Com a virtual saída da China do BRIC, grupo de países emergentes, formado por Brasil, Rússia, Índia e China, nesta ordem, as iniciais formando a palavra BRIC, sugerida pelo criador do termo, o economista do Goldman Sachs, Jim O´Neill, em razão do dinamismo de sua economia (ela já é o quarto maior PIB do mundo, atrás apenas de Estados Unidos, Japão e Alemanha), a sigla perderia o C, relativo à China.
Em mais alguns anos, o Brasil poderá ficar sozinho, em razão de Rússia e Índia seguirem o exemplo da China. Se isso vier a ocorrer, outro grupo de emergentes terá de ser criado, mantendo-se a letra B no nome.
De acordo com O´Neill, que usou o jargão futebolístico, em seu raciocínio, a China, graças a seu espetacular desempenho econômico, registrado nos últimos anos, já faria parte de uma liga esportiva de elite, uma espécie de série A, num hipotético campeonato disputado por nações.
Se a China foi promovida, o Brasil, de acordo com a lógica usada pelo economista do Goldman Sachs, teria de ser rebaixado para a série B. Mas, por ser fundador do BRIC, continuará a disputar o campeonato dessa liga, mas na condição de repetente.
O campeonato de 2006, por exemplo, foi vencido facilmente pelos chineses, com crescimento de 10, 7%; os indianos obtiveram a segunda colocação, com expansão prevista (lá, o ano fiscal termina em março) de 9%. Em terceiro lugar ficou a Rússia que, graças aos preços recordes do petróleo e do gás registrados no ano passado, teve seu PIB acrescido de mais 6,7%. Em último lugar – como, infelizmente, já se tornou rotina – ficou o Brasil, com 2,7% de crescimento.
Na verdade, as diferenças entre Brasil e demais membros do BRIC não se restringem apenas às taxas de crescimento econômico. Rússia, China e Índia são potências nucleares e isso faz com que cada um deles tenha peso e espaço diferenciados na diplomacia mundial e, particularmente, na dos Estados Unidos.
Para compensar, ao menos em parte, o fato de nosso País não ter poderio nuclear, o Itamaraty tem se desdobrado em foros multilaterais de negociações comerciais para aumentar a visibilidade brasileira e do Mercosul no cenário mundial. A recente reabertura das negociações da Rodada de Doha é um bom exemplo do esforço empreendido pela diplomacia brasileira.
Recentemente, porém, duas notícias colocaram o País na defensiva em relação aos demais parceiros do BRIC. Ambas têm a ver com a Índia: no último dia 30 de janeiro, a agência de classificação de risco Standard & Poor´s passou esse país para a categoria de “investment grade”; nesse mesmo dia, a siderúrgica indiana Tata arrematou por US$ 11,2 bilhões, em leilão, a britânica Corus, vencendo a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).
Essa dupla vitória indiana – a compra da Corus pela Tata foi comemorada como se o país tivesse vencido um campeonato mundial de futebol – pode gerar atritos no Grupo dos 20, uma espécie de BRIC ampliado, que é coordenado pelo Brasil. Além disso, na lógica dos grandes negócios, a CSN agora pode virar “caça” no mercado globalizado.
Alguns outros fatores poderão retardar a concessão do status de “investment grade” por parte das agências de risco à economia brasileira: paralisação das reformas estruturais (política, tributária, previdenciária, ao menos a do setor público; e trabalhista). Além disso, é preciso simplificar a burocracia e o excesso de regras no ambiente de negócios.
Por último, é bom lembrar que China, Índia e Rússia, juntamente com os Estados Unidos, são os maiores poluidores do planeta e, por enquanto, têm resistido às pressões internacionais expressas no Protocolo de Kyoto, para diminuir as emissões de poluentes.
Num eventual boicote mundial às atividades industriais poluentes, baseadas em energias sujas, cuja possibilidade não pode ser descartada, o Brasil leva enorme desvantagem em relação a eles por já estar crescendo, desde a década de 80, a taxas bem menores.
Em resumo, se o século 20 ampliou e diversificou a “Visão do Paraíso”, imagem usada pelo historiador Sergio Buarque de Holanda, em livro homônimo, para explicar o milagre de se construir uma nação, com base apenas na dupla monocultura (da cana-de-açúcar e do café), as primeiras décadas deste século poderão congelar o atual nível de industrialização do País.
E isso seria uma catástrofe! Governo, empresariado e sociedade civil precisam se entender para que o País volte a crescer de forma socialmente justa e sem agredir o meio ambiente.
Miguel Ignatios é presidente da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB). Email: [email protected]