E o governo chega aos limites da competência

Num interessante trabalho do NOP World, instituto com sede em Nova York que elabora estudos comportamentais, o Brasil ficou abaixo da média mundial de 6,5 horas semanais de tempo dedicado à leitura. E, o que é mais grave, com apenas 5,2 horas, posicionou-se em 27º dentre os 30 países focados. A pesquisa ouviu 30 mil pessoas com mais de 13 anos. No caso brasileiro, apontou, de forma aguda, uma tendência de se despender menos tempo à leitura do que à televisão, ao rádio e à internet.


 


Claro que é importante o acesso às mídias eletrônicas, em especial aos programas informativos, culturais e noticiosos do rádio e da TV e aos sites de conteúdo educativo e informativo. Porém, é inegável o significado da mídia impressa – em especial livros, jornais e revistas – para a formação de uma sólida base educativa e cultural e o ingresso de uma nação no mundo desenvolvido.


 


É inquestionável. Para quem conhece o mercado editorial, os dados do NOP World não causam surpresa. Apenas referendam as estatísticas dos índices de leitura no Brasil, que continuam abaixo dos verificados em outras nações emergentes e muito distantes quando comparados com países desenvolvidos. Recente pesquisa do Ministério da Cultura revela que as editoras brasileiras estimam a venda de 178 milhões de livros em 2005. Esse total exclui os cerca de 100 milhões de volumes anuais comprados pelo Governo Federal no âmbito do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Assim, basta uma conta de dividir para constatar que cada um dos 180 milhões de brasileiros, na média, não chega a comprar espontaneamente sequer um livro por ano.


 


Reverter este quadro é fundamental. Trata-se de um dos desafios do processo de desenvolvimento, consubstanciado nas promessas de crescimento sustentado da economia, mais atenção ao social, à cultura, à educação e aos programas de inclusão social. Mais uma vez, contudo, as prioridades da Nação esbarram na incapacidade gerencial que permeia o Estado.


 


Confiando nas boas intenções do presidente Luiz Inácio Lula da Silva quanto à realização do programa de governo que anunciara – e também na sua inocência em meio ao mar de lama no qual alguns políticos e gestores públicos parece chafurdar -, é impossível acreditar que esteja em condições de impor ao seu quadro de ministros ação programática voltada ao crescimento, à criação de empregos e à inclusão socio-econômica e cultural, na medida em que se parece mostrar incapaz de diagnosticar manobras sub-reptícias intra e extragoverno.


 


Tom Peters, um dos gurus mundiais da área de administração, acentua que cada pessoa tem um limite de capacidade para determinadas tarefas ou missões. Nelas são brilhantes; além delas tornam-se comuns ou ineficazes. É o caso de alguns governantes, ministros, presidentes e diretores de companhias de economia mista e políticos, eficazes em suas atividades profissionais e classistas de origem, mas pouco eficientes na gestão da coisa pública. No Brasil, com seus 180 milhões de habitantes, graves gargalos socio-econômicos e uma predisposição histórica à corrupção, os desafios parecem transcender os limites da competência governamental.


 


Em meio a uma conjuntura mundial altamente favorável às exportações e ao crescimento econômico, um governo estabelecido por estrondosa vontade popular e respaldado por expressivo índice de aprovação (agora já declinante) começa a perder histórica oportunidade de trilhar um atalho de eficácia entre o Brasil da mesmice comezinha e o vaticínio de “potência do futuro”.


 


Milton Mira de Assumpção Filho é diretor da Editora M. Books e membro da Academia Brasileira de Marketing

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