As pessoas devem se abrir para uma transformação coletiva, apoiando a construção de ambientes mais inclusivos
Autor: Marcelo Ribeiro
Falar sobre Diversidade e Inclusão ainda é algo relativamente novo na sociedade e nas empresas. As discussões mais profundas sobre o tema começaram a ganhar corpo nos últimos anos, em um momento no qual, mais do que nunca, encontramos e convivemos com pessoas diversas, seja em gênero, raça/etnia, orientação sexual, entre tantos outros parâmetros.
Eu entrei de cabeça nesse mundo para entender como é possível ajudar as pessoas a conviver com as diferenças. Nós nascemos em uma sociedade historicamente machista, racista, “LGBTfóbica”, capacitista, entre outros. Vivi alguns desses preconceitos na pele por conta da minha orientação sexual. Nasci em um bairro da periferia, no qual ser gay ou ter comportamentos não considerados de menino, infelizmente, era visto como algo errado e esquisito.
Com o passar do tempo, ao entender que não havia problema nenhum em ser quem eu era, eu pude estudar, me aprofundar no assunto e me ressignificar. Hoje faço parte de um grande movimento para ajudar na desconstrução de crenças que não servem mais, para auxiliar as pessoas a conviverem, tanto em sociedade quanto nas empresas, com as diferenças, para que a diversidade seja cada vez mais valorizada e que as pessoas possam aceitar e legitimar suas histórias.
Levando esse contexto para dentro das empresas, como fica a questão da liderança em relação à Diversidade e Inclusão? Na verdade, a gente transforma a cultura de uma empresa trabalhando junto com as lideranças — e não para elas. As pessoas tendem a aceitar a mudança quando sentem que pertencem a algum lugar ou a um grupo e são convidadas a mudar junto.
Tive a oportunidade de participar do 1º Summit “Inclusão como Solução: Estratégias e Práticas Inclusivas para Inovar”, e confesso que fiquei emocionado por poder compartilhar um pouco dessa jornada e ver tanta gente falando a mesma língua.
Para dar início a essa jornada de Diversidade e Inclusão dentro de uma empresa, além de atuar junto com a liderança, é preciso seguir alguns passos. Em primeiro lugar, é preciso ter coragem para começar, pois ninguém disse que será um caminho fácil e sem desafios. A primeira ação é entender em qual momento a sua empresa está atualmente. Está mais reativa a mudanças? Ou está aberta à inovação e lida bem com a experimentação? É importante ter essa radiografia para identificar qual é a intensidade do movimento que a gente dá conta de fazer nesse momento.
Ao longo das minhas pesquisas, conversas, acompanhando times executivos em processo de mentoria e coaching, ficou claro que a mudança começa no respeito. A partir do momento que percebo que o estilo do fulano é diferente do meu, mas tem algo que eu posso aprender com ele e somar, isso é o que eu chamo de respeito. Eu vejo e legitimo a outra pessoa (empatia).
Depois de compreender qual é a fase da empresa, é preciso definir os objetivos macro e aprofundar o mapeamento. É preciso escutar as vozes da organização: senso geral, entrevistas com o Comitê Executivo e grupos focais com diferentes níveis da organização para a criação de um plano rumo a esse ambiente mais inclusivo.
Um ponto importante nessa jornada é ter humildade para ser aprendiz. Abrir a mente para escutar e dialogar. O diálogo é um pilar importante nesse caminho: eu falo o que eu penso, eu escuto o que você pensa e a gente vai trocando e aprendendo junto. Como diz a filósofa e escritora negra Djamila Ribeiro, é preciso respeitar o lugar de fala. Sem isso, não há troca.
A resiliência também é uma característica mais do que necessária nessa trajetória. É bacana quando a empresa se torna, de fato, diversa — os resultados e o clima melhoram, mas o caminho é árduo. Como seres humanos, tendemos a conviver com pessoas parecidas, na nossa bolha. Ou eu sou capaz de almoçar, tomar café e lidar com pessoas diferentes de mim?
É preciso ter resiliência para acolher perspectivas diferentes, para dialogar, pedir ajuda e se comprometer com o autodesenvolvimento. Flexibilidade ajuda a melhorar a abertura para aceitar a Diversidade. E a cada final de ciclo, fazer uma reavaliação e novas rodadas de melhorias.
As empresas que estão avançando mais rápido tem times executivos recebendo mentoria para esclarecer dúvidas e patrocinar o movimento de mudança. Elas escutam mais as pessoas através de pesquisas e em grupos focais para direcionar esforços com mais impacto, incluem vozes diversas em palestras e diálogos e investem em programas robustos de desenvolvimento em suas lideranças numa jornada rumo a um ambiente inclusivo, que vai além do cumprimento de quotas e indicadores.
Eu costumo dizer que toda transformação legítima começa dentro de si. Com autenticidade e coragem para me posicionar, convido as pessoas a se abrirem para uma transformação coletiva, apoiando na construção de ambientes mais inclusivos. Esse trabalho só está começando, é uma jornada. Mas estou pronto para colaborar para uma sociedade cada vez mais diversa e inclusiva.
Marcelo Ribeiro é sócio da Exec e fundador do perfil/movimento @respeitotododia no Instagram.