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Lucien Cohen, head das alianças com Global Systems Integrators para Red Hat América Latina

O etarismo e as novas tecnologias

Trabalhadores mais velhos carregam consigo uma bagagem muito valiosa para seus ambientes de trabalho

Autor: Lucien Cohen

O etarismo refere-se à discriminação ou estereotipagem baseada na idade e suas implicações abrangem vários setores da sociedade, incluindo o campo da tecnologia. Esse problema tem sido algo persistente ao longo da história, mas nos últimos anos houve um aumento na conscientização do tema e uma maior discussão sobre o assunto. De forma geral, a sociedade começa a reconhecer que as pessoas mais velhas têm muito a contribuir e que a idade não deve ser um fator determinante na forma como alguém é tratado.

A verdade é que, cada vez mais, devido a avanços da ciência, da medicina, e da tecnologia, as pessoas passaram a ter mais acesso às informações que permitem que todos se cuidem mais e melhor. Ter uma vida longeva exige vários cuidados, desde uma dieta balanceada a uma rotina de exercícios físicos, e nos últimos anos mais indivíduos passaram a reconhecer esses fatores e implementá-los em sua rotina. Nessa linha, em um mundo onde a preocupação com a idade avança e a tecnologia evolui velozmente para auxiliar a qualidade de vida, novas questões desafiadoras surgem no horizonte como saúde mental, bem-estar social e empregabilidade.

Somos de uma geração que vem se preparando melhor para envelhecer. Talvez sejamos a primeira que esteja vendo seus pais e parentes chegarem aos 80, 90, 100 anos de idade. Até por isso, temos uma grande oportunidade de aprender e antever o que queremos para o nosso futuro: a mentalidade de enviar os mais velhos para casa de repouso, como se fosse algo quase mandatório, não funciona mais. Nem tudo que era tido como definido e seguro nos últimos 20 anos irá dar certo nos próximos 3, 5 ou 10. O mundo tem mudado numa velocidade nunca vista e adaptar-se é fundamental para continuar caminhando.

Vivência e experiência: ouça os mais velhos

A idade avançada pode, mas não deveria, limitar o acesso a recursos e serviços, como emprego, moradia adequada, cuidados de saúde e participação em atividades sociais. O preconceito de cabelos prateados pode levar a desigualdades sociais e econômicas, afetando negativamente o bem-estar geral das pessoas mais velhas. Além disso, o estigma associado ao envelhecimento pode levar pessoas a internalizarem ideias negativas sobre si mesmas à medida que envelhecem, causando desencorajamento e criando a percepção de que não se encaixam na sociedade.

O etarismo não prejudica apenas os colaboradores mais velhos que sofrem com o preconceito, mas também as empresas que deixam de valorizá-los ou mesmo contratá-los. Trabalhadores mais velhos carregam consigo uma bagagem muito valiosa para seus ambientes de trabalho: conhecimentos técnicos, habilidades interpessoais, capacidade de liderança e outras aptidões que levam anos para serem desenvolvidas em espaços convencionais. Ademais, essas pessoas têm um conhecimento e uma perspectiva sobre o mercado e a carreira sem iguais, que podem ajudar empresas a tomar melhores decisões e ter um atendimento mais assertivo com clientes de todas as idades. Felizmente, hoje muitas organizações reconhecem os benefícios de uma força de trabalho diversa e inclusiva e promovem a formação de equipes multigeracionais baseadas em práticas de recrutamento que garantem a igualdade de oportunidades entre as todas as idades.

Outro aspecto importante da discussão é a velocidade da atualização tecnológica. É inegável que a tecnologia tem evoluído de uma forma que mesmo os mais jovens não conseguem acompanhar, muitas vezes. Nessa área, entende-se que muitos trabalhadores mais velhos obtiveram conhecimentos únicos ao longo da carreira e que possuem um enorme valor para o ecossistema corporativo O conhecimento de alguns sistemas, práticas e tecnologias antigas — ainda utilizados hoje em dia —, assim como habilidades de resolução de problemas, são alguns dos aspectos que favorecem trabalhadores mais experientes.

