Comemoração em grande estilo… e alto nível!


Motivos para comemorar não faltam. Sejam os 10 anos da Revista ClienteSA, a décima edição do Encontro com Presidentes, o sucesso de público, ou mesmo a evolução do mercado de gestão de clientes. Mas o mais gratificante foi o reconhecimento do trabalho desenvolvido ao longo dos anos. De forma unânime, presidentes e profissionais parabenizaram o Encontro e o apontaram como a grande bússola para consolidarem estratégias para o próximo ano.  E esse ano não foi diferente. Realizado no dia 17 de novembro, no Tivoli Mofarrej, em São Paulo, mais uma vez se transformou em palco de reflexão, dessa vez sobre uma transição imprescindível: o Brasil que conhecemos, para um País pronto para competir em cenários globais.

Focados em competência, sustentabilidade e globalização, os painéis foram pautados a partir de cafés da manhã realizados ao longo do ano com presidentes. O cenário apontado é de grandes expectativas. Se depender da visão profissional dos líderes, o Brasil pode se tornar a quarta potência mundial em curto prazo. Ainda sob o termômetro da eclosão das crises econômicas principalmente na Europa, os presidentes não demonstraram falta de motivação para ampliar seus negócios e contribuir com a consolidação e o desenvolvimento do País. A maioria percebe o bom momento que o Brasil passa, sendo, consequentemente, um excelente período para consolidação nacional e empresarial. Também demonstraram preocupação com o meio ambiente, apresentando dados sobre o assunto e comentando como a sustentabilidade está aplicada em seus negócios.

Após os debates e palestras, o encontro seguiu com um coquetel de comemoração, acompanhando do grupo musical Choro Nosso. Outro momento de alegria, e emoção, foram as homenagens dos filhos de alguns presidentes que entregaram aos pais uma edição do livro “Aprendi com meu pai”.

Na contramão do crescimento
Insegurança jurídica breca desenvolvimento das empresas e inibe investimento internacional, impedindo maior avanço econômico do País

Um grande entrave para o crescimento das empresas e, consequentemente, da economia brasileira é a insegurança jurídica. Em um país, onde as leis mudam rapidamente e as empresas precisam se adaptar e readaptar com tamanha frequencia, fica difícil se sentir seguro e amparado pela legislação, na opinião do presidente da OAB-SP, Luiz Flávio Borges D´Urso. “O abuso das medidas provisórias aumenta ainda mais o caos legislativo do Brasil, que peca, ao mesmo tempo pela inconsistência das leis, quanto pelo excesso delas que, algumas vezes, chegam a reger o detalhe do detalhe”, reforça. D´Urso explica que as regras são necessárias para que haja paz social e o indivíduo possa ter sua empresa e prosperar, e ressalva que o caos acontece quando essas regras são mudadas. “Projetamos um negócio, nos certificamos de que, pela lei, tudo correrá bem e, de repente, vem uma medida provisória e altera tudo. Talvez, se tivéssemos essas regras antes, não empreenderíamos porque inviabiliza o negócio. O prejuízo é imenso. Isso quando, além do esforço físico e mental, não há um grande gasto financeiro para se ajustar”, afirma.

No Brasil, o presidente da República chega a aprovar em média cinco medidas provisórias por dia, segundo D´Urso. “Quando urgência e relevância não são os critérios e, as medidas provisórias são usadas no dia a dia, elas perdem o sentido”, afirma o D´Urso. Como agravo ainda existe a possibilidade das medidas urgentes aprovadas no calor do momento serem, posteriormente, percebidas como inconstitucional e revogadas. Metade das medidas de urgência aprovadas no país são posteriormente declaradas inconstitucionais, de acordo com o presidente da OAB-SP. “Sou empresário há 30 anos, e vejo que o Brasil melhorou muito. Somos a oitava economia do mundo. Porém, creio que poucos aqui se sentem nessa posição. A atividade empresarial passou a ser criminaliza. Eu acordo de manhã e tenho que ver qual lei estou infringindo, porque aqui tudo muda o tempo todo”, completa José Roberto Romeu Roque, presidente da Audac e da Aserc, Associação Nacional das Empresas de Recuperação de Crédito.

