de jovens usuários, João Pedro Thompson, co-fundador e CEO da Z1, participou, hoje (09), da 421ª edição da Série Lives – Entrevista ClienteSA.
Começando o bate-papo pelos fundamentos que desembocaram na criação da Z1, o executivo contou como foi identificada a dor que a fintech se propôs a eliminar e que parecia não estar no radar de nenhum dos players do mercado. Tudo começou, há cinco anos, por sua primeira experiência como empreendedor na Vereda Educação – ainda em atividade sob outra gestão -, atuando no conceito de low cost high quality, ou seja, educação de alta qualidade a preços mais acessíveis à classe C. Lidando com as questões de inadimplência nesse empreendimento e o quanto isso estava ligado à ausência de um bom planejamento financeiro das famílias – o que, segundo ele, é um dado de alcance nacional, com mais de 40% da população adulta brasileira se constituindo de inadimplentes em algum sentido -, ele percebeu que algo precisava ser feito em termos de melhorar a inclusão e a educação financeiras. Até que, em outubro de 2019, unindo-se a Thiago Achatz, ex-Grow Pay, e em seguida a Mateus Craveiro e Sophie Secaf, deram vida à ideia da Z1.
Depois de comentar sobre a importância do feeling para encontrar as pessoas certas e ganhar confiança para avançar na concretização de algo inovador, criando a base necessária para pivotar em um futuro o mais próximo possível, João Pedro explicou que o foco nos adolescentes da geração Z se deu pela percepção, ao analisar os públicos do segmento financeiro, a existência de um “fenômeno interessante no Brasil”. Segundo o fundador, aqui, assim como em países de estágios similares, como a Índia, por exemplo, os adolescentes, por não receberem mesadas dos pais, iniciam bem mais cedo na busca por uma independência financeira.
“Nessa luta por estudar e trabalhar de alguma forma para ter dinheiro, notamos uma dor muito grande pela falta de orientação e inclusão financeira. Os players tradicionais e os entrantes no segmento pouco estavam sintonizados com esse problema.”
A partir daí, os sócios não só vislumbraram uma oportunidade latente como identificaram aderência por parte de investidores enxergando o mesmo potencial de negócio. E, indagado sobre um eventual passo prematuro em atender a uma geração com menor renda que a anterior, os millennials, situação que permanecerá pelo menos até 2030, o CEO justificou que os Zs estão desassistidos, enquanto esses jovens já estão incluídos e desfrutam de maior condição econômica, o que é natural por terem mais idade e experiência. “É preciso lembrar que, quanto antes a pessoa se educar financeiramente e contar com apoio, mais sólida será sua base para o futuro. Sendo que esse foi o nosso insight: captar os clientes desde cedo para ficarem conosco depois também.”
Dessa forma, os primeiros passos foram, de um lado, pesquisar os perfis comportamentais dos futuros usuários e, de outro, encontrar os investidores. O resultado foi o principal indício de que a ideia ia na direção certa. De cara, em pleno início da pandemia, no começo de 2020, obtiveram a primeira rodada de investimentos tanto com o fundo Maya Capital e como de pessoas físicas, caso dos fundadores da 99, Ariel Lambrecht e Renato Freitas. Depois de iniciar as operações em forma de testes com usuários amigos e parentes, a nova fintech se lançou ao mercado nos primeiros dias de 2021 e, já em março, anunciou ter recebido um aporte da maior aceleradora americana de startups, a Y Combinator. “Tivemos o cuidado de refinar nosso produto, testar a primeira versão do app, de forma a chegar ao mercado em condições de realmente conquistar e manter clientes. E constatamos uma demanda elevada desde o início.”
Mantendo-se dentro dos limites em que se enquadra a faixa etária da geração Z, os nascidos entre 1995 e 2010, João Pedro fez questão de lembrar que, por enquanto, há uma condição sine qua non para possuir uma conta na fintech: ter menos de 18 anos de idade. “O irônico em relação à essa geração é que, a despeito de se configurarem como os primeiros efetivamente nativos digitais, não tendo noção do que seja a vida sem um celular, ao mesmo tempo se enquadram entre as poucas pessoas que ainda mexem com dinheiro vivo, porque não têm ainda uma vida financeira no digital.” E, embora haja planos de, em algum momento futuro, a empresa atender outros públicos, João Pedro explicou que uma das propostas é essa identificação com os princípios de diversidade e inclusão que marcam a geração Z. “É crucial que nossa empresa reflita os valores da geração que estamos atendendo.” Na sequência, ele ainda descreveu os planos de construção de experiência, fidelização e o planejamento de marketing da fintech.
O vídeo com o bate-papo na íntegra está disponível em nosso canal no Youtube, o ClienteSA Play, junto com as outras 420 lives realizadas desde março de 2020. Aproveite para também para se inscrever. A Série Lives – Entrevista ClienteSA terá sequência amanhã (10), com a presença de Wilson Pedreira, diretor de negócios do A.C.Camargo Cancer Center, que falará da construção da melhor proposta de valor ao paciente; e, encerrando a semana, o Sextou trará o debate as novas formas de interação e engajamento do consumidor no YouTube, com a presença de Esly Paiva, líder de pacotes comerciais e Creators Connect do Google.