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Rino Ferrari Filho, diretor-presidente e integrante do grupo de inteligência de planejamento da Rino & Partners

Percurso estranho: negando a comunicação enquanto dela se vale

Confesso que não comprarei esse produto, por causa de suas propostas não muito claras e que me parecem enfiar os pés pelas mãos, beirando a fronteira da propaganda enganosa

Autor: Rino Ferrari Filho

Outro dia chegou em casa um tênis (“de passeio”), comprado online pela minha mulher. A marca é francesa – Vert – mas o produto é fabricado no Brasil. Bonitinho.

Mas, estranhei o caminho tortuoso, porque ela teve que pagar um imposto na Receita Federal para recebê-lo em casa. Ou seja, importou um tênis brasileiro (?). 

Curioso, fui visitar o site da Vert (marca aliás que na Europa tem nome brasileiro (Veja). 

Lembrei-me dos Globe Trotters se exibindo mundo afora.  

A história de desenvolvimento do produto no Brasil pelos dois fundadores franceses (desde pesquisa de matérias primas na Amazônia, Rio Grande do Sul etc.) teve passos largos. 

Embora interessante, pois se apoia na narrativa da sustentabilidade desde a origem do produto e sua “reinvenção”, se foca igualmente na narrativa de que não fazem propaganda, por isso tem preços melhores, como se fazer propaganda fosse algo prejudicial às marcas; aliás também criaram um símbolo lateral no tênis -“V”- a exemplo de grandes marcas que são anunciantes frequentes.   

Daí foi um passo para me perguntar também quais seriam exatamente os diferenciais de sustentabilidade do produto.… 

A borracha nossa seria diferente da produzida na Indonésia, Tailândia ou Vietnã? Afinal o Brasil hoje produz pouca borracha e a importa desses países; e o couro do Rio Grande do Sul, teria algum diferencial de conforto ou outro? 

Mas bem legal fabricarem o dito cujo aqui, perto das matérias primas. E, não tão legal, dentro do Custo Brasil. 

Mais um passo e questionei também a marca que se diz “Verde” (do francês “Vert”). 

Não encontrei respostas.

Como publicitário, fiquei intrigado. Narrativa meio sem pé nem cabeça, sem um “reason why” explícito.

Mas o pior mesmo foi vê-los dizer que grandes marcas têm até 70% do custo de seus produtos advindos da propaganda que fazem. 

No caso do Brasil ainda temos os tradicionais 40% de carga de impostos que muitos dos brasileiros pagam; além dos impostos de importação.

E afirmam que ao não utilizar a propaganda estariam beneficiando seu consumidor…que diabo de valor agregado estaria sendo criado? 

E o mais surpreendente para mim, foi apregoarem esse benefício usando exatamente a propaganda e a comunicação que dizem não fazer, no melhor estilo do bom e velho storytelling, via vídeo e website. 

Confesso que não comprarei esse tênis de propostas não muito claras e que me parecem enfiar os pés pelas mãos, beirando a fronteira da propaganda enganosa.

Até mesmo porque em matéria de tênis de uso casual, difícil alguém superar o excelente Sketchers, também essa marca sendo muito pouco promovida em nosso país.

Rino Ferrari Filho é diretor-presidente e integrante do grupo de inteligência de planejamento da Rino & Partners.

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