Além disso, a escassez de talentos é outra constante na área de TI, o que significa que muitas empresas estão dispostas a contratar trabalhadores mais velhos que tenham as habilidades e a experiência necessária para preencher lacunas em suas equipes de TI do que ter de formar uma nova geração de especialistas do ramo. Trabalhadores seniores, por outro lado, devem fazer a sua parte: manter a curiosidade sempre presente no espaço, querer aprender e adaptar-se às tecnologias tidas como referência.  E por que não fazer uso de soluções emergentes para complementar o conhecimento?

A aprendizagem online, por meio de plataformas e aplicativos móveis, representa uma grande oportunidade para aprimorar e adquirir conhecimentos e se manter afiado e organizado para novas demandas do mercado. Além disso, ferramentas de comunicação, de produtividade e principalmente de redes sociais, podem desempenhar um grande e essencial papel nesse desenvolvimento continuado.

E como nossos governantes podem ajudar a combater esse problema? O ideal é a criação de leis e regulamentações que garantam a igualdade de oportunidades no mercado de trabalho, independentemente da idade. O etarismo é uma questão real e pode limitar as oportunidades de emprego e progressão na carreira para os trabalhadores seniores. Algumas das políticas a serem aplicadas podem incluir:

– Proibição de discriminação por idade, com multa para empresas e responsáveis da área.

– Cultura e educação: Programas de conscientização, treinamento e educação para os empregadores e trabalhadores sobre diversidade etária e inclusão.

– Incentivos fiscais para as empresas que adotam políticas de diversidade etária.

– Pesquisas e monitoramento da implementação de políticas de diversidade etária para avaliar sua eficácia e determinar que outras ações seriam necessárias.

 E a sociedade civil também deve ajudar. Transformar a maneira como enxergamos seniores é um processo gradual, mas se apresenta fundamental para garantir que esses trabalhadores sejam valorizados e tenham acesso às oportunidades oferecidas pelo mercado de tecnologia, sempre em evolução. Valorizar a experiência e as habilidades de colaboradores mais velhos, promover a diversidade etária, desafiar estereótipos relacionados à idade e incentivar a constante educação e reciclagem são algumas das atitudes que cada um de nós, como cidadãos, deveríamos tomar para afastar o preconceito com mechas prateadas e óculos de grau de nossa lista de preocupações contemporâneas.

Respeito e processo: ensinamentos de ontem ainda servem hoje

Apesar desses avanços, o preconceito em relação à idade ainda persiste em muitas áreas da sociedade. Estereótipos negativos sobre idosos continuam a influenciar atitudes e comportamentos. A mudança cultural e a superação completa do preconceito em relação à idade exigem um esforço contínuo por parte de todos os membros da sociedade para desafiar os estereótipos e tratar as pessoas com base em seus méritos e habilidades, independentemente da idade, gênero, cor ou preferência política.

O filósofo grego Aristóteles (384 – 322 a.C.) já havia preconizado, séculos atrás, que o homem é um animal social e que a vida em comunidade faz parte da própria essência humana, em forma de alegria. Nos últimos anos, a ciência tem comprovado o quanto os laços de amizade são fundamentais à sobrevivência e ao bem-estar de todos, o que também podemos chamar de felicidade coletiva. Vínculos firmes estabelecidos entre pessoas de gerações diferentes são também uma forma de combater o etarismo e se tornam importantes tanto para a socialização das pessoas mais velhas, quanto para troca de experiências para as mais novas. Ou seja, a troca é fundamental para o desenvolvimento coletivo.

Meu pai, poucos meses antes de falecer em 2010, me disse: “Aprendemos que respeitando os ensinamentos do passado, temos que nos adaptar ao presente e nos preparar para o futuro”. Essa frase foi depois de alguns copos de whisky, vinda de um homem antenado, do alto de  seus 82 anos. Depois de 13 anos, essa frase não poderia ser mais atual.

Lucien Cohen é head das alianças com Global Systems Integrators para Red Hat América Latina.

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