Ainda preocupados com a crise econômica, e diante de riscos como o de vir a perder seus empregos, os consumidores brasileiros, em sua maioria, estão apreensivos neste começo de ano e adiam para o segundo semestre os planos de compras ou de gastos, à espera de uma melhora do cenário nacional. É o que mostra a enquete “Hábitos e tendências de consumo do brasileiro no início de 2017”, realizada pela Deloitte.
De acordo com o levantamento, em questão aberta a múltiplas escolhas, 61% dos participantes afirmaram que vão postergar para o segundo semestre do ano possíveis gastos com viagens e com a troca de equipamentos eletroeletrônicos. O segundo desejo de compra mais citado, e que ficará para mais tarde para 51% dos pesquisados, está relacionado à troca de eletrodomésticos. A compra ou troca de carro vem em terceiro lugar na lista de desejos postergados para a segunda metade do ano (com 45% das referências).
Alguns serviços também devem ser afetados pela cautela do consumidor, já que 41% dos 1.084 consultados pelo instituto Ibope/Conecta-i afirmaram que vão protelar para o segundo semestre de 2017 os gastos previstos com cuidados pessoais. O seguimento de consumo menos afetado, de acordo com a enquete, é o de educação, já que 34% dos pesquisados planejam deixar para mais adiante seus planos de gastar com cursos superiores, de línguas ou técnicos.
“Percebemos que as pessoas têm muita vontade de que o Brasil volte logo aos trilhos. Mas, como já tínhamos percebido em nossa Pesquisa de Natal 2016, o consumidor segue cauteloso diante da crise renitente, inclusive com receio de perder seu emprego. É natural, então, que adie seus planos de compra, esperando uma melhora no cenário econômico”, avalia o responsável pela enquete, Reynaldo Saad, sócio-líder para a indústria de Bens de Consumo e Produtos Industriais da Deloitte Brasil.
Os fatores que mais influenciaram a decisão de compra dos consumidores neste início de ano foram: o receio dos efeitos da crise econômica (citado por 94% dos participantes da enquete); cautela em relação à alta da inflação e/ou dos juros (91%); o fato de os pesquisados afirmarem que sempre economizam ou poupam parte ou todo o seu décimo terceiro salário (65%); e o receio de perder o emprego (com 44% das referências).
A enquete reforça também que o brasileiro que pretendia comprar neste início de ano estava muito interessado em descontos e em preços mais baixos para efetivar suas aquisições. Em relação às grandes liquidações de começo de ano, 63% dos participantes destacaram que o fator “maior desconto para pagamento à vista” é o mais valorizado no momento da compra, seguido por promoções do tipo compre um e leve dois, com 44% de citações. Também as ofertas de produtos de mostruário com preços reduzidos atraíam a atenção de 31% dos consumidores.
“Nesse ponto, o consumidor brasileiro recebeu um bom incentivo recentemente, com a publicação da MP (medida provisória) 764/2016, no final do ano, que autoriza os comerciantes a cobrarem preços diferentes para um mesmo produto, dependendo da forma de pagamento escolhida pelo cliente (com cartão de crédito ou de débito, dinheiro à vista, crediário e outras). A medida veio acabar com uma insegurança jurídica que atingia os varejistas, já que esse tipo de diferenciação na cobrança era oficialmente proibido, bem como se tornou um ótimo impulso para melhorar suas vendas”, explica Reynaldo Saad.