Tamara Lorenzoni, mestre em Gestão de Marcas de Luxo pela Domus Academy Milano

Por que as marcas de luxo estão investindo em experiências?

As marcas de luxo estão ampliando seus portfólios para incluir ofertas que transcendem os produtos físicos e entram no domínio das experiências imersivas

Autora: Tamara Lorenzoni

Beach clubs assinados, cafeterias, restaurantes em parceria com chefs Michelin, viagens que geram conexões genuínas, entre outras iniciativas que movimentam o mercado de luxo em 2024, nos dão uma certeza: investir em experiências para além do produto pode ser um ponto de diferenciação importante. Mas qual o motivo por trás desse movimento?

Inflação, mudanças nas preferências dos consumidores e tensões geopolíticas, essas foram as grandes causas da desaceleração no mercado de luxo em 2024. Juntamente com a entrada da nova geração de consumidores, uma tendência marcante tem sido a preferência desses clientes por gastar mais em experiências em vez de produtos materiais, uma mudança que é motivada por um desejo de valor e autenticidade, transcendendo o status social.

A estratégia de diversificação das marcas de luxo para o setor de serviços e experiências responde diretamente à retração nas vendas e ao comportamento emergente dos consumidores, especialmente dos Millennials e da Geração Z, que demonstram uma crescente preferência por investimentos em experiências que enriquecem a vida em vez de acumular bens materiais. Em resposta a essa demanda, as marcas de luxo estão ampliando seus portfólios para incluir ofertas que transcendem os produtos físicos e entram no domínio das experiências imersivas, como vimos com os beach clubs no verão europeu, roteiros exclusivos, acesso a eventos especiais e colaborações com artistas e designers renomados, entre outras ações para criar experiências únicas que fortalecem o vínculo emocional com os clientes. 

E o mercado de luxo entendeu isso muito antes, um dos exemplos é a aquisição da Belmond pela LVMH, que em 2018 simbolizou um marco importante na estratégia das marcas de luxo de diversificar suas ofertas para além dos produtos tradicionais, movendo-se decididamente em direção à criação de experiências e serviços exclusivos. Belmond, uma empresa renomada por seus hotéis luxuosos e experiências únicas de viagem, oferece agora desde passeios de trem em cenários cinematográficos, como é o caso do Orient Express, até estadias em propriedades históricas. A verdade é que o futuro do luxo reside para além da qualidade e da exclusividade dos bens tangíveis, mas também em uma arena onde a capacidade de proporcionar experiências ricas que criem conexões emocionais profundas com os consumidores é o grande diferencial.

Outro exemplo relacionado à moda é Dior, que recentemente lançou o Dior Gold House em Bangkok. Este conceito de loja, introduzido em 8 de dezembro de 2024, reflete a fusão da elegância parisiense com a tradição tailandesa, representando o localismo. Localizada no distrito de Ploenchit, a loja oferece uma experiência de compra diferente, apresentando uma combinação de alta moda, arte local e gastronomia assinada pelo chef com três estrelas Michelin, Mauro Colagreco. A iniciativa visa criar uma experiência que ressoa com os consumidores, alinhando-se à tendência das marcas de luxo em oferecer mais do que produtos, mas experiências únicas que aprofundam a conexão emocional com seus clientes.

As marcas de luxo frequentemente lideram o mercado nesses movimentos mais ousados, estabelecendo-se na vanguarda e permanecendo relevantes. Em tempos de recessão e uma nova geração de consumidores não seria diferente. Mas o que isso ensina para outros tipos de negócios? É provável que essa tendência se espalhe para outros setores, à medida que empresas de diversas áreas começam a reconhecer o valor de criar experiências que complementam e enriquecem seus produtos ou serviços. Veremos cada vez mais um número crescente de empresas fora do setor de luxo adotando estratégias similares para se diferenciar, aumentar o engajamento do cliente e fomentar uma conexão duradoura.

Definitivamente, a transição das marcas de luxo para enfatizar experiências além dos produtos reflete uma estratégia adaptativa frente às mudanças do mercado e das preferências dos consumidores. Experiências que transcendem os produtos tradicionais foram as respostas das marcas a esse mercado e aos consumidores, inspirando outros mercados a repensar e inovar na maneira como criam valor para os consumidores, potencializando a lealdade e a conexão emocional.

Tamara Lorenzoni é mestre em gestão de marcas de luxo pela Domus Academy Milano.

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