“Nós sentimos na pele essa insegurança jurídica”, conta Topázio Silveira Neto, presidente da Flex e do Conselho da ABT, Associação Brasileira de Telesserviços. No momento, está em debate legalidade da terceirização do atendimento. “Tivemos que voltar 10 passos para discutir no Tribunal Superior do Trabalho se callcenter é atividade fim ou meio. Empregamos mais de 400 mil pessoas e agora deixamos de pensar nas melhorias do setor por uma falha legislativa”, lamenta Silveira Neto. Na mesma linha, o presidente da Chubb, Acácio Queiroz, relembra que cerca de dois anos atrás muitas empresas do mercado de seguro vieram para o Brasil. “Agora, resolveram mudar a lei deixando as empresas, que se instalaram e investiram no País, totalmente impotentes. Sem dúvida, o grande impasse que temos hoje é a legislação”, pondera.

Outro ponto negativo apontado por D´Urso é quando a medida provisória se torna corriqueira e trava os projetos de lei. “Esse é um dos vários problemas que enfrentemos. Há ainda um desvio de função, por conta do Poder Executivo que, ao invés de reger o país dentro das normas criadas pelo Poder Legislativo, passa a legislar e o Legislativo, ao invés de legislar, por um vicio natural, se vê atraído a realizar funções do Executivo”, afirma. D´Urso ressalta que nesse ciclo, por conta da ausência de perenidade das normas, frequentemente se altera o certo e o errado. O resultado é, além da omissão dos poderes em suas reais funções, desvios éticos, com violações de leis. “Por isso, afirmo: o caminho para um Brasil competente passa pelo combate a corrupção. Cerca de R$ 80 bilhões são desviados por ano no país e esse cenário precisa ser mudado”, comenta Miguel Ignatios, presidente da Fenadvb e da ADVB-SP, Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil. D´Urso afirma que é imprescindível que o sistema controle a quebra das regras. “As leis precisam ser observadas pelo ministério público, seja para preservar quem precisa ser preservado, ou para punir quem precisa ser punido. Só assim o Brasil vai pra frente”, conclui o presidente da OAB-SP. Uma forma de também pôr um fim nesse cenário está na educação, na visão de Giulio Salomone, presidente da Almaviva do Brasil. “O Brasil está crescendo muito, mas poderia crescer mais se não tivéssemos esse cenário de incertezas. Porém, acho que o passo fundamental é investir em educação. É um país jovem que tem muito para evoluir”, opina.

Uma prática necessária… e de resultados
Mais do que uma sociedade equilibrada, sustentabilidade surge como oportunidade para empresas investirem em inovação

“Ser sustentável é manter uma sociedade economicamente próspera e equilibrada social e ambientalmente. Nesse cenário existem grandes oportunidades para as empresas”, afirma Lívio Giosa, presidente do Ires, Instituto ADVB de Responsabilidade Socioambiental. Então é possível alinhar lucro e o bem-estar da sociedade? É possível que uma empresa que desenvolve seus produtos e serviços de maneira sustentável tenha retorno? Sim, uma estratégia não anula a outra. Em pesquisa realizada recentemente pelo Ires, as empresas que investiram em ações sustentáveis tiveram melhoria da imagem da marca, acesso à novos mercados, geração de inovação, redução de custos e fidelização de consumidores.

