Sistemas preditivos podem analisar variáveis complexas, mas não compreendem valores, dilemas éticos ou motivações emocionais
Autor: Éric Machado
A inteligência artificial está redefinindo o papel humano dentro das organizações. Pela primeira vez na história, vivemos um momento em que a tecnologia deixa de ser apenas ferramenta e passa a ser parceira de decisão. Segundo a McKinsey (2024), mais de 72% das empresas globais já utilizam algum tipo de IA em suas operações, com destaque para planejamento financeiro, supply chain e atendimento ao cliente. A Gartner projeta que, até 2027, 80% das interações corporativas envolverão sistemas autônomos capazes de tomar decisões preditivas e interagir entre si. Diante dessa transformação acelerada, a grande questão não é mais o que a IA pode fazer, mas quem nos tornamos ao lado dela.
O avanço tecnológico trouxe ganhos de eficiência, mas também revelou uma lacuna: a ausência de uma cultura emocional madura. A Harvard Business Review mostra que 90% dos líderes de alto desempenho têm alto índice de inteligência emocional, enquanto a Deloitte (2024) aponta que empresas que investem nesse aspecto registram 40% mais engajamento e 37% mais retenção de talentos. Esses números indicam que a performance sustentável nasce da combinação entre inteligência emocional e artificial. Não basta decidir com base em dados; é preciso compreender os impactos humanos dessas decisões.
Essa integração entre empatia e algoritmo já se reflete nas empresas mais competitivas. Um levantamento da Accenture (2025) revela que organizações que equilibram decisões orientadas por IA com liderança empática aumentam em até 45% sua produtividade sem comprometer a cultura ou o bem-estar das equipes. O mesmo estudo mostra que 73% dos executivos seniores reconhecem que o maior desafio da transformação digital não é técnico, mas humano. A capacidade de preparar pessoas para conviver com decisões automatizadas, mantendo o senso de propósito, tornou-se o novo indicador de maturidade corporativa.
Há quem tema que a inteligência artificial substitua o papel dos líderes, mas a realidade mostra o contrário. A tecnologia é neutra; o que lhe dá sentido é a qualidade da consciência humana que a orienta. Sistemas preditivos podem analisar variáveis complexas, mas não compreendem valores, dilemas éticos ou motivações emocionais. A diferença entre o algoritmo e o líder está no propósito: enquanto a máquina processa dados, o ser humano processa significados. Essa distinção é o que mantém as organizações vivas e adaptáveis em meio a um mundo digital em constante mutação.
O futuro do trabalho exigirá líderes capazes de traduzir linguagens tecnológicas em conexões humanas. O World Economic Forum (2025) estima que a IA criará 97 milhões de novas funções ligadas à curadoria, supervisão e desenvolvimento de sistemas autônomos. Essa nova economia não pedirá apenas engenheiros e programadores, mas tradutores entre máquinas e pessoas. As empresas que cultivarem empatia, colaboração e autonomia estarão mais preparadas para liderar essa transição.
A inteligência artificial pode acelerar decisões, mas é a inteligência emocional que garante direção. A verdadeira revolução não é tecnológica, é cognitiva e humana. As organizações que aprenderem a unir neurônios e algoritmos construirão ambientes mais criativos, sustentáveis e éticos. O futuro não será dominado por máquinas que aprendem, mas por pessoas que evoluem com elas, e essa talvez seja a mais profunda transformação do nosso tempo.
Éric Machado é CEO da Revna Tecnologia.

								



















