Em fevereiro, o número de famílias endividadas permaneceu estável na comparação com janeiro. No mês, 51,1% das famílias tinham alguma dívida, sendo que, em janeiro, esse número era de 51,8%. Entretanto, com relação ao mesmo período do ano anterior, quando atingiu 38,9% a proporção de endividados cresceu mais de 12 pontos porcentuais. Em termos absolutos, o número de famílias endividadas passou de 1,982 milhão, em janeiro, para 1,959 milhão, em fevereiro. Na comparação com fevereiro de 2015, houve uma alta de 565 mil famílias com dívidas.
Os dados pertencem à Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), realizada mensalmente pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). De acordo com a Entidade, o retorno do endividamento para a casa dos 50% em um ano sinaliza que a necessidade de consumo extrapolou a renda. Por isso, o consumidor recorre a financiamentos à medida que percebe que sua renda mensal já não é capaz de arcar com o seu nível de consumo.
Além disso, nos últimos meses houve agravamento da situação econômica do País; os preços dos produtos essenciais permaneceram elevados; o crédito está escasso e os juros, altos. E, com o aumento do desemprego, orçamento do consumidor está cada vez mais pressionado.
A proporção de endividados permanece maior entre as famílias com renda inferior a dez salários mínimos (55,2%, com queda de 0,9 ponto porcentual em relação ao mês de janeiro e alta de 14,2 p.p. na comparação com fevereiro de 2015). Já nas famílias que recebem mais de dez salários, a parcela de endividados foi de 39,4%, 0,1 p.p. acima do registrado em janeiro e 6,6 p.p.superior ao valor de fevereiro do ano passado. Já em relação aos prazos das dívidas, a pesquisa revelou que 36,3% das famílias comprometeram sua renda por mais de um ano; 23,6% possuem débitos com prazos de até três meses; 19,6% das pessoas com dívidas de três a seis meses; e 18,2% entre seis meses e um ano.
Inadimplência
Em fevereiro, 17,1% das famílias paulistanas disseram estar com as contas em atraso. Praticamente a mesma proporção registrada em janeiro (17,2%), mas 6,3 pontos porcentuais superior no comparativo com o mesmo mês de 2015 (10,8%). Em números absolutos, o total de famílias com contas atrasadas atingiu 655 mil. Entre as famílias com contas em atraso, 52,7% delas afirmaram ter débitos vencidos há mais de 90 dias; 24,7% têm contas atrasadas entre 30 e 90 dias; e 19,4% atrasaram em até 30 dias o pagamento dos compromissos.
As contas em atraso estão mais presentes nas famílias com menor renda. Entre as que ganham até dez salários mínimos, 21,8% estão com contas atrasadas – alta de 8,6 p.p. na comparação com os 13,2% registrados em fevereiro de 2015. Segundo a assessoria econômica da FecomercioSP, as famílias com menor renda sentem mais os efeitos da inflação e da alta de juros. Por serem mais sensíveis a qualquer imprevisto econômico, o crédito representa um importante meio de inclusão nos padrões de consumo e, muitas vezes, é a única forma de acessá-los. Com a crise, cresce a dificuldade de manter as contas em dia.
Já nas famílias que recebem mais de dez salários, apenas 6,3% delas contam com dívidas atrasadas – elevação de 1,3 p.p. em relação ao mesmo mês do ano passado. Em fevereiro, 6,5% das famílias acreditavam que não teriam condições de pagar total ou parcialmente suas contas no próximo mês. No mesmo mês do ano passado, esse porcentual era de 4,5% – elevação de 2 pontos porcentuais. Em números absolutos, existem 247 mil famílias que estão nessa situação.
Tipos de dívida
O cartão de crédito continua o principal meio de endividamento das famílias em fevereiro (70,1% dos endividados tinham dívida no cartão). Os outros cinco tipos de dívidas mais utilizados pelas famílias foram: carnês (16,7%), financiamento de carro (15,5%), financiamento de casa (11,3%), crédito pessoal (11,2%) e cheque especial (9,7%). Na comparação com janeiro, houve redução de 2,5 p.p. na proporção de famílias endividadas no cartão, porém, na análise anual, foi registrado alta de 23 p.p. – quando 47,1% das famílias tinham esse tipo de endividamento.
Segundo os economistas da Federação, o alto índice de endividamento das famílias paulistanas no cartão é reflexo direto da crise: com o orçamento mais apertado, muitas famílias buscam no financiamento do cartão (uma linha de crédito já aprovada, mas com juros mais altos) uma forma de tentar equilibrar o orçamento diante da queda da renda.