Autora: Thais Antoniolli
Gosto muito da frase “A razão pela qual é tão difícil para as empresas existentes capitalizarem inovações disruptivas é porque seus processos e modelos de negócios as fazem boas para os negócios atuais e ruins para competir em negócios disruptivos”, de Clayton Christensen, professor e escritor do livro “O Dilema da Inovação”, onde discorre sobre a teoria da inovação disruptiva.
Esse contexto nos traz à tona a necessidade de desafiarmos a lógica dominante das organizações, ou seja, suas ortodoxias, que são as principais referências usadas para a tomada de decisões. As ortodoxias são crenças profundas e amplamente compartilhadas sobre o que direciona o sucesso de uma empresa ou setor. No entanto, vale ressaltar que nem sempre as ortodoxias são tóxicas, mas podem imobilizar organizações, executivos e conselhos para novas possibilidades e oportunidades.
Questionar as ortodoxias pode ser uma poderosa lente de descobertas, permitindo combater a miopia corporativa, trazendo clareza para novas conversas e a partir da identificação de crenças possibilitar modificá-las, combiná-las e até mesmo anulá-las para se chegar à novas possibilidades.
Sem dúvidas, momentos de crise intensificam o desafio às regras pré-estabelecidas, buscando-se potencialização de ganhos, sobrevivência e otimização de recursos em cenários caóticos. Mas como podemos incorporar esse pensamento desafiando as ortodoxias das empresas, do mercado e do consumidor de forma mais natural e constante?
No livro Innovation to the core: a Blueprint for Transforming the way your company innovates (Inovação como alma: um modelo para transformar a maneira como uma organização inova) de Peter Skarzynski e Rowan Gibson, eles abordam 4 etapas fundamentais para se identificar ortodoxias:
– Identificar premissas comuns e estratégias convergentes de segmentos
Questione: O que aconteceria se mudássemos as premissas e as estratégias? Há formas alternativas de se fazer as coisas? Como os consumidores se beneficiariam? Será que só por que está escrito é o correto?
– Encontrar absurdos
Buscar absurdos que as empresas fazem sob a ótica dos consumidores. Faz sentido eu mesma anunciar um imóvel em uma plataforma online e pagar pela corretagem?
– Ir para extremos
Exercitar o que aconteceria se as normas da indústria fossem desafiadas ao limite do ridículo com resultados de 50x, 100x maiores e focando como o consumidor se beneficiaria disso. E se… ao invés de comprar equipamentos de ginástica pudéssemos capitalizar sobre os ativos de outras academias em um novo modelo de negócios e gerar flexibilidade de uso ao consumidor final?
– Buscar o “E” ou invés do “OU”
Olhar situações em que os consumidores enfrentam trade-offs e pensar como resolver a situação. Será que estar na moda (fast fashion) “E” acessibilidade de compra podem estar lado a lado?
Como o autor de “Managing Transitions” (Gerindo Transições), William Bridges diz “ Antes de que as pessoas possam começar algo novo, elas precisam terminar o que costumavam fazer e desaprender a maneira antiga como fizeram.”
A inovação disruptiva ocorre quando se consegue encontrar uma solução para um problema do consumidor, de forma diferenciada, eficiente e acessível. Uma maneira de buscar essas oportunidades é exatamente por meio da desconstrução de ortodoxias vigentes, buscando quais novas possibilidades podem aparecer, quais velhos problemas do consumidor seriam resolvidos ou mesmo quais novas regras fariam sentido para determinado segmento de mercado.
Não devemos esquecer que a disrupção está centrada em resolver um problema existente ou futuro e não em simplesmente buscar soluções sem se conhecer os problemas, como ainda é a prática de muitas empresas atualmente.
Thais Antoniolli é Executiva de Estratégia e Inovação, Conselheira de empresas, Membro do Comitê de Inovação e facilitadora do Learning Community do IBGC.