CEO da Food To Save expõe os caminhos da criação da foodtech que busca contribuir para a diminuição do desperdício de alimentos
Um dos principais paradoxos globais, hoje, está no fato de que mais de um bilhão de toneladas de alimentos são jogados no lixo todos os anos em todo o mundo, enquanto, ao mesmo tempo, somente no Brasil, 125 milhões de pessoas ainda se encontram em situação de insegurança alimentar. Buscando ajudar a diminuir o conformismo da sociedade diante da inaceitável convivência da fome com o desperdício, nasceu a Save To Food e sua “Sacola Surpresa”. Por meio de um aplicativo, a startup conecta consumidores com estabelecimentos e redes varejistas que possuem produtos que seriam descartados. Atualmente, a foodtech já está presente em 12 cidades, levando, também, à conscientização sobre a importância da luta contra o desperdício de comida. Mostrando de que forma já foi evitado, com as vendas da empresa, o descarte de mais de 450 toneladas de alimentos no país, economizando o equivalente a 2,5 quilos de emissão de CO2 em cada sacola – já que 10% de tudo que é emitido na atmosfera provém do desperdício de alimentos -, Lucas Infante, CEO da Food To Save, foi o convidado, de hoje (24), da 548ª edição da Série Lives – Entrevista ClienteSA.
Deixando claro, logo de início, que a plataforma busca gerar valor em toda a cadeia que se beneficia, tanto no B2B como no B2C, o executivo afirmou que regendo todo o profissionalismo necessário para conquista de mercado e rentabilidade está, de fato, o propósito da startup. Em meio à trajetória de empreendedorismo que o caracteriza, Lucas assegurou que a ideia nasceu do inconformismo diante da realidade contraditória de coexistirem o desperdício de alimentos e a fome, principalmente no Brasil. A inquietude era como causar um impacto positivo com o negócio, somado ao já importante benefício da geração de empregos e o pagamento de impostos que acarreta em benefícios para a sociedade. “Minha preocupação era de que forma poderia, na ânsia de empreender, contribuir de uma forma mais sustentável e em maior proporção em termos sociais.”
Em um período sabático, na Espanha, Lucas teve seu primeiro trabalho no segmento alimentício, ao adquirir uma franquia de supermercado. Foi quando percebeu a quantidade de alimentos que eram descartados por questões de prazo de vencimento ou defeitos. Por falta de logística e tempo dos comerciantes para um reaproveitamento, esses produtos acabavam sendo destinados ao lixo.
“Comecei a estudar a legislação europeia e outras questões a respeito, me interessando pelo problema. Ao mesmo tempo verifiquei que, no Brasil, cerca de 41 mil toneladas de alimentos são desperdiçados diariamente, ao mesmo tempo em que 125 milhões de pessoas vivem ainda em um cenário de insegurança alimentar. Essa era a combinação perfeita para matar minha fome de empreender resolvendo parte de uma grande dor na sociedade.”
Instigado, nesse ínterim, a dar um panorama do problema no mundo, Lucas afirmou que quase um bilhão de toneladas de alimentos – ou quase um terço de tudo que é produzido no mundo – são jogados fora. Portanto, o problema da fome não está na produção de alimentos para atender a população mundial, que se prevê chegar a nove bilhões de pessoas em 2050. As barreiras são, no seu entender, de distribuição, de logística e, principalmente, culturais, retirando do ser humano o principal ponto de dignidade que é ter, no mínimo, um prato de comida à sua frente. “O conformismo da sociedade com essa realidade vem de décadas e é inaceitável. Da nossa parte, queremos avançar dentro do possível, mas ganhando escala de forma permanente, ajudando a suavizar um pouco dessa dor.”
Nesse sentido, acrescentou, um dos fatores é atuar culturalmente junto aos usuários da plataforma, novos ou recorrentes, explicitando o conceito do negócio em todos os pontos de interação com o mesmo. Para ele, mesmo sendo o core business da Save To Food proporcionar o chamado triple win, ou o ganha-ganha para todos dentro do marketplace, o grande desafio é mesmo o de educar a sociedade. “É preciso conscientizar o consumidor para essa nova experiência de desfrutar normalmente de um produto próximo à data de vencimento. Por meio de nosso maior canal de divulgação, que são as redes sociais, enfatizamos sempre esse fato de estarem, em nossas sacolas, alimentos totalmente aptos ao consumo. Além disso, procuramos mostrar como reaproveitar os alimentos, criar novas receitas e, enfim, aprender a desenvolver uma relação humana e consciente com a comida, diante desse triste cenário mundial.”
Dentro dessa jornada, o CEO destacou ainda o fato do consumidor perceber não se tratar apenas do válido e importante lado de fazer economia na aquisição da sacola, mas de adotar um novo mindset e contribuir com outras milhares de pessoas ao abraçar e compartilhar esse novo hábito. Em resumo, ele considera esse um papel dos mais relevantes da organização. E tudo começou, lembrou ele, no esforço resiliente de engajar os estabelecimentos varejistas na ideia. Depois de envolver os cinco primeiros, as adesões foram acontecendo e, na sequência, foi solucionada também a questão de formação de preço da sacola. Tudo equacionado, assegurou Lucas, para criar uma relação custo-benefício favorável ao comprador, sabendo que se trata de um produto a ser consumido em 24 ou 48 horas, enquanto, para a empresa, uma recuperação de parte dos custos de produção. Em síntese, o B2C alimenta economicamente o B2B.
Uma das ideias para impulsionar o negócio, de acordo com o executivo, está a criação do selo Food To Save, para evidenciar quem demonstra preocupação com a sustentabilidade. Ele ainda descreveu os detalhes do crescimento da startup, que hoje já passa dos mil estabelecimentos engajados, entre upermercados, empórios, padarias, confeitarias, hortifrutis, restaurantes, atuando por enquanto, em 11 cidades paulistas e no Rio de Janeiro (RJ).
O vídeo com o bate-papo, na íntegra, está disponível em nosso canal no Youtube, o ClienteSA Play, junto com as outras 547 lives realizadas desde março de 2020. Aproveite para também se inscrever. A Série Lives – Entrevista ClienteSA retornará amanhã (25), com a presença de Fábio Turuta, diretor de desenvolvimento de negócios da Gertec, que abordará os avanços da experiência em meios de pagamentos e varejo; e, encerrando a semana, o Sextou debaterá o tema “CX Global: Qual será a próxima disruptura?”, trazendo como convidados João Pedro Sant’Anna, CEO da SellersFlow, Ladislau Batalha, CEO do LAB Experience e Melissa Riley, especialista em CX e customer insights.