Vivemos uma mudança silenciosa mas profundamente transformadora na forma como nos comunicamos
Autor: Daniel Sabença
Vivemos uma mudança silenciosa mas profundamente transformadora na forma como nos comunicamos com empresas: a ascensão da voz. Após décadas focando esforços em interfaces visuais, cliques e digitação, a tendência mais promissora no relacionamento entre marcas e consumidores voltou-se à interface mais humana de todas: a fala. Mesmo em tempos de hiperconectividade, a voz segue como um dos canais preferidos do brasileiro. Pesquisa da Capterra Brasil revela que 67% dos consumidores ainda optam pelo atendimento por voz humana, enquanto apenas 3% escolheriam vozes sintéticas. Em paralelo, o chat com atendente humano também se destaca, sendo a primeira escolha para 48% dos respondentes. Esses dados reforçam um ponto central: o que o cliente busca não é apenas tecnologia, mas empatia, compreensão e agilidade, qualidades que a comunicação oral, bem aplicada, é capaz de entregar.
A voz é mais do que conveniência. Em um país onde 27% da população entre 15 e 64 anos é considerada analfabeta funcional, segundo o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), a oralidade cumpre um papel fundamental de inclusão. A depender do canal escolhido, o atendimento pode ser a porta de entrada ou a barreira definitiva para milhões de brasileiros. Ignorar essa realidade é manter o atendimento preso a soluções frias e excludentes. Persistir em bots limitados e menus de difícil navegação é desconsiderar não só as preferências, mas também as limitações reais de grande parte da população. A tecnologia, neste cenário, não pode ser um filtro, precisa ser uma ponte.
Felizmente, a voz está sendo ressignificada com a ajuda da inteligência artificial. As novas plataformas de IA conversacional já são capazes de interpretar intenções, lidar com sotaques, compreender emoções e oferecer respostas em tempo real com naturalidade surpreendente. Estudos indicam que interações por voz geram mais confiança e engajamento do que textos ou interfaces gráficas. Mais do que uma tendência, trata-se de uma mudança de paradigma. O futuro do atendimento não será decidido entre humanos ou máquinas, mas na integração inteligente dos dois. A voz mediada por IA representa essa fusão: garante escala, eficiência e disponibilidade, sem abrir mão da humanidade que o consumidor espera e merece.
Empresas que entenderem esse movimento como uma necessidade estratégica e não apenas uma inovação passageira sairão na frente. Investir em soluções de voz com linguagem natural, empatia programada e foco em inclusão é garantir uma experiência que realmente escuta. Porque, no fim das contas, o que está em jogo não é apenas automatizar processos, mas transformar a forma como nos relacionamos. O consumidor quer ser ouvido e, cada vez mais, espera que as máquinas saibam escutar.
Daniel Sabença é fundador e CEO da Mobcall.