Desenhar as mudanças no setor de crédito e cobrança foi o tema tratado no segundo painel do 3º Congresso ClienteSA IRC +, “O futuro do crédito”. Sérgio Reze, presidente da Fenabrave, mostrou, por meio de dados do mercado automobilístico, que, apesar das quedas proporcionadas pela crise, o setor está se recuperando, principalmente após a redução do IPI pelo governo, e que as taxas de inadimplências não são altas. Segundo Reze, o montante total de automóveis financiados em janeiro de 2008 foi de cerca de 82 bilhões e no mesmo período de 2009 foi de R$ 80 bilhões. Junto à queda nas vendas, houve o aumento da inadimplência, de R$ 2 bilhões, para R$ 3,8 bilhões. Porém, esse crescimento não é tão assustador: Reze ressalta a importância das compras feitas por meio de leasing – que hoje representa 3% dos financiamentos – para a avaliação real da taxa de inadimplência. “Se incluirmos o leasing na taxa de inadimplência – o que não é computado pelo Banco Central, a taxa cai para 2,8%. Uma taxa baixíssima!”, exclama. Para Reze, as análises devem ser feitas a partir de outubro de 2008. “O mundo de antes não existe mais”.
A análise da inadimplência feita por Marcel Domingos Solimeo, superintendente institucional da Associação Comercial de São Paulo, a ACSP, mostrou as mudanças no perfil do inadimplente decorrentes do aumento da oferta de crédito. Nos últimos cinco anos, o crédito cresceu mais que a massa salarial, demonstrando um endividamento da população. Fator que desbancou o desemprego como principal razão para a inadimplência. A partir de 2007, segundo pesquisas da ACSP, a inadimplência passou a ser explicada pelo crescimento do endividamento. O executivo também apontou que, nos últimos anos, o crescimento dos registros de inadimplência do SPC é decorrente da queda do número de créditos recuperados e não pelo surgimento de novos devedores. Para o futuro, Solimeo acredita que haverá uma queda nas vendas, decorrentes do recrudescimento das facilidades de pagamento oferecidas pelas lojas e pela cautela do consumidor. “Se houver crescimento, vai ser pequeno”, ressaltou.
A perda da hegemonia dos bancos nos financiamentos aos consumidores foi apontada como tendência por Carlos Renato Bonetti, gerente executivo da diretoria de crédito do Banco do Brasil. “Há um aumento na parceria entre bancos e não-financeiras, principalmente no varejo”, afirma. Bonetti também tratou sobre o aumento da infidelidade do consumidor, que tende a crescer com projetos como a portabilidade numérica, o cadastro positivo e a conta salário.
Já Ernesto Antunes de Carvalho, advogado e mestre em processo penal, da OAB-SP, percebe como tendência a diminuição do tempo de negociação amigável do crédito. “A paciência das empresas está diminuindo, passou de 90 dias para uma semana. Essa é uma demanda que será enfrentada pelo judiciário”, explicou.