Em épocas de crise, como a que o Brasil passa, as pessoas costumam valorizar mais seu dinheiro e priorizar os gastos. Nesse período, planejamentos se tornam comuns, assim como a procura por alternativas mais viáveis, o que explica o grande interesse dos consumidores por serviços de economia compartilhada. Não só é um novo meio de adquirir vivências – que hoje assume status superiores a ter produtos, como também oferece uma relação mais inteligente tanto de mercado, quanto entre empresa e cliente, como o caso da Fleety, empresa de carros compartilhados. Assim, se a pessoa não tem condições de comprar um automóvel, ela pode alugá-lo de uma pessoa que tenha um carro parado e essa tem uma forma a mais de fazer renda. “A economia compartilhada não ditará as regras do mercado como um todo, mas fará muitos questionarem o modelo atual, principalmente os negócios tradicionais”, analisa Guilherme Nagüeva, responsável pelas estratégias digitais do Fleety, que conta mais sobre esse novo setor, em entrevista exclusiva à ClienteSA.
Por que a economia compartilhada tem avançado?
Nagüeva: É um cenário onde as pessoas começam a questionar a real necessidade de posse e o uso inteligente dos seus bens. Parte do comportamento já vem de uma geração que deixou de valorizar a posse para priorizar acesso. É melhor ter acesso imediato a algo do que “estocar” para caso um dia precise. Isso vale para meios de transporte, consumo de entretenimento e a busca por experiências. Quando você une necessidade com uso inteligente e isso funciona, as pessoas passam a questionar métodos e culturas enraizadas. Some o aspecto financeiro, onde de um lado é mais barato consumir e de outro é possível reduzir custos compartilhando, com o lado da experiência que o compartilhamento proporciona e se tem o “bem-estar” que valida o quanto essa nova economia é inteligente.
Essa economia ditará o futuro do mercado e da forma de consumo?
Não ditará as regras do mercado como um todo, mas fará muitos questionarem o modelo atual, principalmente os negócios tradicionais. Vê-se montadoras, por exemplo, de certa forma desesperadas, porque as pessoas não querem mais comprar carros. Hoje, elas têm opções para se locomover melhor: Uber e similares, fácil acesso a táxis, transporte urbano eficiente e cidades preparadas pra receber bicicletas. Em São Paulo, às vezes, é mais inteligente ir de metrô do que tirar o carro da garagem. Nesse cenário, montadoras já têm começado a testar plataformas de compartilhamento e novas opções pra quem precisa ir do ponto A ao ponto B. De certa forma, não é o mercado de sharing que reforça isso, mas sim o comportamento das pessoas. O mercado de sharing é só um reflexo dessa demanda.
Qual o perfil do cliente que hoje se interessa e deseja investir nesse se tipo de economia?
Quase sempre pessoas mais novas, na faixa dos 19 aos 35 anos. Pessoas que unem acesso à informação com questionamentos sobre a cultura presente no mundo e o porquê daquilo ser seguido. Eles são a força motriz, que no fim acaba por converter até pessoas mais velhas. O fato é que acesso à informação é primordial nesse contexto. Sem ela, você não teria esse comportamento surgindo.
O que mais é importante em levar em consideração quando se cria uma empresa nesse segmento?
O mais importante é resolver um problema. É usar o compartilhamento para resolver um problema real das pessoas mesmo que, em muitos casos, você precise “criar” esse problema. Por criar, entenda “mostrar” às pessoas o que é, porque até então ninguém tinha se questionado sobre isso. O caso do Fleety, por exemplo, mais do que ter acesso a uma frota, o principal é o proprietário reduzir os custos do seu carro, compartilhando-o. Até então, não se tinha formas de reduzir esse custo sem deixar de utilizar o carro.
Como fidelizar o público com esse serviço? É preciso convencê-lo de alguma maneira no começo?
O que fideliza é a experiência, é o usuário gostar do que viveu. Aí o aspecto pode ser financeiro, social e até cultural. Para a experiência acontecer, é necessário quebrar uma barreira cultural. Fornecer conteúdo para mostrar que o compartilhamento é inteligente, resolve problemas e é acessível. Entendendo isso, as pessoas experimentam e é a experiência que as segura como usuárias recorrentes.
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