A indústria alimentícia precisa estar atenta a todo esse novo contexto apontado por pesquisas, mostrando comportamentos que devem ser cada vez mais impulsionados
Autor: Enrico Milani
A imagem de que todo jovem é “viciado” em fast food, doces, frituras e refrigerante não condiz com a realidade atual. Segundo o estudo “Our Food, Our Food System”, encomendado pelo EIT Food, maior comunidade de inovação alimentar do mundo, apoiada pelo Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia (EIT, na sigla em inglês), mais da metade (52%) das pessoas que têm entre 18 e 24 anos estão preocupadas com a alimentação e procedência daquilo que consomem.
Esses jovens fazem parte da chamada Geração Z, nascidos entre meados da década de 1990 até o início dos anos 2010. Eles apontam preferir, ainda de acordo com o levantamento do EIT Food, de 2021, alimentos integrais, orgânicos e plant-based, e consideram (79%) que os alimentos processados não são saudáveis.
O cenário é corroborado pela pesquisa “A-Gen-Z Report”, da consultoria Oliver Wyman, divulgada em 2023, que indicou que a pandemia aflorou nessa geração uma preocupação ainda maior com o bem-estar, uma quase “obsessão”.
Além de estarem mais atentos em relação à alimentação, eles utilizam wearables para monitorar sua saúde, interessam-se por uma medicina mais natural e buscam informações sobre o assunto em redes como TikTok e Instagram. Ao mesmo tempo, praticamente um quarto (24%) desses jovens afirmam não cozinhar muito bem, conforme a pesquisa “Euromonitor Voice of the Consumer: Lifestyles Survey”, realizada anualmente.
Outro fato interessante é que os brasileiros, de modo geral, têm se revelado cada vez mais propensos ao consumo de orgânicos, como demonstrou a pesquisa “Panorama do consumo de orgânicos no Brasil 2021”, da Organis. Na época da realização do estudo, 31% dos entrevistados afirmaram ter consumido orgânicos nos últimos 30 dias, enquanto 34% dos participantes disseram consumir orgânicos ao menos duas vezes na semana e 71% indicaram estar dispostos ou muito dispostos a aumentar o consumo.
Por tudo isso, a indústria alimentícia precisa estar atenta a todo esse contexto, que estou certo de que não se trata de uma tendência passageira, mas de hábitos que devem ser cada vez mais impulsionados. Somente em 2020, por exemplo, a venda de alimentos saudáveis movimentou R$ 100 bilhões no Brasil. O foco, portanto, deve estar na equação saudabilidade + praticidade.
Se a imagem do jovem que só gosta de fast food precisa ser superada, outra coisa que precisamos superar é a lógica errônea de que alimentação prática não é saudável. Hoje, temos tecnologias que vão ao encontro disso, como a de embalar a vácuo alimentos cozidos no vapor, dispensando a necessidade de conservantes, e a liofilização, método de conservação de alimentos a partir da desidratação num processo com baixa pressão e temperatura, mantendo as qualidades nutricionais do produto, para citar algumas.
E ser transparente a respeito de todo o processo também é fundamental, já que o acesso a informações foi facilitado pelas redes sociais e quem produz de forma ética deve se beneficiar disso. Diz-se que os jovens são o futuro – e o futuro já chegou.
Enrico Milani é CEO na Vapza.