Rodrigo F. Santos, CEO do Grupo Mop

Desenvolver para reter: como o investimento certo evita o retrabalho eterno

Formar bem é mais do que treinar, mas criar um sistema de suporte real, contínuo e intencional

Autor: Rodrigo F. Santos

A alta rotatividade de colaboradores não é, como muitos ainda acreditam, um reflexo natural do mercado, na verdade é um alerta. Um sintoma claro de que algo está falhando na base: nos primeiros dias, nas primeiras conversas, nas primeiras entregas. A saída precoce de um profissional, sobretudo em funções operacionais ou de contato direto com o cliente, tem menos a ver com motivação e mais com preparo. Menos com perfil e mais com contexto.

Segundo um relatório da Gallup, apenas 12% dos profissionais dizem ter vivido um bom processo de onboarding em suas empresas. Isso significa que 88% começam sua jornada com lacunas de informação, de direção, de alinhamento cultural. O resultado? Queda de produtividade, desalinhamento entre times e um ciclo dispendioso de contratações e desligamentos que nunca se resolvem.

Demissões custam caro. Mas há um custo ainda mais alto e silencioso: o do retrabalho. A cada novo colaborador que não é bem desenvolvido, o time repete tarefas, reexplica processos, refaz entregas. A qualidade se deteriora, a moral da equipe cai e a curva de aprendizado nunca se completa. O Harvard Business Review estima que empresas gastam, em média, até três vezes o salário anual de um colaborador apenas para substituí-lo, sem contar as perdas intangíveis que essa troca representa.

No contexto de negócios que dependem fortemente da fluidez operacional, como centrais de atendimento, serviços financeiros ou backoffices digitais, a curva de adaptação é mais curta, mas também mais crítica. O tempo é um ativo escasso e quando o desenvolvimento não acompanha essa urgência, a empresa se torna refém de ciclos curtos, treinamentos recorrentes e um eterno recomeço.

Desenvolvimento é estratégia, não cortesia

Formar bem é mais do que treinar. É criar um sistema de suporte real, contínuo e intencional. Significa não apenas preparar alguém para “fazer o que precisa ser feito”, mas permitir que esse alguém compreenda o impacto do seu trabalho, aprimore sua execução e se enxergue como parte de algo maior. Ambientes que fazem isso com seriedade colhem consistência.

Estudos do Brandon Hall Group mostram que empresas com um onboarding estruturado e contínuo conseguem melhorar a retenção de novos talentos em até 82%. Isso não acontece por acaso. A diferença está na experiência que é proporcionada logo nos primeiros ciclos, o quanto a empresa é clara sobre o que espera, o quanto oferece suporte prático, o quanto engaja o colaborador em sua trajetória.

Reter começa no dia 1

A verdadeira retenção não se faz com bonificações tardias, planos de carreira em PowerPoint ou discursos motivacionais. Ela começa antes, como na forma como a liderança acolhe, na didática com que os processos são ensinados, na seriedade com que se trata o desenvolvimento desde o primeiro contato.

Ao ignorar essa etapa, o negócio se condena a operar no modo “emergência”, onde tudo é urgente porque tudo é improvisado. Mas quando a formação é planejada e monitorada com critério, especialmente com apoio de dados e tecnologia, a curva de aprendizado diminui, a performance cresce e a permanência deixa de ser um desafio crônico para se tornar um ativo competitivo.

Por fim, trata-se de evitar o desperdício sistêmico de energia, tempo e talento e para isso, desenvolver é o único caminho que interrompe o ciclo do retrabalho eterno.

Rodrigo F. Santos é CEO do Grupo Mop.

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