A distância entre o discurso e a prática



Uma pesquisa realizada em maio deste ano pela consultoria holandesa Quint revelou as dificuldades existentes entre os setores de Tecnologia da Informação e Negócios das empresas. Segundo o estudo, a comunicação entre as duas áreas ainda é deficitária, devido à disparidade de visões que executivos dos departamentos têm sobre os mesmos assuntos.

 

Das conclusões obtidas pelo estudo, a falta de entendimento e comunicação entre as duas áreas e o fato da necessidade constante de o desempenho de TI não ser utilizado para a inovação e crescimento dos negócios da companhia despertam a atenção por serem visivelmente preocupantes. Ao ouvir 64 executivos de TI e mais de 100 gestores de negócios, de companhias de segmentos diversos com faturamento acima dos  ? 100 milhões e orçamento de tecnologia entre ? 50 mil e ? 200 milhões, a consultoria identificou que o alinhamento da tecnologia da informação com a área de negócios por enquanto é só parte dos planejamentos estratégicos das corporações. Em resumo, o discurso ainda não deixou de ser teoria.

 

Como executivo de TI da Aon Affinity do Brasil, corretora especializada no desenvolvimento e gestão de seguros massificados, posso relatar a experiência de uma companhia movida pela inovação na prestação de serviços. A tecnologia é grande aliada das áreas de negócios da empresa, pois suporta desde a análise de bases de dados que orientam a construção dos produtos, até o controle dos processos realizados a sinistros.

 

Para que o alinhamento entre a tecnologia e o negócio da Aon Affinity ocorresse, foi necessário que a área de TI se envolvesse com as rotinas das áreas comerciais, compreendesse seus fluxos de trabalho e a velocidade em que estes se dão. Dessa maneira foi possível que TI baseasse seus recursos e processos de forma a caminhar paralelamente ao negócio.

 

Percebo que parte das dificuldades de alinhamento entre as áreas se deve ao fato de que muitos profissionais de tecnologia necessitarem  de algum tempo para compreender qual é sua  contribuição para as áreas de negócios. A grande maioria destes profissionais não conta com formação voltada para as áreas de negócios durante a graduação, este fator aliado à falta de vivência no segmento em que atua, diminui bastante sua sensibilidade quanto às necessidades de seu cliente. Mais: alguns se escondem atrás de um preconceito oriundo de outros departamentos, que enxerga um profissional de TI distante, portador de uma linguagem própria pouco inteligível e onipotente em suas decisões de estrutura – o que gera grande desconforto entre as áreas.

 

Outra possível causa para a falta de alinhamento entre as áreas de negócios e TI pode ser a forma meramente reativa com que os profissionais de tecnologia freqüentemente atuam. Isso impossibilita que trabalhem no mesmo ritmo em que os negócios se concretizam dentro da corporação.

 

Sugere-se ao profissional de TI que defina para si um novo posicionamento: sentar-se do outro lado da mesa para compreender as necessidades do cliente, interessar-se pelo negócio de um modo global e visualizar os fluxos de trabalho e a velocidade em que acontecem. A implementação da tecnologia não pode ter como fim a própria tecnologia. Em vez de pensar apenas em levar idéias revolucionárias à empresa, é fundamental buscar soluções que apresentem benefícios reais, vislumbrando melhores resultados e contribuição a todos os processos que contribuam para alavancar novos negócios e atender melhor o cliente.

 

Em um passado não muito distante, o profissional de TI não era questionado em suas decisões e atividades. Hoje, o panorama é outro. Ele não pode e não deve justificar a fama de pouco comunicativo, fechado em seu universo tecnológico. Deve fazer-se compreender, cultivar um perfil pró-ativo, mais comercial, de fácil comunicação e relacionamento com clientes e demais áreas da companhia. Sua motivação deve ser a expansão dos negócios e o crescimento da corporação na qual atua. Para isso, é fundamental estar em sintonia com o que está ao seu redor, ser parte da engrenagem, e não uma peça à margem do sistema.

O bom gestor de TI é aquele capaz de tomar decisões alinhadas pela direção estratégica da companhia e gerar impactos sensíveis no negócio. Ele também é capaz de transferir esta capacidade para todos os membros de sua equipe. Só assim o alinhamento entre as áreas de TI e as demais sairá das planilhas, arquivos de power point e discurso de reuniões estratégicas para o dia-a-dia das empresas.

 

Roberto Rubim, superintendente de TI da Aon Affinity do Brasil.

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