Ontem, dia 5 de abril, completou uma semana que o jornalismo brasileiro perdeu um de seus maiores ícones: o querido e admirado “mestre” Armando Nogueira!
Armando faleceu aos 83 anos em sua residência no Rio de Janeiro no dia 29 de março, deixando um legado inestimável para todo o povo brasileiro. Famoso pela sua presença constante e apaixonada no jornalismo esportivo, Armando Nogueira foi também o criador do “Jornal Nacional” da Rede Globo de Televisão, onde trabalhou entre 1966 e 1990.
Acreano de Xapurí, cidade distante 200Km da capital Boa Vista (onde também nasceu Chico Mendes), Armando Nogueira mudou-se para o Rio aos 17 anos de idade. Formou-se em Direito, mas foi no jornalismo que se realizou profissionalmente.
Segundo o próprio Armando, a sua carreira foi impulsionada pelo destino, tendo ele sido o único fotógrafo a registrar a histórica confusão na copa de 1954, conhecida como a “Batalha de Berna”, quando as seleções do Brasil e Hungria brigaram no vestiáriuo após a derrota da seleção canarinho. Este mesmo destino quis ainda que o jovem repórter Armando Nogueira fosse testemunha ocular do atentado ao então deputado Carlos Lacerda, que acirrou a crise política no país e culminou com o suicídio de Getulio Vargas em agosto do mesmo ano. Este episódio fez com que Armando inaugurasse no Brasil o relato jornalístico em primeira pessoa, fato inédito até então.
Podemos dizer que Armando Nogueira foi abençoado com o “dom da palavra”, sempre buscando a perfeição singular em seus textos. Era conhecido como uma pessoa capaz de escever “poemas” em forma de prosa. Seus textos abusavam da perfeição, com a sabedoria em usar a palavra certa para cada sentido, frase ou expressão. Um estilo próprio, inconfundível pela qualidade e beleza sonora, mas que nunca inibia a empatia com o seu leitor. Do alto se sua sabedoria, e com a humilade dos grandes mestres, conseguia transcrever temas difíceis e complexos, em palavras perfeitas, como música disfarçada de texto, suave e brilhante para os nossos ouvidos plebeus. Um professor da arte de escrever.
A vida me proporcionou a incrível oportunidade de conviver com ele em algumas oportunidades, durante reuniões, almoços, jantares e eventos que organizei em minha carreira. Um aprendizado indescritível, uma experiência inesquecível. Armando Nogueira era uma pessoa extremamente simpática, um jeito simples e cativante. Sempre com a atenção de professor e o carinho de avô.
Como se não bastasse seu sucesso como jornalista e cronista esportivo, Armando Nogueira foi autor de 10 livros, todos sobre o esporte: “Bola na Rede”, “O Homem e a Bola”, “Bola de Cristal”, “O Vôo das Gazelas”, “O Canto dos meus Amores”, “A Chama que não se Apaga”, “A Ginga e o Jogo” e “Na Grande Área”, além das parcerias com Araújo Neto em “Drama e Glória dos Bicampeões”, e com Jô Soares e Roberto Muylaert em “A Copa que ninguém viu e a que não queremos lembrar”.
Além disso, seus textos estão incluídos em antologias dos melhores cronistas brasileiros e alguns de seus livros são adotados em diversos cursos de língua Portuguesa e de Literatura de segundo grau e no circuito universitário no Brasil.
Enfim, motivos de sobra para uma singela homenagem do Clube do Livro, registrando a imortalidade de um grande cronista esportivo, de um jornalista que marcou época, de um poeta que escrevia em prosa seus textos incríveis e de um corajoso piloto de avião, outra de suas paixões intensas. Um professor fascinante, que marcou várias gerações, inclusive a minha. Um país se faz com homens e livros, e somos, a partir de agora, quase duzentos milhões de órfãos do mestre Armando…
De todas as entrevistas, comentários e frases que foram reproduzidas durante a semana, em uma infinidade mais do que merecida de homenagens, a que mais me tocou foi exatamente a do seu amigo Zagalo, a quem Armando me apresentou, e com quem dividimos momentos inesquecíveis, e de quem tomo emprestada a mensagem final nesta homenagem: “Que saudade, Armando…”
Descanse em paz, mestre.