No entanto, ainda são poucas as que fazem uso dessa prática. De 8.240 empresas pesquisadas em todo o território nacional, 61% não incentiva o corpo funcional para ações de consumo consciente, de acordo com o Ires. Entre os principais pontos que freiam o ingresso das organizações na adoção de práticas ecologicamente corretas estão a resistência dos principais gestores, pensar que os consumidores não valorizam essas iniciativas, as dificuldades de mensurar os benefícios e a falta de conhecimento, recursos e pessoas capacitadas. “Infelizmente, sustentabilidade é um tema do qual se fala muito, mas ainda se conhece pouco. Pensamos que é algo mais complexo do que realmente é. Ser sustentável é simplesmente criar um ciclo”, completa Marcelo Schulman, presidente da VitaDerm. Dentro dessa visão, o executivo garante que ser sustentável vale a pena. “Mas é um beneficio que vem a longo prazo”, explica. Ronaldo Ferraz Cury, vice-presidente da Topema, já vê uma mudança nesse cenário. Para ele, antes quando se mostravam as possibilidades sustentáveis, as empresas se mostravam assustadas. “Hoje esse é um conceito comum”.

Para o presidente do Conselho Nacional de Propaganda e vice-presidente da ESPM, Hiran Castello Branco, as empresas estão pensando a sustentabilidade como um tripé, onde as bases são conceitos econômicos, sociais e ambientais, para progredir sem comprometer as gerações futuras e o equilíbrio natural. “Porém, há quem condene a falta de uma perna nesse triplé: a espiritualidade dos negócios, que promove um grau de conscientização e responsabilidade sobre o conjunto”, argumenta. O presidente do Conselho de Inovação e Competitividade da Fiesp, Rodrigo Loures explica a concepção dessa espiritualidade. “Entendemos que não se trata das práticas religiosas, mas quando falamos em espiritualidade nos negócios, estamos referindo daquilo que temos de melhor na nossa natureza humana, que é a percepção do que é certo e errado. A inteligência que temos embargadas em cada um de nós.” Loures ressalva que se os líderes, ao se valerem dessa inteligência, foram capazes de derrubar as barreiras dentro de si e dentro das empresas que lideram, poderão permitir que o potencial de cada pessoa que faz parte dessa organização possa se manifestar em sua plenitude. “Isso refletirá no resultado operacional e na rentabilidade da companhia”, completa. Castelo Branco comenta ainda que ao olhar para as empresas mais dinâmicas, percebe-se que são negócios que escapam ao modelo convencional onde, para que um seja respeitado, é preciso esmagar os outros. A percepção dele é de que está crescendo a ideia de construir valores compartilhados. “Temos visto jovens deixando posições importantes em companhias de sucesso para se dedicar ao empreendedorismo social, que tem compromisso com o todo. São negócios que dão resultado e geram lucros dentro do modelo capitalista atual”.

Apesar das diferentes opiniões, um ponto é unânime: a urgência das ações. “Cada um de nós líderes, precisamos pensar de forma clara e estratégica o que vamos fazer amanhã para que nós tenhamos um mundo mais sustentável. Não temos mais tempo a perder”, afirma Airton Carline, CEO da Pritchett. Ele reforça a ideia de que sustentabilidade não pode mais ser somente um mote mercadológico. “Temos que fazer isso porque é importante estrategicamente pra nós, para empresa e para o planeta e a consequência disso pode ser vender mais. Não podemos esperar o cliente para que a empresa tome uma iniciativa sustentável”, conclui. Segundo Castello Branco, o mercado ainda está em um estágio de conscientização. “No entanto, apesar de estarmos em uma fase de discurso mais do que prática, não só no Brasil, mas como n o mundo todo, sou bastante otimista em relação ao futuro”, conclui.

O otimismo ainda está presente
Apesar do cenário de incertezas apontado por economista, os líderes estão com boas expectativas em relação ao futuro do Brasil

