Conforme divulguei aqui no Clube Do Livro, no período de de 25 a 27 de maio aconteceu em São Francisco Xavier (distrito de São José dos Campos) a 5ª edição do Festival da Mantiqueira – Diálogos com a Literatura. Com o objetivo de incentivar novos visitantes para o próximo ano, resolvi contar um pouco de como o evento este ano – a segunda edição que eu participo.
Primeiro vamos falar do local, uma escolha que não poderia ser melhor. São Francisco Xavier é um lugar especial! Um distrito que tem menos de 4 mil visitantes, com um clima bucólico e que faz do Festival da Mantiqueira um encontro absolutamente intimista, exatamente o que propôe o tema – Diálogos com a Literatura. Durante três dias, autores e leitores convivem em um clima agradável de cidade do interior. Por alguns momentos, temos a sensação de estar, de certa forma, definindo um novo curso para a nossa literatura.
De cara, eu tive o privilégio de ser selecionado para participar para a Oficina de Literatura para Professores – um evento fechado organizado pela Secretaria de Cultura SP, e coordenado pela APAA (Associação Paulista dos Amigos da Arte). Durante os três dias, o escritor carioca e professor de história Clovis Bulcão (autor de “A Quarta Parte“) explorou o tema “Literatura, Mídia e Educação” com uma turma de 30 professores, compartilhando experiências e promovendo dinâmicas em grupo. Conheci grandes professores de várias cidades e fiz novos amigos. Um experiência profissional e pessoal inesquecível!
Clovis Bulcão e os colegas da Oficina Literária
A proposta do festival, criado em 2008, é aproximar escritores e leitoresatarvés de palestras, debates, sessões de autógrafos com personalidades de renome nacional e internacional, bem como atividades para crianças e shows artísticos. A intenção é criar um ambiente onde lazer e boa literatura se encontram, dentro do clima agradável do distrito.
Neste ano, a programação final foi divulgada muito próxima a data do evento, mas valeu a pena esperar pois trouxe muitos escritores de renome para um bate-papo com o público. A seguir alguns destaques que, na minha opinião, valorizaram demais o evento deste ano.
Sob o comando do escritor, jornalista, músico e também escritor Cadão Volpato, todas as sessões são planejadas a fim de proporcionar momentos inesquecíveis para leitores, escritores, professores, estudantes e curiosos. Logo na manhã de sábado, dia 26/5, a palestra sobre “Literatura & Entretenimento” com Carlos Eduardo Novaes e Flávio Carneiro foi muito divertida. Novaes, que tem diversas incursões no teatro, TV, cinema e jornal, falou bastante de humor e de sua obra em geral – tem 43 livros publicados, em especial do seu livro mais recente “Redemptoris, a saga do Cristo desaparecido“. Já o ensaísta e escritor Flávio Carneiro possui tem 14 livros publicados, inclusive no exterior, e sua obra mais recente é o romance “A Ilha“, um ficção científica que também se passa no Rio de Janeiro.
Carlos Eduardo Novaes
Na tarde de sábado, talvez o ponto alto do festival, que foi o bate-papo descontraído com o músico Zeca Baleiro, também autor do livro “Bala Na Agulha – reflexões de boteco, pastéis de memória e outras frituras“. O livro, lançado em 2010, reúne textos que Zeca escreve desde 2005 em seu site “Mais à guisa de blague de de blog”. Zeca é um sujeito super inteligente e esteve muito a vontade para falar temas que variaram desde seu nome “José Ribamar” até a origem de seu apelido, passando confortavelmente por política, literatura, cinema comportamento, família, religião, gastronomia e, é claro, música! Zeca contou que ele e seus irmãos tomaram gosto pela literatura muito cedo, sempre incentivados pelo pai. Mas confessou que ficou meio “traumatizado” com um professor que obrigou os alunos, na oitava série, a ler simultaneamente “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e “O Estrangeiro”. Tais livros o influnciaram bastante, mas Zeca brincou que alguns amigos deviam ter “se matado” com esses livros… E Zeca Baleiro ainda fechou a noite com um show memorável no gramado do Festival!
Zeca Baleiro
Já no domingo, na Tenda dos Estudantes, vale o comentário para a palestra do apresentador de TV e autor Vinícius Campos, que estava lançando o seu livro “O Amor nos Tempos do Blog” – um livro super atual com a linguagem das Redes Sociais.
Mas o destaque do domingo foi a palestra “A mulher na escrita ao longo dos tempos”, que reuniu a atriz e autora Maitê Proença, e as escritoras Tatiana Levy e Carola Saavedra. Apesar de algumas divergências de opinião entre as participantes, foi um discussão muito interessante. A nova geração de escritoras reforçou o papel decisivo de Clarice Lispector e Virginia Wolf, que romperam com um padrão feminino anterior, além de Cecília Meireles, que todas concordaram que não recebia os devidos créditos pela sua obra.
A premiada Tatiana Levy (autora de “A Chave da Casa“) enfatizou não gostar da definição “literatura feminina”, lembrando que não existe o termo correspondente masculino. Já Carola Saavedra (autora de “Toda Terça“) lembrou que tal definição não faz sentido desde que a mulher começou a trabalhar e participar da política. Maitê Proença (autora de “Entre Ossos e a Escrita“) destacou que as escritoras romperam com um padrão “de temas domésticos” mostrando que também sabem escrever, apesar de falar muito de seus conflitos pessoais entre tarefas da casa e sua profissão principal de atriz de TV.
Painel Feminino com Carola, Tatiana e Maitê
O Festival da Mantiqueira conta ainda com a participação efetiva do “Espaço Cassiano Ricardo”, organizado pela Fundação Cultural local e que promove exposição, cursos e palestras com autores da região. Nesta edição, a FCCR ajudou na divulgação e comercialização de mais de 90 títulos e 18 lançamentos. Destes, vale a pena destacar a autora Stefânia Andrade com a série de livros infantis “Melissa“, e o livro acadêmico “Métodos de Pesquisa: Sócrates a Marx e Popper“, de Leonidas Hegenberg e Flavio Edmundo Hegenberg.
Enfim, estes foram apenas alguns exemplos de apresentações que eu vi e participei. Mas o festival oferece algumas atrações simultâneas, e nem sempre é possível participar de tudo… Isso sem falar das apresentações culturais no Coreto, na Biblioteca Solidária, o bar excelente Photozofia e as diversas atrações nas ruas do distrito.
Um lugar para encontrar e fazer amigos!
De qualquer forma, mais uma vez a programação do Festival da Mantiqueira proporcionou um encontro inesquecível, em um local fantástico e em um clima totalmente descontraído e agradável. Um verdadeiro “oásis” para os amantes da leitura, onde você pode pegar um autógrafo, tirar uma foto, bater um papo e até tomar um cafezinho com grandes autores da literatura brasileira e internacional.
Tudo em um clima intimista, onde o objetivo maior é alcançado, com sobras: aproximar autores e leitores, ou seja, promover o diálogos com a literatura. Planeje-se para 2013.
Sem sombra de dúvida, eu recomendo!
Abraços,
Marco Barcellos
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Em 2013 estaremos no VI Festival da Mantiqueira Marco Barcellos. Participando das oficinas, shows e fazendo amigos. Legal o seu blog.