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Marília Saveri, sócia da Praxis Business

Entreter para educar: poder do storytelling na aprendizagem digital

Histórias criativas, envolventes e que conectam as pessoas são capazes de educar e difundir mensagens pelo mundo

Autora: Marília Saveri

O conceito de storytelling como entendemos hoje pode até ser recente, mas a arte de contar histórias existe desde o período pré-histórico, como observamos nas pinturas rupestres. A linguagem e os meios evoluíram e hoje as histórias criativas, envolventes e que conectam as pessoas são capazes de educar e difundir mensagens pelo mundo. A magia disso tudo, muitas vezes não está só no que você diz, mas em como você diz.

No final de maio, estive no Congresso da Association for Talent Development (ATD),  o maior do mundo voltado ao desenvolvimento de pessoas, realizado neste ano em San Diego (EUA). Ao participar de várias palestras, uma delas me chamou a  atenção porque falava do poder do storytelling nos processos de aprendizagem.

Estamos habituados a ouvir sobre o conceito como ferramenta de publicidade e de marketing digital, mas, um bom storytelling pode ser uma ferramenta facilitadora e que potencializa o aprendizado.

“Uma coisa que sei sobre todas as empresas é que elas são cheias de seres humanos”, disse Mel Steinbach, da MasterClass at Work, que conduziu essa apresentação ao lado de seus colegas John Scott e Bem Cotner. “Seres humanos nas vendas, no marketing, na operação, seres humanos que aprendem. E todos sabemos que humanos se conectam a nível emocional. Que humanos se conectam com histórias”, completou.

Saí de lá com a ideia de dividir neste artigo três valiosos insights que podem transformar o dia a dia e a prática de quem está à frente de iniciativas de aprendizagem digital dentro das empresas. São eles:

1) Crie conexão emocional

Grandes roteiristas como Shonda Rhimes, por exemplo, chamam a atenção para o poder da nossa própria biografia. Muitas vezes, quando estamos à frente de uma aula ou em um papel de liderança, achamos que é preciso separar a razão da emoção para transmitir autoridade. A verdade é que usar nossas próprias histórias, experiências e até os erros, podem ser a “virada de chave” para criar relacionamento e reter a atenção das pessoas.

A roteirista, que tem um currículo de peso e é responsável por sucessos mundiais como as séries Grey’s Anatomy, Bridgerton e How to Get Away With Murder, em gravação exibida nesta palestra na Califórnia, conta que suas ideias surgem de todo canto. “Elas vêm de uma conversa, de uma briga que ouvi enquanto estava num café, de um parque onde observo as pessoas interagindo…”, explicou.

Portanto, não tenha medo de criar essa conexão emocional, pois muitas vezes é ela que desperta a identificação e o interesse pelo conteúdo que você está transmitindo.

“Acho que a filosofia ocidental nos fez um desserviço quando nos ensinaram a separar a mente e o coração”, pontua John Scotner.  “Temos essa ideia de que são coisas diferentes, mas o que aprendemos com a neurociência é que as conexões emocionais que fazemos com o mundo são fundamentais para lembrarmos da informação e podem ser usadas para apoio à retenção do aprendizado”, alegou.

Considere então, o formato “documentário” ou de “web séries” em projetos de aprendizagem digital, trazendo pessoas que contem não apenas seus sucessos, mas também seus fracassos, os aprendizados com os erros, relatando histórias reais para criar conexão, despertar interesse pelo conteúdo e ajudar os aprendizes a reter a informação.

2) Storyboard para estruturar a narrativa

Tão importante quanto a informação que você quer dizer é como e quando você vai dizer. Com o conceito de storyboard é possível criar um enredo com início, meio e fim, para contar uma história e mostrar a evolução de uma ideia. Para envolver, é preciso saber contar o bastante para despertar interesse, mas também guardar o bastante para criar surpresa e manter a atenção até o final.

A estrutura narrativa de um modelo de documentário, por exemplo, pode trazer uma tensão dramática, como nos filmes. A história pode ser organizada de tal forma a mostrar que aquela pessoa que conta a história no vídeo é um ser humano real, com suas vulnerabilidades, com certa franqueza radical. É como esclarece Ben Cotner, que antes de trabalhar com aprendizagem passou pela Paramount Pictures: “Não conte uma história de quando alguém fez tal coisa com você, conte de você mesmo errando. Quanto mais vulnerável você é, mais demonstra compaixão consigo mesmo e com os outros, para que todos possam crescer juntos”, declarou.

3) Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) e Empatia

Estamos falando o tempo todo sobre pessoas e suas histórias. Quando desenvolvemos conteúdos para treinamentos online, precisamos entender o público e seu contexto antes de preparar um material. Nesse sentido, pensar em como relacionar DEI e Storytelling sempre é bom partir do olhar individual para o coletivo. Gosto de imaginar que cada pessoa é um universo, um viajante com sua bagagem de vida, que pode ser completamente diferente da minha. E é por isso, que a empatia é tão fundamental, pois sem ela, sem esse olhar para o outro, não é possível criar conexão.

Se a ideia é focar no indivíduo, ouvir e mergulhar na sua história, é importante considerar suas experiências pessoais únicas.  Mas se quisermos que as pessoas contem particularidades de sua história, precisamos também criar um ambiente de segurança psicológica. Histórias criam contexto. Logo, pensar em DEI e Storytelling como recursos para acelerar o aprendizado e criar empatia é um caminho certeiro em processos de aprendizagem digital. De quebra, a educação divertida é melhor e gera maior engajamento.

Marília Saveri é sócia da Praxis Business, expert em estruturação de universidades corporativas.

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