“O mundo irá acabar em 2012 segundo o calendário maia. As empresas precisam desde já se planejar para isso”, brinca Antonio Cruz, presidente da Graber. No entanto, vale como um aviso. Para o economista Paulo Rabello de Castro, a atual crise da Europa e dos Estados Unidos pode chegar ao Brasil no próximo ano. “Não é porque o Brasil tem reserva de caixa, e isso torna a dívida pagável, que está livre de entrar na crise. O nosso real está no mesmo barco que toda a economia mundial”, alerta. Rabello de Castro esclarece que a crise na Europa é pior do que nos Estados Unidos. “Na Europa o problema é de confiança, ou melhor, de desconfiança”, aponta. De acordo com o economista, no continente, banco nenhum está emprestando para outro banco, muito menos para clientes. “Os bancos não estão depositando mais nem onde deveriam depositar. As instituições preferem não depositar, nem financiar”, comenta. Já nos Estados Unidos, o problema principal é de crédito. Para ele, quando o empréstimo para de crescer, fica mais difícil de sair da crise. Com esse cenário, o conselho do economista é esperar para ver o que acontecerá no Brasil, apesar do País viver um bom momento. “O brasileiro que está exportando deve ter uma atitude mais cautelosa, colocar as barbas de molho, planejar e esperar o que vem pela frente”, recomenda. Segundo o economista, o Brasil é o produto dessa cena macroeconômica, porém está perdido do ponto de vista competitivo. “Será que nós estamos realmente preparados para esse espírito competitivo?”, questiona.

Contrária a opinião de Rabello de Castro, o presidente da NovaQuest e do iGeoc, Instituto de Gestão de Excelência Operacional em Cobrança, Jair Lantaller, vê alguns pontos que irão colaborar para o desenvolvimento do País. “Há uma disposição muito grande do segmento financeiro continuar emprestando. O crédito tem crescido tanto entre Pessoas Jurídicas como Pessoas Físicas. O alerta deve ser com o crédito para consumo, que no ano que vem deve crescer na base dos 17 ou 16%”, estima. Segundo Lantaller, o Brasil lidera o ranking mundial da taxa de juros, o que torna restrito o investimento sob crédito. A esperança do presidente do iGeoc fica em torno do crédito imobiliário. “Também temos boas perspectivas em relação ao financiamento de veículos. A previsão é de que essa carteira, que já é grande, continue crescendo”, aponta. Além disso, Lantaller ressalta o aumento da aquisição de produtos não duráveis e a ascensão das classes C e D como outros motivos para acreditar na evolução da economia brasileira.

Na mesma linha, Dorival Dourado, presidente da Boa Vista Serviços, vê com bons olhos o futuro do país. “A vantagem do Brasil é ter divergência cultural e vitalidade do mercado interno”, pondera. Na opinião de Dourado, a elasticidade do crédito é um fator que colabora para gerar um cenário positivo no país. “Temos algumas coisas para nos preocuparmos, como a inadimplência. Mas precisamos lembrar que o crescimento do endividamento é proporcional ao crescimento do crédito”, ressalta. Mais um ponto que deve manter a economia brasileira em ascensão é o consórcio. Pelo menos esta é a aposta de Fabiano Lopes Ferreira, presidente do Conselho Nacional da Abac, Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios. “Na crise o crédito não se salva, por isso há migração para o consórcio”, opina. De acordo com Ferreira, só neste ano houve crescimento de 23% nos consórcios. “É um sistema importante para vários segmentos da indústria, pois colabora para que as empresas planejem a sua produção, pois passam a ter o cliente ao em vez do produto na prateleira”, justifica. Segundo ele, a principal vantagem é ser um sistema que trabalha com longo prazo, que não paga juros, e as prestações ficam pequenas e cabem no bolso do pagante. “Por isso, acreditamos que vamos manter a trajetória de crescimento”, explica.

Também otimista, Reginaldo Zero, presidente da Fidelity, afirma que hoje o país tem uma estrutura que permite acreditar no seu crescimento. “Não há como não ser otimista no Brasil de hoje, sendo que na década de 1980 o país passou por muitas dificuldades”, confessa. O único fator que preocupa Zero é a política brasileira. “Ela está muito vulnerável e é um ponto fraco do que está acontecendo no Brasil. Se não nos atentarmos, vamos trilhar caminhos perigosos”, alerta. Reginaldo Zero brinca que a cada cinco anos acontece uma crise no Brasil, e afirma que o país irá trilhar um bom caminho nesse período. “Para o equilíbrio do país cabe a cada um construir um Brasil melhor”, aconselha.

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